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CuLturA<br />
eduardo Lourenço abriu o ciclo acompanhado por Filipa melo (escritora), rui machete<br />
e Abílio hernandez (Faculdade de Letras da universidade de Coimbra).<br />
dantes com o objectivo de assistirem às<br />
sessões. Vários docentes dessas universidades<br />
são também convidados a intervir nas<br />
sessões do ciclo, nomeadamente participando<br />
na condução do debate com o público.<br />
A relação entre Fernando Pessoa e Walt<br />
Whitman foi analisada por Richard Zenith,<br />
tradutor e ensaísta norte-americano e<br />
importante investigador pessoano há anos<br />
a residir em Portugal.<br />
“Asas sobre a América – Wings over<br />
America” acompanha um esforço recente<br />
de edição em língua portuguesa de inúmeras<br />
obras fundamentais da literatura<br />
norte-americana. o ciclo afirma-se como<br />
incentivo ao debate criativo sobre o que<br />
poderá unir a ficção e a poesia portuguesas<br />
contemporâneas a um legado da literatura<br />
norte-americana. Serve também de<br />
incitação para um entendimento daquilo<br />
que, na sessão inaugural, o filósofo e ensaísta<br />
Eduardo Lourenço definiu como “um<br />
continente futurante”, referindo-se sobretudo<br />
ao contributo dos Estados Unidos<br />
para uma mitologia planetária. Ao longo<br />
de cinco meses, a América, como “uma<br />
espécie de realidade objectiva incontornável”,<br />
surgirá reflectida no olhar subjectivo<br />
de criadores que, do lado de cá do<br />
Atlântico, colheram na melhor literatura<br />
norte-americana noções, inquietações,<br />
memórias e fascínios vários. Através do<br />
dinamismo desses trânsitos literários, saúdam-se<br />
possíveis irmandades, como a que<br />
levou o engenheiro e poeta sensacionista<br />
Álvaro de Campos a meter esporas e a<br />
convidar Whitman, “lá do outro mundo”,<br />
para uma dança furiosa, exclamando:<br />
“Meu velho Walt, meu grande Camarada,<br />
evohé!”<br />
sessão do ciclo “Asas sobre a América” no auditório da FLAD.<br />
> Philip Roth pinta um quadro geral,<br />
mas não esquece os pormenores. Os<br />
grandes e os pequenos movimentos da<br />
mão. Como falar do organismo e ainda<br />
da História, eis duas das tarefas de Roth.<br />
Ligadas de modo improvável.<br />
GonçALo m. tAvAres<br />
> Ezra Pound encontra-se de forma<br />
manifesta em alguns poemas que escrevi,<br />
mas tenho razões para suspeitar de que<br />
está presente em muitos mais sem ser<br />
visível em parte nenhuma deles.<br />
mAnueL António pinA<br />
> Com The Heart is a Lonely Hunter, de<br />
Carson McCullers, descobri que a<br />
adolescência é eterna e que a poesia<br />
pode nascer da limpidez da prosa.<br />
inÊs peDrosA<br />
> Walt Whitman, autor de Canto de Mim<br />
Mesmo, ajudou Pessoa a libertar-se de<br />
si próprio e para si próprio.<br />
riChArD zenith<br />
> Admiro profundamente a obra de<br />
William Faulkner. Não conheço outro<br />
escritor que melhor tenha entrado no<br />
coração profundo dos homens. Ainda por<br />
cima, relê-lo é surpreender a própria<br />
escrita na fonte da modernidade.<br />
LÍDiA JorGe<br />
> O mais fascinante em Flannery<br />
O’Connor é talvez a ilustração ao mesmo<br />
tempo cruel e compassiva dos caminhos<br />
ínvios para a salvação.<br />
peDro mexiA<br />
> “Habito a Possibilidade, uma Casa<br />
mais bela do que a Prosa”, declarou a<br />
maior poeta de língua inglesa. Emily<br />
Dickinson escreve uma poesia em que<br />
se propõe dizer toda a verdade, mas de<br />
forma oblíqua, e assim antecipa o radical<br />
gesto moderno do fingimento poético.<br />
“O meu ofício é a Circunferência”, disse<br />
ainda – que melhor cartão de visita?<br />
AnA LuÍsA AmArAL<br />
> Saul Bellow começa por ser uma voz,<br />
uma grande voz, que conversa comigo.<br />
E me faz aceitar um bocadinho mais o<br />
humano terno e ridículo e vivo que há<br />
em mim. (Nem sempre é fácil.)<br />
rui zinK<br />
<strong>Paralelo</strong> n. o 2 | PRIMAVERA | VERÃO 2008 45