Volume 4 - TARANTINO - Via: Ed. Alápis
Volume 4 - Tarantino
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Esse conceito musical que amarra a narrativa já estava presente, de maneira<br />
mais discreta, em Cães de Aluguel, com o programa de rádio que toca sucessos<br />
dos anos 1970 adornando a violência que vemos na tela. Reaparece em<br />
Pulp Fiction, cuja trilha foi um dos maiores sucessos de venda da história,<br />
alternando surf music, baladas e funk, e cresce ainda mais com Jackie Brown,<br />
no qual a música negra dos anos 1960 e 70 comanda as explosões de<br />
sentimentos dos personagens (a música dos Delfonics faz com que Max se<br />
lembre de Jackie, e a de Bobby Womack faz Jackie, e talvez o espectador,<br />
lembrar-se de momentos tocantes e chorar).<br />
Kill Bill – <strong>Volume</strong> 1 é, portanto, a coroação da experiência musical de um dos<br />
diretores que melhor soube explorar o apelo da música pop em seus filmes. A<br />
música pop em Kill Bill vem também do próprio cinema. Desse modo, Ennio<br />
Morricone, Luis Bacalov e Riz Ortolani convivem com Charlie Feathers,<br />
Human Beinz e Santa Esmeralda, na festa do ritmo promovida por Tarantino.<br />
Ritmo é a palavra. Se há algo perfeito em Kill Bill – <strong>Volume</strong> 1, é justamente<br />
o ritmo. Dosando os tempos quase mortos com diálogos triviais e a ação<br />
frenética que se desenvolve nos confrontos, Tarantino conseguiu fazer com<br />
que seu álbum pop tivesse um rock seguido de uma balada, depois de uma<br />
canção bem melancólica que é seguida de um novo rock, para depois iniciar<br />
uma levada bem lounge (com a flauta fazendo a principal melodia), seguida<br />
de um funk de rachar o assoalho, e assim por diante. As vozes entram como<br />
pequenos interlúdios, como narrações em um disco conceitual de rock<br />
progressivo (estilo representado no filme pela banda alemã Neu e pelas<br />
faixas de Luis Bacalov e Riz Ortolani). A alternância de estilos musicais<br />
orienta o ritmo perfeito do primeiro volume e faz com que sua duração se<br />
torne um bálsamo para quem tem ouvidos bem abertos e olhos livres.<br />
A síntese e o brilho esmaecido<br />
Não só na parte musical (ou melhor, na conjunção entre música e imagem),<br />
mas também no estilo, podemos dizer que Kill Bill – <strong>Volume</strong> 1 é uma síntese<br />
da carreira de Tarantino. É o resultado de todas as suas obsessões, de anos<br />
106 MONDO <strong>TARANTINO</strong>