06.02.2017 Views

Volume 4 - TARANTINO - Via: Ed. Alápis

Volume 4 - Tarantino

Volume 4 - Tarantino

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

gerações de espectadores habituados a consumi-la com um distanciamento<br />

lúdico. Ao mesmo tempo, sem que houvesse aparentemente nenhum<br />

caráter de “denúncia” (como Stanley Kubrick havia feito em Laranja<br />

Mecânica), fornecia munição a todos os que viam nesse procedimento<br />

estético um expediente que, por repetição, contribuiria para banalizar a<br />

violência da sociedade contemporânea.<br />

O estranhamento provocado pela brutalidade nas imagens do “primeiro<br />

Tarantino” está diretamente associado ao que se ouve. Já se mencionou<br />

aqui o uso de música na cena da mutilação de Cães de Aluguel, cuja sequência<br />

de créditos iniciais, também célebre, combina imagens em câmera lenta<br />

da quadrilha contratada por Joe Cabot (Laurence Tierney) com a entrada,<br />

na banda sonora, de um disc-jóquei de rádio que apresenta a canção Little<br />

Green Bag. Em Pulp Fiction, o trabalho de discotecagem pop é mais amplo,<br />

desde o uso da instrumental Misirlou nos créditos de abertura até a “pesca”<br />

de antigos hits como Son of a Preacher Man e Girl, You’ll Be a Woman Soon. Mais<br />

do que somente fornecer um contraponto musical inusitado a cenas de<br />

violência, a arqueologia musical empreendida por Tarantino buscava,<br />

nesses dois filmes, reviver nostalgicamente a atmosfera de um período do<br />

qual os personagens parecem ter vindo, localizado em alguma confluência<br />

simbólica (cinematográfica, decerto, ou talvez televisiva, à moda da série<br />

Além da Imaginação, de Rod Serling) entre as décadas de 1970 e 1980.<br />

Outros filmes e cineastas já haviam recorrido ao repertório pop dessa mesma<br />

época, como Sem Destino – com sua célebre sequência de créditos musicada<br />

por Born to Be Wild – e em filmes como Caminhos Perigosos e Os Bons Companheiros.<br />

No “primeiro Tarantino”, a garimpagem sugere personalidade, intervenção<br />

autoral, como se os filmes fossem dirigidos por um DJ em busca de imagens<br />

e situações que possibilitassem a ele usar certas canções. A sensação é<br />

fortalecida pela integração entre essas canções – selecionadas a partir de um<br />

repertório eclético, mas distintivo – e outra música, essa criada integralmente<br />

pelo diretor-DJ: a dos diálogos. Nesse aspecto criativo, a sensação de<br />

originalidade era mais clara. O prólogo de Cães de Aluguel, em que a quadrilha<br />

O ADVENTO DE <strong>TARANTINO</strong>: O IMPACTO DE UM TALENTO SINGULAR<br />

21

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!