Volume 4 - TARANTINO - Via: Ed. Alápis
Volume 4 - Tarantino
Volume 4 - Tarantino
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
também dos recentes Mandando Bala e O Homem da Máfia, que comprovam a<br />
persistência dessa abordagem. Curiosamente, casos exemplares de violência<br />
pornográfica acabaram hoje efetivamente e oficialmente vinculados ao<br />
nome de Tarantino, como os filmes da série O Albergue, firmando-o como<br />
arauto supremo da ultraviolência estetizada e essa característica como<br />
definidora de sua obra para o senso comum. Mas essa ultraviolência<br />
estetizada, vale ressaltar, não é particularmente tarantinesca – ou melhor,<br />
já em sua obra é referencial, a fontes tão distintas quanto o faroeste à<br />
italiana e o de Peckinpah, ao filme de samurai e ao de kung fu, aos yakuza<br />
eiga dos 1970 de Kinji Fukasaku e dos 1990 de Takeshi Kitano e também aos<br />
policiais de Hong Kong de Ringo Lam e John Woo. Sobre Woo, aliás, vale<br />
lembrar que ele realmente deve muito de sua descoberta pelo ocidente (e<br />
por Hollywood, que tratou de rapidamente coopta-lo) a Tarantino, que<br />
promoveu seus filmes nos Estados Unidos. E, nesse sentido, Mandando<br />
Bala – como paródia de John Woo que já é um revival de sua descoberta pelos<br />
americanos contemporânea a Cães de Aluguel – ou Drive – como “homenagem”<br />
a Corrida Contra o Destino e A Outra Face da Violência, referências de Tarantino<br />
reaproveitadas aqui sob outra roupagem – mostram o alcance atual da<br />
influência tarantinesca sobre o cinema hollywoodiano posterior. Uma<br />
influência tão presente e marcante que já permitiu o deslocamento da<br />
referência imediata ao seu cinema para a referência de segundo grau às<br />
fontes daquele cinema.<br />
Portanto, quando são buscadas evidências da influência de Tarantino<br />
sobre todo o cinema norte-americano posterior, quando são apontadas<br />
as inúmeras características de seus filmes que foram apropriadas por<br />
outros cineastas, é fundamental sempre ter em mente que essas mesmas<br />
características, muito provavelmente, já foram anteriormente apropriadas<br />
pelo próprio Tarantino de outros cineastas. Essa recorrência é apenas<br />
sintoma do típico ciclo de apropriações que move a indústria cultural:<br />
todos “roubam” de Tarantino, que “rouba” de todos. O processo segue em<br />
curso a todo vapor e inúmeros filmes dos últimos vinte anos continuaram<br />
a combinar violência e humor, banalidade e espetáculo, referências pop e<br />
144 MONDO <strong>TARANTINO</strong>