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Volume 4 - TARANTINO - Via: Ed. Alápis

Volume 4 - Tarantino

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Orson Welles. 4 Quando Tarantino retoma um plano de Sergio Leone, um<br />

pedaço da trilha sonora de Um Tiro na Noite de Brian De Palma, ou uma musa<br />

da blaxploitation, ele não opera apenas na lógica do remix e da reciclagem: ele<br />

desloca as referências e reinventa a imagem, o som e os corpos evocados.<br />

Pam Grier, Robert De Niro e Robert Forster, em Jackie Brown (1997), são os<br />

mesmos atores vistos quinze ou vinte e poucos anos antes em Coffy, Taxi Driver<br />

e Os Vigilantes. Mas são já outra coisa, outro rosto, outro tempo. Tarantino<br />

explora neles novas capacidades dramáticas que se deixam ver sob as<br />

marcas das personagens anteriores. É como se olhássemos para o retrato de<br />

uma pessoa já conhecida há muito tempo e descobríssemos um traço que,<br />

embora nunca tivéssemos notado, constitui a própria essência dessa pessoa.<br />

O trabalho de Tarantino ultrapassa em muito o efeito de superfície (da<br />

imagem, do rosto): ele organiza suas referências com sabedoria, a começar<br />

pelas escolhas de elenco (o casting é encarado por ele como arte, como estilo<br />

autoral intransferível).<br />

Os filmes de Tarantino não possuem a palidez de um cinema post mortem;<br />

tampouco se esgotam no fetichismo da maquiagem vintage. Suas imagens<br />

pulsam, percutem na mente do espectador, eletrizam a plateia. Não estamos<br />

no terreno do que Jean Baudrillard qualificava como “prazer funcional e<br />

equacional” referindo-se a filmes (bons filmes, diga-se) como Chinatown, que<br />

ele afirmava ser “o polar redesenhado a laser”, ou A Última Sessão de Cinema,<br />

que parecia um melodrama dos anos 1950 ambientado numa cidade pequena<br />

americana, mas “era um pouco bom demais, mais bem ajustado, melhor que<br />

os outros, sem as bravatas psicológicas, morais e sentimentais dos filmes<br />

da época. Confusão quando se descobre que é um filme dos anos 70, perfeito<br />

retrô, expurgado, inoxidável, restituição hiper-realista dos filmes dos anos<br />

50. [...] Todas as radiações tóxicas foram filtradas, todos os ingredientes<br />

estão lá, rigorosamente doseados, nem um só erro”. 5<br />

4 SIMSOLO, 2005, p. 425.<br />

5 BAUDRILLARD, 1991, p. 62-63.<br />

46 MONDO <strong>TARANTINO</strong>

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