Volume 4 - TARANTINO - Via: Ed. Alápis
Volume 4 - Tarantino
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ao lado do criminoso, contra o policial ou qualquer tipo de autoridade.<br />
Basta pensarmos na cena de rebelião na prisão seguida da fuga de Mickey e<br />
Mallory Knox (Assassinos por Natureza). No caso do episódio de CSI, trata-se de<br />
um verdadeiro feito. Afinal, é um melodrama policial por excelência. Esse<br />
terreno é bastante diverso daquele em que Tarantino costuma trabalhar.<br />
<strong>Via</strong> de regra, seus filmes se centram nos criminosos. Ao contrário do que<br />
acontece no gênero policial, seus herois são os fora da lei. Entretanto<br />
seus filmes também não se inserem no gênero gângster, posto que este<br />
frequentemente transmite lições morais através da ascensão e da queda de<br />
um criminoso. Em Tarantino, os criminosos não se dão mal, pelo contrário.<br />
Daí seus filmes poderem ser identificados a um outro gênero, o “filme de<br />
crime urbano” 10 .<br />
No episódio de CSI, Tarantino se vê num impasse. Nesse contexto, é<br />
impossível inverter a perspectiva, colocando o criminoso no centro da cena<br />
enaltecendo suas virtudes. O espectador da série conhece seus personagens<br />
há 5 anos e um revés desse seria inviável. Embora Tarantino esteja lidando<br />
com uma estrutura razoavelmente dura, ele consegue encontrar uma<br />
brecha. Em Perigo a Sete Palmos, o criminoso não se dá mal, tampouco se<br />
regenera. O sequestrador Walter Gordon cumpre seu plano inicial: explode<br />
a si mesmo, acabando com seu sofrimento pessoal e também com qualquer<br />
possibilidade de seu depoimento contribuir para encontrar Nick. Para<br />
Gordon, morrer é a saída encontrada desde o princípio. Em sua última<br />
aparição, não era ele que estava encurralado, mas Grissom, que assistiu de<br />
longe a explosão.<br />
Além do enredo, há uma cena que quase passa batida, mas que é bastante<br />
reveladora da autoria de Tarantino. No vestiário, Warrick conta um “causo”<br />
do fim de semana a Nick. A história não contribuirá em nada para o<br />
desenvolvimento do enredo. Ela não cumpre qualquer função explicativa. É<br />
como se Tarantino quisesse nos mostrar que também os CSI tem histórinhas<br />
10 A expressão foi emprestada de Mauro Baptista. Ver “O Cinema de Quentin<br />
Tarantino”, de Mauro Baptista Vedia, p. 117.<br />
Tarantino na TV: sobre os episódios Maternidade e Perigo a sete palmos<br />
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