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Volume 4 - TARANTINO - Via: Ed. Alápis

Volume 4 - Tarantino

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Em um artigo recente, Emiliano Morreale diz que o termo mais adequado<br />

para caracterizar a relação do cinema contemporâneo com o passado não<br />

é mais retrô, revival ou nostalgia, mas vintage. 1 Para ele, filmes como Super<br />

8,O Artista e Drive tratam a história do cinema como um “guarda-roupa”,<br />

isto é, uma reserva de peças que podem ser escolhidas de acordo com a<br />

festa à fantasia a que se pretende ir. O que se traduziria, nos filmes, “por<br />

uma abordagem do cinema do passado que não implica mais relações<br />

conflituosas ou de concorrência, de ‘angústia de ser influenciado’”. 2 No<br />

começo dos anos 1980, quando Coppola ou Wim Wenders tentavam refazer<br />

um plano de Nicholas Ray, havia um sofrimento implícito nesse gesto, um<br />

peso da história. Tal dificuldade de filmar era provocada pela consciência do<br />

passado do cinema, assim como uma nostalgia do classicismo, da inocência<br />

irrecuperável. Hoje é “o fetichismo do objeto que triunfa”: nenhuma<br />

angústia, nenhuma melancolia crepuscular, mas antes o prazer cool de<br />

recombinar os signos e de potencializar os efeitos. As formas, desligadas de<br />

seus referentes ou de seus significados originais, tornam-se mais maleáveis,<br />

mais propícias ao pastiche e ao simulacro. No caso específico de Tarantino,<br />

segundo Morreale, “os anos 1970 se tornam uma main form, porém privada<br />

de qualquer referente histórico real. O passado, que é essencialmente uma<br />

imagem, é antes de tudo fonte de coolness, mais que de nostalgia”. 3<br />

Para cada filme Tarantino constrói um universo, um cenário composto de<br />

signos extraídos das mais diversas referências cinéfilas, uma ambiênciaimagem<br />

arquitetada como um patchwork de estilos e materiais heterogêneos.<br />

É preciso, todavia, ressaltar que ele não se limita ao fetichismo nem ao<br />

mimetismo estéril de fanboy aficionado por desenhos animados, séries<br />

televisivas cult e cinema de gênero. Seu cinema, como Noël Simsolo definiu<br />

muito bem, provém de uma alquimia que reúne os “diversos elementos que<br />

constituem o tecido cultural de uma época”, inserindo-se numa tradição<br />

de colagem modernista e de consciência das formas que remete a Godard e<br />

1 MORREALE, 2011, p. 17.<br />

2 Ibid., p. 18.<br />

3 Ibid., p. 18.<br />

A JUKEBOX DE <strong>TARANTINO</strong><br />

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