#PsicologiaCiclismo Como sabemos, a ansiedade em excesso conduz a perdas de concentração, a erros de percepção, a problemas de coordenação e a sentimentos de cansaço. Se eu nunca tiver aprendido a lidar com determinada situação e não a tiver ensaiado ou tenho a chamada sorte de principiante ou, então, o mais provável é que as coisas corram mal e não adianta esperar por um milagre. Quantos atletas já não procuraram a minha ajuda profissional pois fazem treinos excepcionais, mas em competição falham. No entanto, se não sentirem qualquer tipo de responsabilidade as coisas mudam e são capazes de desempenhos fantá-sticos. Este facto não tem que ser uma fatalidade sem remédio. Basta atentar em determinados indicadores de activação fisiológica (frequências respiratória e cardíaca, suda-ção, etc.). Estes sintomas que fisiologicamente estão bem identificados podem revestir inúmeras formas comportamentais, algumas até contraditórias, consoante o atleta (assim, antes de uma prova temos atletas que procuram o convívio com os outros falando sem parar, temos os que se isolam e não falam com ninguém, temos os que preferem ouvir música, lêr o jornal, etc.). É, assim, importante o conhecimento aprofundado e individua-lizado de cada atleta, bem como uma monitorização constante do que se passa em cada momento. Os indicadores fisiológicos atrás referidos são elicitados, sobretudo, pelos pensamentos de medo de falhar e da avaliação pelos outros, que surgem quando enfrentamos situações de desafio percepcionadas como ameaças. Esses indicadores são, no fundo, semelhantes àqueles que sentimos no nosso dia-a-dia quando enfrentamos uma nova situação, quando temos exames ou testes para fazer, etc. Podemos, grosso modo, Treinamos fisicamente para aumentar a resistência, mas pensamos que a “resistência mental” ou a tenacidade mental, como a denomino, vem por acaso. É preciso tempo consistência e persistência para treinarmos o nosso “músculo” mental. dividir a ansiedade em positiva e negativa: é importante um certo grau de ansiedade para conseguirmos dar res-posta às situações com que nos confrontamos no nosso dia-a-dia, contudo se essa ansie-dade ultrapassar um determinado nível em vez de ter um efeito positivo, os seus efeitos são negativos prejudicando o nosso desempenho. Simplificando, podemos assumir que há um nível individual de ansiedade óptimo que não é estático variando de acordo com o momento de forma, a competição, etc. e que idealmente o atleta deve conseguir identifi-car, recorrendo se necessário à ajuda do psicólogo. Para diminuir a ansiedade podemos intervir sobre os pensamentos e sobre os sintomas fisiológicos. De entre as técnicas mais importantes à nossa disposição para o fazer temos: o controlo e modificação de pensamentos; o relaxamento e a respiração diafragmática. Há assim que trabalhar e regular o nível de ansiedade de cada atleta para cada prova específica. Mas isto não se aprende de um momento para o outro e necessita de trabalho continuado! A acrescer a tudo isto há ainda que considerar como os ciclistas lidam com o que acontece em cada etapa procurando manter o espírito de sacrifício, coordenando os objectivos individuais com os da equipa, “isolando” os possíveis erros cometidos e respeitando as indicações nutricionais e em relação aos períodos de descanso. Como refere John Milton, na sua obra, Paraíso Perdido “The mind is its own place, and in itself can make a Heav’n of Hell, a Hell of Heav’n. 40 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
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