Gestão Hospitalar N.º 10 2017
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Devido à falta de um registo centralizado de todos os físicos médicos<br />
a exercer a profissão, quer no sector público quer no privado,<br />
uma vez que apenas os Especialistas em Física <strong>Hospitalar</strong> a exercer<br />
em funções públicas ou os profissionais equiparados a Especialistas<br />
em Física Médica se encontram registados na base de dados<br />
da ACSS, existem neste momento vários profissionais<br />
(a maior parte dos físicos médicos em Portugal) a exercer sem<br />
que o Estado Português tenha qualquer controlo sobre<br />
a sua competência ou grau de formação para o fazer.<br />
de Intervenção, e, em alguns casos, em países cujos processos<br />
de certificação e formação dos físicos médicos também<br />
se encontravam deficientes na altura dos acontecimentos.<br />
São disso exemplo os acidentes (nomeando os mais recentes)<br />
de Lyon, 2004 (Radioterapia Externa, 1 morto); Epinal,<br />
2004-2005 (Radioterapia Externa, 1 morto, 23 pacientes<br />
envolvidos com lesões graves); Los Angeles, 2008-2009<br />
(Radiologia, vários pacientes com queimaduras graves por<br />
radiação e alopécia localizada); Escócia, 2015 (Radioterapia<br />
Externa, 1 doente recebeu o dobro da dose de radiação pretendida);<br />
etc.<br />
Os inquéritos levados a cabo pelas várias instituições<br />
envolvidas nestes acidentes (e.g. Agência Internacional<br />
de Energia Atómica, IAEA) concluem que as causas destes<br />
acidentes assentam principalmente em dois fatores: falta<br />
de treino adequado dos profissionais e número de profissionais<br />
inferior ao necessário (“staffing levels”), nomeadamente<br />
no grupo profissional dos físicos médicos.<br />
Tal como noutras profissões, é desejável que o físico<br />
médico trabalhe acompanhado pelos seus pares, de modo<br />
a que todos os procedimentos possam ser verificados, que<br />
a implementação de novas técnicas, de complexidade crescente,<br />
possam ser discutidas, etc. Apesar de existir na legislação<br />
nacional (Dec.-Lei 180/2002, a ser revista em breve)<br />
bem como na legislação europeia a indicação do número<br />
mínimo de físicos médicos nas várias valências (Radioterapia,<br />
Medicina Nuclear e Radiologia/Radiodiagnóstico),<br />
verifica-se que esta ainda não é cumprida a nível nacional.<br />
Devido à falta de um registo centralizado de todos os<br />
físicos médicos a exercer a profissão, quer no sector público<br />
quer no privado, uma vez que apenas os Especialistas<br />
em Física <strong>Hospitalar</strong> a exercer em funções públicas ou os<br />
profissionais equiparados a Especialistas em Física Médica<br />
se encontram registados na base de dados da ACSS,<br />
existem neste momento vários profissionais (a maior par-<br />
te dos físicos médicos em Portugal) a exercer sem que o<br />
Estado Português tenha qualquer controlo sobre a sua<br />
competência ou grau de formação para o fazer. Esta situação<br />
é insustentável, como já constatada noutros países<br />
europeus há vários anos e reclama urgentemente uma revisão<br />
de toda a legislação de forma a recomeçar a formação<br />
específica destes profissionais, tal como sucedeu em<br />
França após o trágico acidente de Epinal, em 2004 e 2005.<br />
Tendo em conta os argumentos acima, para além da regularização<br />
do processo formativo dos físicos médicos em<br />
Portugal, é desejável a criação de Serviços de Física Médica<br />
nos Hospitais, principalmente naqueles que têm mais<br />
do que uma valência onde a Física Médica é obrigatória.<br />
Nos hospitais que possuem um Serviço de Física Médica<br />
centralizado é possível responder às solicitações dos vários<br />
sectores de forma integrada e com elevado nível de<br />
qualidade. Esta integração, já existente em vários hospitais<br />
a nível europeu, permite a redistribuição de recursos<br />
humanos por várias áreas em períodos de férias, de ausências<br />
prolongadas, de integração do serviço assistencial<br />
com a investigação, etc. Este modelo de organização permite<br />
igualmente a centralização de serviços importantes<br />
tais como a gestão dosimétrica individual dos trabalhadores<br />
profissionalmente expostos, avaliação das condições<br />
de trabalho com radiações e aperfeiçoamento das práticas<br />
de trabalho, homogeneizar as práticas, discussão a nível<br />
nacional de vários problemas e suas soluções, etc.<br />
Como conclusão, podemos afirmar que a situação da<br />
Física Médica em Portugal neste momento apenas pode<br />
melhorar se se apostar na formação e certificação dos físicos<br />
médicos pelos serviços centralizados da Saúde. Esta<br />
melhoria evitará situações de risco grave, que felizmente,<br />
e apesar de tudo, não ocorreram no nosso país, quer para<br />
os profissionais que trabalham diariamente com radiações<br />
ionizantes, quer para os doentes.<br />
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