Gestão Hospitalar N.º 10 2017
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na definição de quais as mudanças que são de baixo risco e<br />
quais são as de risco elevado”, explicou, sugerindo que devem<br />
começar pelas “mudanças de menor impacto”.<br />
“A minha sugestão é que comecem primeiro pelas<br />
mudanças de baixo risco - como o registo eletrónico,<br />
a centralização de processos nos doentes, cuidados<br />
integrados − pois estas preparam o terreno para<br />
as mudança de alto risco, preparam a cultura para o que<br />
está para vir”, justifica, avisando que, em última instância,<br />
os políticos terão mesmo de passar por uma fase de maior<br />
pressão: “Chegará o momento em que terão de empurrar<br />
o sistema para uma direção diferente, com a integração<br />
dos cuidados sociais e de saúde, integrar os<br />
cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares.<br />
São missões mais complicadas, mas necessárias<br />
para que o sistema sobreviva, pois, são as únicas áreas em<br />
que mudando conseguimos tornar o sistema mais eficiente.”<br />
Quanto a prazos, Rafael Bengoa sublinha que o mais<br />
importante é dar início, o quanto antes, a este processo,<br />
mas esclarece que “percorreremos sempre um período<br />
de <strong>10</strong> ou mais anos até que se consiga reformular<br />
o sistema”.<br />
Também Miklós Szócska realçou a importância<br />
dos políticos na mudança que tem de ser operada,<br />
trazendo à audiência uma visão apocalítica: “Ou fazemos<br />
a mudança e nos adaptamos, ou o sistema que conhecemos<br />
desaparecerá”, vaticinou, deixando aos presidentes<br />
dos conselhos de administração presentes a sugestão de<br />
envolver a classe política nas mudanças necessárias.<br />
Miklós Szócska acredita que a reforma dos sistemas<br />
de saúde um pouco por toda a Europa depende<br />
umbilicalmente da utilização que os estados estejam<br />
dispostos a fazer do big data, ou seja, dos dados<br />
armazenados sobre o sistema e que muitas vezes não têm<br />
qualquer leitura por parte das autoridades competentes.<br />
Na sua palestra sobre a “<strong>Gestão</strong> da mudança para<br />
a sustentabilidade dos sistemas de saúde” defendeu<br />
ser necessário ultrapassar a imagem antidemocrática<br />
muitas vezes associada ao big data. “Quando falamos neste<br />
conceito, muitas pessoas recordam a experiência dos estados<br />
totalitários, que recolhiam a informação para controlar<br />
tudo”. Afirma que não gosta dessa visão totalitária e orwelliana<br />
do conceito, reiterando que a informação disponível<br />
não deve ser negligenciada, “dada a sua mais-valia”.<br />
“Acredito que podemos tratar essa informação<br />
de forma muito personalizada e segura para ser<br />
usada em benefício dos doentes e dos prestadores<br />
de cuidados de saúde. Tal como em muitos outros<br />
setores, julgo que também na saúde a solução reside em<br />
informação que possuímos, mas que estamos a desperdi-<br />
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