DE 4826 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
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22 Diário Económico Quarta-feira 24 Fevereiro 2010<br />
<strong>DE</strong>STAQUE CATÁSTROFE NA MA<strong>DE</strong>IRA<br />
Amigos alemães<br />
já chegaram<br />
à Madeira<br />
Há uma cidade alemã – Leichlingen – que se preocupa<br />
com tudo o que acontece no Funchal. Nas férias, e não só.<br />
António Sarmento, na Madeira<br />
antonio.sarmento@economico.pt<br />
Os amigos são para as ocasiões e<br />
em Leichlingen, no norte da Alemanha,<br />
isso é levado muito a sério.<br />
Assim que soube do temporal<br />
na Madeira, Horst Schmuidtberg,<br />
o comandante dos bombeiros da<br />
cidade alemã, começou a fazer as<br />
malas. Já tinha estado no Funchal<br />
dez vezes, mas agora não havia<br />
espaço na bagagem para roupa de<br />
turista. Nem para saborear o peixe<br />
espada preto, as espetadas, a<br />
poncha e os licores caseiros da cidade.<br />
“Vim com mais dois colegas<br />
e trouxemos equipamento<br />
indispensável para ajudar na recuperação<br />
da ilha, como é o caso<br />
das moto-bombas”, diz. O material<br />
pesa 700 quilos e a companhia<br />
aérea alemã que o transportou,<br />
a Tui Fly, não cobrou o excesso<br />
de carga.<br />
Schmuidtberg aterrou ontem<br />
no aeroporto do Funchal às oito<br />
da manhã. À espera dele estava<br />
Rui Pedro, o comandante dos<br />
bombeiros voluntário madeirenses.<br />
Os dois são amigos há<br />
mais de 20 anos e, apesar de Rui<br />
falar muito pouco ou nada de<br />
alemão, os dois entendem-se na<br />
perfeição. “Já na tragédia de<br />
1993 foram eles que nos ajudaram<br />
bastante. Vieram para cá<br />
com equipamento e ainda lançaram<br />
um apelo na rádio alemã,<br />
acabando por conseguir toneladas<br />
de roupa para doarmos aos<br />
madeirenses”, lembra o comandante<br />
português. Agora, voltaram<br />
a fazer o mesmo e esperam<br />
Bombeiros alemães<br />
aterraram ontem no<br />
aeroporto do Funchal.<br />
Chegam de uma<br />
cidade geminada<br />
com o Funchal e<br />
trouxeram 700 quilos<br />
de moto-bombas.<br />
Estão a ajudar<br />
a recolher donativos<br />
para ajudar<br />
os desalojados pela<br />
catástrofe na ilha.<br />
Reportagem<br />
no Funchal<br />
João Jardim anuncia construção de túnel<br />
O presidente do Governo Regional<br />
da Madeira, Alberto João Jardim,<br />
anunciou ontem a construção de<br />
um túnel entre a Serra de Água e a<br />
Meia Légua, na Ribeira Brava, para<br />
substituir a estrada destruída pelo<br />
temporal de sábado. Alberto João<br />
Jardim visitou também ontem a<br />
zona da Meia Légua, uma das mais<br />
atingidas pelo temporal e que<br />
destruiu a estrada que atravessa o<br />
vale entre São Vicente e a Ribeira<br />
Brava. “Tudo o que se fez em túnel<br />
aguentou-se. Eu não estou para<br />
andar a brincar à porrada com a<br />
Natureza”, afirmou o governante,<br />
garantindo a construção de um<br />
novo túnel.<br />
O governante madeirense<br />
anunciou ainda a construção de<br />
um trilho de emergência entre a<br />
SerradeÁguaeaRibeiraBravae<br />
a construção de um bairro para 26<br />
casas com o objetivo de alojar as<br />
famílias que perderam as suas<br />
habitações. E lembrou outra<br />
situação problemática na<br />
RibeiraBrava,queéadaTabua<br />
que ficou isolada, indicando que as<br />
pontes militares serão aplicadas<br />
nas zonas fora do Funchal, sem<br />
acessibilidades.<br />
recolher donativos suficientes<br />
para ajudar os desalojados.<br />
Nãohaviatempoaperder.<br />
Schmuidtberg deixou o aeroporto<br />
e foi para o quartel dos bombeiros<br />
certificar-se da gravidade<br />
da situação. Os dois colegas que o<br />
acompanhavam foram imediatamente<br />
para o terreno, em conjunto<br />
com os colegas madeirenses.<br />
Ninguém tomou o pequeno-<br />
-almoço ou perdeu um minuto a<br />
beber um café. “Estamos aqui<br />
para trabalhar”, dizem. Os três<br />
alemães mantinham-se em contacto<br />
por telemóvel e, por volta<br />
dasonzedamanhã,ochefeda<br />
corporação saiu do gabinete e entrou<br />
num jipe para ir ter com eles.<br />
Nos próximos sete dias irão dormir,<br />
almoçar e jantar no quartel<br />
dos bombeiros madeirenses.<br />
“Ainda vai demorar alguns dias<br />
até recuperarmos a ilha”, admite<br />
o comandante alemão.<br />
A amizade entre Leichlingen e<br />
o Funchal começou em finais dos<br />
anos 80, quando Helena Pinto<br />
Fernandes, uma antiga funcionária<br />
do consulado português na<br />
Alemanha, pôs as duas corporações<br />
de bombeiros em contacto.<br />
Mais tarde, os comandantes de<br />
cada lado visitaram-se pessoalmente.<br />
A geminação entre os dois<br />
municípios deu-se em 1996. Hoje<br />
em dia, há uma ponte nesta cidade<br />
alemã que se chama Funchal e,<br />
no Funchal, há uma rua chamada<br />
Leichlingen. “É uma cidade pequena<br />
do estado da Renânia do<br />
Norte, na Vestefália, e é parecida<br />
com a ilha da Madeira. Tem muito<br />
verde, é sossegada e as pessoas<br />
são hospitaleiras”, explica Helena<br />
Pinto Fernandes.<br />
Funchal transformado<br />
num pântano<br />
À excepção da simpatia dos madeirenses<br />
e do espírito de solidariedade<br />
(alguns policias destoam<br />
e não escondem a má cara sempre<br />
que alguém se aproxima deles<br />
para pedir uma informação) tudo<br />
o resto se perdeu. A baixa do<br />
Funchal está transformada num<br />
pântanogiganteeéazonade<br />
Portugal com mais galochas e<br />
calças sujas de lama por metro<br />
quadrado. Escuteiros, funcionários<br />
da câmara municipal, de<br />
empresas de limpeza e outros voluntárioslimpamasruas.Oba-<br />
rulho das pás, vassouras e das retroescavadoras<br />
confunde-se com<br />
os gritos de quem manda nas<br />
operações de limpeza. Há camiões<br />
que fazem as manobras<br />
mal feitas, carrinhas de caixa<br />
aberta que viram para o sítio errado<br />
e curiosos que querem entrar<br />
em ruas que estão fechadas.<br />
Depois, há ainda aqueles que estão<br />
à porta dos cafés e das lojas de<br />
braços cruzados.<br />
Diogo Abreu, escuteiro e estudante<br />
do 12º ano, é um dos que<br />
trabalha afincadamente. Adora<br />
computadores, quer ser engenheiro<br />
informático, mas o dever<br />
cívico falou mais alto do que ficar<br />
em casa agarrado à Internet.<br />
“Enquanto o meu liceu estiver<br />
fechado eu vou ficar aqui a limpar<br />
a baixa do Funchal”, diz Diogo,<br />
ao mesmo tempo que pega na pá<br />
e enche de lama um carrinho de<br />
mão. Começou a trabalhar às dez<br />
damanhãesósevaiemboraao<br />
final da tarde. Há dois dias seguidos<br />
que é assim. À hora de almoço<br />
uma carrinha da Câmara Municipal<br />
vai buscá-lo a ele e os outros<br />
escuteiros para lhes oferecer<br />
o almoço num refeitório do centro<br />
da cidade. É a única recom-<br />
PREVISÃO<br />
A previsão climatéria para hoje<br />
aponta para períodos de chuva<br />
com vento moderado e mar<br />
com vagas de 1,5-2,5 m. A água<br />
a uma temperatura de 18ºC.<br />
pensa que têm, mas isso não os<br />
desmotiva nada.<br />
Mais à frente, a cem metros de<br />
distância, outro grupo de escuteiros<br />
apanha pedras e troncos de<br />
madeira que são depositados<br />
numa carrinha de caixa aberta<br />
da Câmara Municipal. Um deles,<br />
talvez por estar cansado ou com<br />
vontade de fazer ronha, deitouse<br />
no chão. Ficou ali alguns minutos<br />
até que um polícia o mandou<br />
levantar. “Saia já do meio<br />
estrada e vá para o passeio”, gritou.<br />
A ordem deu resultado porque<br />
o rapaz levantou-se e recomeçou<br />
a trabalhar.<br />
Segurança garantida<br />
A irritação do polícia tinha razão<br />
de ser. De plantão desde as sete<br />
da manhã, entre a rua Veiga PestanaearuaJoãodeDeus,também<br />
no centro, há horas que repetia<br />
a mesma frase: “Não pode<br />
passar por aqui, tem de subir e<br />
virar à esquerda”. “Só sei dizer<br />
isto porque não faço ideia das<br />
ruas que estão ou não cortadas.<br />
Mandaram-me para aqui, mas<br />
ninguém me disse nada. Está<br />
uma confusão”, desabafa.<br />
Ontem, aterraram também na