DE 4826 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
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tudo”. Recorde-se que foi exactamente<br />
sobre a decisão da oposição<br />
de permitir à Madeira um<br />
endividamento de 50 milhões<br />
este ano, em vez do endividamentozeroqueoGovernoinscreveu<br />
no Orçamento do Estado,<br />
que se abriu uma crise política<br />
que culminou numa comunicação<br />
do Ministro das Finanças dizendo<br />
que iria usar todos os<br />
meios à sua disposição para travaralei.ComatragédianaMadeira,<br />
o PS decidiu da agenda a<br />
questão e não irá avançar com o<br />
pedido de fiscalização preventiva<br />
Ontem, a tragédia<br />
na Madeira deu<br />
origem à convocação<br />
de uma conferência<br />
de líderes<br />
extraordinária,<br />
em que o Parlamento<br />
acabou por definir<br />
um voto de pesar.<br />
2<br />
3<br />
1 As operações de limpeza do território<br />
e a preparação para a reconstrução estão<br />
em marcha na ilha da Madeira.<br />
2 Os primeiros funerais começaram ontem,<br />
após a catástrofe que matou 42 pessoas,<br />
segundo os números oficiais.<br />
3 As marcas da tempestade que se abateu no passado<br />
sábado sobre a zona sul da ilha são bem visíveis nos<br />
terrenos dos arredores do Funchal, e não só.<br />
da sua constitucionalidade. Sócrates<br />
lembrou que a “prioridade<br />
é estabelecer uma cooperação<br />
que responda aos problemas da<br />
Madeira” e garantir que não faltará<br />
solidariedade com a região.<br />
Ontem,atragédianaMadeira<br />
deu origem também à convocação<br />
de uma conferência de líderes<br />
extraordinária, em que o Parlamento<br />
acabou por definir um<br />
voto de pesar, a ser votado no<br />
plenário de dia 11 de Março. No<br />
texto pede-se ao Governo da República<br />
para “prosseguir o apoio<br />
prontamente assumido”. “No<br />
Quarta-feira 24 Fevereiro 2010 Diário Económico 25<br />
Fotos: Homem Gouveia/Lusa<br />
Manuel Almeida/Lusa<br />
admite rever limites de endividamento<br />
cumprimento do seu inegável<br />
dever de solidariedade nacional”,<br />
lê-se, os deputados lembram as<br />
“consequências devastadoras”<br />
das enxurradas na ilha e como “o<br />
país assistiu ao terror e à tragédia<br />
que os madeirenses viveram”.<br />
O Parlamento dirige as condolências<br />
às famílias das vítimas,<br />
manifesta a sua solidariedade e<br />
apoio aos madeirenses e elogia<br />
todos os que se têm empenhado<br />
no socorro às populações, fazendo<br />
votos para que “no mais curto<br />
espaço de tempo” seja restabelecida<br />
a normalidade na região. ■<br />
COLUNA VERTEBRAL<br />
Calamidade<br />
JOÃO PAULO GUERRA<br />
Estou a recordar-me de outra<br />
enxurrada, em 1967, na zona da<br />
Grande Lisboa e de proporções<br />
incomparavelmente superiores<br />
às que aconteceram agora na<br />
Madeira. Trabalhava no Serviço<br />
de Noticiários do extinto Rádio<br />
Clube Português e aquela noite<br />
de 25 de Novembro ficou na memória<br />
de quantos lá estivemos.<br />
Os meios técnicos de reportagem<br />
não tinham qualquer tipo<br />
de comparação com os actuais,<br />
sem equipamentos móveis, mas<br />
com o que havia, as equipas do<br />
RCP, chefiadas pelo Luís Filipe<br />
Costa, e do PBX, dirigida pelo<br />
Carlos Cruz e Fialho Gouveia, fizeram<br />
trabalho memorável.<br />
Tal como os meios de reportagem,<br />
os meios de socorro eram<br />
também pré-históricos e a<br />
grande Lisboa seria das zonas<br />
urbanas mais atrasadas e pobres<br />
da Europa, com perímetros de<br />
bairros abarracados e zonas<br />
suburbanas traçadas a olho pelos<br />
interesses dos patos bravos. O<br />
resultado de uma tarde e noite<br />
de chuva foi uma catástrofe. E,<br />
como sempre, quem mais perdeu<br />
foi quem menos tinha.<br />
O mais emocionante foi talvez<br />
quando o RCP passou a receber<br />
pedidos directos de socorro<br />
de populações e, pondo-os no<br />
ar, “guiou” os bombeiros ao encontro<br />
de quem mais precisava<br />
de ajuda.<br />
Mas o que não esquece mesmo<br />
é um telex recebido do SNI<br />
alta madrugada. O RCP foi somando,<br />
ao longo da noite, o número<br />
de mortos de que ia tendo<br />
conhecimentoeandariajápróximo<br />
das duas centenas. Foi<br />
quando tocaram as campainhas<br />
da urgência anunciando a chegada<br />
de um telex pela máquina<br />
que recebida as notificações da<br />
Censura. O telex, que até felicitava<br />
o RCP pelo trabalho que<br />
vinha fazendo, rematava com<br />
esta ordem expressa: “a partir<br />
deste momento, não morreu<br />
mais ninguém”.<br />
Nunca se soube com exactidão<br />
quantas pessoas tinham<br />
morrido. Notícias posteriores,<br />
apuradas após a extinção da<br />
Censura, contaram perto de<br />
700 mortos.<br />
joaopaulo.guerra@economico.pt