DE 4826 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
DE 4826 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
DE 4826 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
8 Diário Económico Quarta-feira 24 Fevereiro 2010<br />
<strong>DE</strong>STAQUE FRACASSO DA OPA À CIMPOR<br />
Mercado brasileiro<br />
ditou movimentos<br />
da Camargo<br />
e Votorantim<br />
Entrada na Cimpor pode ter sido estratégia para<br />
impedir que a CSN se torne num concorrente.<br />
Domingos Zaparolli em São Paulo<br />
dzaparolli@brasileconomico.com.br<br />
Com uma capacidade produtiva<br />
anual de 31 milhões de toneladas<br />
de cimento e bem posicionada em<br />
Portugal, Espanha e em alguns<br />
dos principais mercados emergentes<br />
do mundo, como China,<br />
Índia e Turquia e em seis países<br />
africanos, a Cimpor é um activo<br />
atraente para qualquer grupo cimenteiro<br />
que queira se internacionalizar,<br />
como é o caso das brasileiras<br />
Camargo Corrêa e Votorantim.<br />
Mas a avaliação do grande<br />
interesse pela Cimpor demonstrado<br />
por estas empresas não pode<br />
ser feita sem se ter em conta a disputa<br />
pelo promissor mercado brasileiro<br />
que vai acolher os Jogos<br />
Olímpicos e o Campeonato Mundial<br />
de Futebol.<br />
O mercado brasileiro de cimentos<br />
tem uma peculiaridade.<br />
Mais de 60% é realizado através de<br />
pequenos retalhistas, por isso,<br />
contar com uma boa rede de distribuição<br />
é fundamental para obter<br />
sucesso neste segmento de<br />
mercado. A Cimpor, a terceira<br />
maior cimenteira do país, já contava<br />
com esta rede, o que a tornava<br />
ainda mais atraente para a CSN,<br />
queentrounomercadodecimentos<br />
em 2009 com a construção de<br />
uma fábrica em Volta Redonda<br />
com capacidade de produção de<br />
2,8 milhões de toneladas. No ano<br />
Um sector a crescer<br />
6% ao ano<br />
No ano passado, mesmo com a<br />
crise financeira internacional, foram<br />
comercializados no Brasil 51,3<br />
milhões de toneladas de cimento,<br />
mesmo volume de 2008, o melhor<br />
ano na história do sector. Segundo<br />
dados do Sindicato Nacional da<br />
Indústria de Cimentos, para 2010 e<br />
2011,aexpectativaédeum<br />
crescimento na casa de 6% a 7%<br />
ao ano. “O mercado de cimento é<br />
promissor no Brasil”, diz José<br />
Otávio de Carvalho, vice-presidente<br />
executivo do sindicato.<br />
passado, produziu aproximadamente<br />
300 mil toneladas. A CSN,<br />
porém, conta com duas vantagens<br />
competitivas.Aprimeiraéapossibilidade<br />
de usar a escória de seu<br />
alto-forno como matéria-prima<br />
para a produção de cimento. Segundo,<br />
a sinergia de vendas voltadas<br />
para o mercado de construção<br />
civil, unindo aço e cimento.<br />
Paulo Furquim, professor de<br />
economia da Fundação Getúlio<br />
Vargas, de São Paulo, e ex-membro<br />
do Conselho Administrativo<br />
de Defesa Económica (CA<strong>DE</strong>), no<br />
período de 2006 a 2009, – a Autoridade<br />
da Concorrência brasileira<br />
–acreditaqueomovimentoda<br />
Camargo Corrêa, quarta do mercado<br />
brasileiro, e da Votorantim,<br />
líder, em busca de uma participação<br />
na Cimpor pode ter sido motivada<br />
por uma estratégia para impedir<br />
que a CSN se torne repentinamente<br />
um competidor de peso<br />
no mercado brasileiro.<br />
“Aparentemente, Camargo e<br />
Votorantim podem ter realizado<br />
um movimento defensivo, para<br />
impedir que um novo competidor<br />
entre e reduza os preços e, consequentemente,<br />
as boas margens de<br />
lucro das empresas do sector”,<br />
defende o professor. Furquim<br />
acredita que o CA<strong>DE</strong> acabará por<br />
colocar restrições à operação de<br />
compra da Cimpor, na medida<br />
que ela pode ser prejudical ao<br />
consumidor final.<br />
ASecretariadeDireitoEconómico<br />
(S<strong>DE</strong>), órgão do Ministério<br />
da Justiça, encaminhou uma<br />
sugestão de medida cautelar ao<br />
CA<strong>DE</strong> em relação às operações<br />
envolvendo a aquisição de participação<br />
na Cimpor pela Votorantim<br />
e Camargo Corrêa. O CA<strong>DE</strong><br />
ainda não se pronunciou se acatará<br />
a sugestão. A expectativa de<br />
Furquim é que o órgão adopte<br />
um acto de Acordo de Preservação<br />
de Reversibilidade. Se for<br />
essa a decisão, para efeitos práticos,<br />
a operação fica congelada<br />
até a analise final do CA<strong>DE</strong>, que<br />
costuma ser demorada.<br />
Em relação às possibilidades<br />
que sobram para a CSN, Furquim<br />
avaliaquenãosãomuitas.“Terão<br />
que conquistar espaço junto do<br />
consumidor, um processo que não<br />
leva menos de dez anos”, identifica<br />
o professor. A compra do grupo<br />
J. Santos, segundo do mercado<br />
brasileiro, não é uma possibilidade<br />
na avaliação de Furquim. “É uma<br />
empresa com boa rentabilidade,<br />
quenãoestáavenda,equetem<br />
um óptimo relacionamento com a<br />
Votorantim e a Camargo. Não<br />
creio que seja um alvo acessível<br />
para a CSN”, concluiu. ■<br />
A autoridade da Concorrência brasileira<br />
(Cade) poderá travar a estratégia da Camargo<br />
e da Votorantim na Cimpor, por excesso<br />
de concentração no mercado brasileiro.<br />
Paulo Whitaker/Reuters<br />
Infografia: Susana Lopes |susana.lopes@economico.pt