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marketing & negócios<br />
olaser/iStock<br />
Fluxos e refluxos<br />
- Parte 3<br />
Na onda das tendências, das ações sobre<br />
elas e dos reflexos sobre o mercado, o<br />
negócio das agências começa a reagir<br />
Rafael Sampaio<br />
história dos últimos 100 anos mostra os<br />
A fluxos e contrafluxos das agências <strong>de</strong><br />
publicida<strong>de</strong>, que cresceram gradativamente<br />
na esteira da maior relevância da publicida<strong>de</strong><br />
e das mídias <strong>de</strong> massa, que aumentaram<br />
tanto a complexida<strong>de</strong> e a dificulda<strong>de</strong><br />
em fazer boa propaganda como tornaram<br />
mais relevante a contribuição <strong>de</strong>las para os<br />
anunciantes obterem mais <strong>de</strong> seus investimentos<br />
na área.<br />
Essas circunstâncias foram especialmente<br />
válidas nas décadas <strong>de</strong> 1960 e 1970,<br />
quando se constatou que apenas fazer direito<br />
o que <strong>de</strong>veria ser feito já não era suficiente<br />
e a criativida<strong>de</strong> passava a ser crucial.<br />
Nesse ponto, muitas houses foram sendo<br />
fechadas e as contas migrando para as boas<br />
agências. Nos 30 anos finais do século passado<br />
muita coisa mudou, mas, como o dinheiro<br />
era cada vez mais abundante, havia<br />
espaço para todos, como a separação entre<br />
agências criativas e <strong>de</strong> mídia; a expansão <strong>de</strong><br />
agências especializadas em promoção, marketing<br />
direto, merchandising, RP e outras<br />
plataformas; a consolidação dos grupos <strong>de</strong><br />
comunicação, como a IPG, Omnicom, WPP,<br />
Publicis, Havas e Dentsu Aegis.<br />
Com a chegada do universo digital, outra<br />
fase <strong>de</strong> mudanças tectônicas começou. O<br />
dinheiro até aumentou, mas os bolsos ávidos<br />
por ele cresceram ainda mais. Os gran<strong>de</strong>s<br />
players digitais e os mega-anunciantes<br />
acreditaram que eram menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
das agências e começaram tanto a tentar<br />
trabalhar mais <strong>de</strong> forma direta como, ainda<br />
pior, passaram a pagar menos pela contribuição<br />
das agências.<br />
Surgiu outro concorrente <strong>de</strong> peso para<br />
disputar os recursos <strong>de</strong>las, as martechs,<br />
com a promessa, geralmente não cumprida,<br />
que sua intervenção faria as coisas mais<br />
fáceis, rápidas, baratas e eficientes.<br />
Na real, como sabemos agora, no fim<br />
da segunda década <strong>de</strong>ste século, isso não<br />
aconteceu e a eficiência e a eficácia da publicida<strong>de</strong><br />
vem se reduzindo e retirando das<br />
marcas um ativo com o qual muito sucesso<br />
e riqueza foi obtido no passado.<br />
Não foi só culpa dos megaplayers digitais<br />
e das martechs, é bom lembrar, porque a<br />
competição pelo preço e a perda <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong><br />
das agências contribuíram bastante,<br />
incluindo a visão financeira dos grupos<br />
globais <strong>de</strong> comunicação, a multiplicação<br />
<strong>de</strong> “especialistas” e a perda <strong>de</strong> rumo dos<br />
clientes, que pesaram na mão na compressão<br />
<strong>de</strong> custos, via procurement; embarcaram<br />
em estratégias fracas e no curto-termismo,<br />
erodindo a força <strong>de</strong> suas marcas;<br />
adotaram metodologias <strong>de</strong> ZBB (zero-based<br />
budgeting), criando situações <strong>de</strong> subinvestimento;<br />
e, bobagem das bobagens,<br />
passaram a apostar nas in-houses para<br />
reduzir custos, aumentar velocida<strong>de</strong> e ganhar<br />
eficácia.<br />
A cereja <strong>de</strong>sse bolo antimercado foram<br />
as consultorias, que botaram olho gordo no<br />
faturamento das agências e aproveitaram<br />
a sua maior intimida<strong>de</strong> com CEOs, CFOs e<br />
outros “chefes” para seduzi-los com cantos<br />
<strong>de</strong> sereias. Felizmente, o contrafluxo<br />
começa a ocorrer, com a revalorização das<br />
agências full service e das in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />
as agências <strong>de</strong> mídia pensando em criação<br />
e as criativas enten<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> mídia, e as<br />
consultorias se dando conta que o negócio<br />
é outro (caso da Accenture, que virou um<br />
grupo <strong>de</strong> comunicação global).<br />
Até mesmo a onda das in-houses vem<br />
<strong>de</strong>cepcionando diversos anunciantes que<br />
optaram por esse mo<strong>de</strong>lo. Pesquisa recente<br />
da britânica DMA - Data e Marketing Association<br />
revelou que, para 200 executivos <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s clientes, o atingimento <strong>de</strong> 13 objetivos<br />
para sua unida<strong>de</strong> interna foi menor<br />
que o esperado e a sensação geral é <strong>de</strong> que<br />
o sistema funciona para algumas empresas,<br />
mas não para outras e, mesmo quando<br />
é válido para umas coisas, falha em outras.<br />
É o inevitável refluxo. Que ele aumente e<br />
acelere - em benefício <strong>de</strong> todos, principalmente<br />
dos anunciantes.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafaelsampaio103@gmail.com<br />
jornal propmark - <strong>26</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 27