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edição de 26 de agosto de 2019

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marketing & negócios<br />

olaser/iStock<br />

Fluxos e refluxos<br />

- Parte 3<br />

Na onda das tendências, das ações sobre<br />

elas e dos reflexos sobre o mercado, o<br />

negócio das agências começa a reagir<br />

Rafael Sampaio<br />

história dos últimos 100 anos mostra os<br />

A fluxos e contrafluxos das agências <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong>, que cresceram gradativamente<br />

na esteira da maior relevância da publicida<strong>de</strong><br />

e das mídias <strong>de</strong> massa, que aumentaram<br />

tanto a complexida<strong>de</strong> e a dificulda<strong>de</strong><br />

em fazer boa propaganda como tornaram<br />

mais relevante a contribuição <strong>de</strong>las para os<br />

anunciantes obterem mais <strong>de</strong> seus investimentos<br />

na área.<br />

Essas circunstâncias foram especialmente<br />

válidas nas décadas <strong>de</strong> 1960 e 1970,<br />

quando se constatou que apenas fazer direito<br />

o que <strong>de</strong>veria ser feito já não era suficiente<br />

e a criativida<strong>de</strong> passava a ser crucial.<br />

Nesse ponto, muitas houses foram sendo<br />

fechadas e as contas migrando para as boas<br />

agências. Nos 30 anos finais do século passado<br />

muita coisa mudou, mas, como o dinheiro<br />

era cada vez mais abundante, havia<br />

espaço para todos, como a separação entre<br />

agências criativas e <strong>de</strong> mídia; a expansão <strong>de</strong><br />

agências especializadas em promoção, marketing<br />

direto, merchandising, RP e outras<br />

plataformas; a consolidação dos grupos <strong>de</strong><br />

comunicação, como a IPG, Omnicom, WPP,<br />

Publicis, Havas e Dentsu Aegis.<br />

Com a chegada do universo digital, outra<br />

fase <strong>de</strong> mudanças tectônicas começou. O<br />

dinheiro até aumentou, mas os bolsos ávidos<br />

por ele cresceram ainda mais. Os gran<strong>de</strong>s<br />

players digitais e os mega-anunciantes<br />

acreditaram que eram menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

das agências e começaram tanto a tentar<br />

trabalhar mais <strong>de</strong> forma direta como, ainda<br />

pior, passaram a pagar menos pela contribuição<br />

das agências.<br />

Surgiu outro concorrente <strong>de</strong> peso para<br />

disputar os recursos <strong>de</strong>las, as martechs,<br />

com a promessa, geralmente não cumprida,<br />

que sua intervenção faria as coisas mais<br />

fáceis, rápidas, baratas e eficientes.<br />

Na real, como sabemos agora, no fim<br />

da segunda década <strong>de</strong>ste século, isso não<br />

aconteceu e a eficiência e a eficácia da publicida<strong>de</strong><br />

vem se reduzindo e retirando das<br />

marcas um ativo com o qual muito sucesso<br />

e riqueza foi obtido no passado.<br />

Não foi só culpa dos megaplayers digitais<br />

e das martechs, é bom lembrar, porque a<br />

competição pelo preço e a perda <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong><br />

das agências contribuíram bastante,<br />

incluindo a visão financeira dos grupos<br />

globais <strong>de</strong> comunicação, a multiplicação<br />

<strong>de</strong> “especialistas” e a perda <strong>de</strong> rumo dos<br />

clientes, que pesaram na mão na compressão<br />

<strong>de</strong> custos, via procurement; embarcaram<br />

em estratégias fracas e no curto-termismo,<br />

erodindo a força <strong>de</strong> suas marcas;<br />

adotaram metodologias <strong>de</strong> ZBB (zero-based<br />

budgeting), criando situações <strong>de</strong> subinvestimento;<br />

e, bobagem das bobagens,<br />

passaram a apostar nas in-houses para<br />

reduzir custos, aumentar velocida<strong>de</strong> e ganhar<br />

eficácia.<br />

A cereja <strong>de</strong>sse bolo antimercado foram<br />

as consultorias, que botaram olho gordo no<br />

faturamento das agências e aproveitaram<br />

a sua maior intimida<strong>de</strong> com CEOs, CFOs e<br />

outros “chefes” para seduzi-los com cantos<br />

<strong>de</strong> sereias. Felizmente, o contrafluxo<br />

começa a ocorrer, com a revalorização das<br />

agências full service e das in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

as agências <strong>de</strong> mídia pensando em criação<br />

e as criativas enten<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> mídia, e as<br />

consultorias se dando conta que o negócio<br />

é outro (caso da Accenture, que virou um<br />

grupo <strong>de</strong> comunicação global).<br />

Até mesmo a onda das in-houses vem<br />

<strong>de</strong>cepcionando diversos anunciantes que<br />

optaram por esse mo<strong>de</strong>lo. Pesquisa recente<br />

da britânica DMA - Data e Marketing Association<br />

revelou que, para 200 executivos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s clientes, o atingimento <strong>de</strong> 13 objetivos<br />

para sua unida<strong>de</strong> interna foi menor<br />

que o esperado e a sensação geral é <strong>de</strong> que<br />

o sistema funciona para algumas empresas,<br />

mas não para outras e, mesmo quando<br />

é válido para umas coisas, falha em outras.<br />

É o inevitável refluxo. Que ele aumente e<br />

acelere - em benefício <strong>de</strong> todos, principalmente<br />

dos anunciantes.<br />

Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />

rafaelsampaio103@gmail.com<br />

jornal propmark - <strong>26</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 27

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