You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
inspiração<br />
somos únicos<br />
Fotos: Arquivo Pessoal<br />
“Cada vez mais, os dados atropelam as conversas frutíferas <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
nasciam as mais geniais i<strong>de</strong>ias. Hoje não precisamos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias geniais”<br />
Tom Rocha<br />
Especial para o PRoPmaRK<br />
origem da palavra me remete a algo que<br />
A eu trago (<strong>de</strong> tragar — jogar para <strong>de</strong>ntro).<br />
O que inalo, engulo, sinto, ouço, absorvo,<br />
vejo, trago para <strong>de</strong>ntro — o que eu inspiro.<br />
Lá <strong>de</strong>ntro, se transforma. É moldado e jogado<br />
<strong>de</strong> volta para fora. Devolvo para o mundo<br />
o que levei, mas agora com uma forma<br />
totalmente pessoal.<br />
Tudo o que emito, seria, portanto, um<br />
resultado <strong>de</strong> uma olaria internalizada com<br />
matéria-prima colhida em um contexto<br />
único.<br />
Da minha própria e única experiência. O<br />
que envolve ambientes familiares, amigos,<br />
trabalho, consumo cultural, entretenimento,<br />
os livros que nunca terminei, os podcasts<br />
que já ouvi, a pista <strong>de</strong> uma longa festa<br />
no fim <strong>de</strong> semana ou o papo sem muito interesse<br />
no elevador, que <strong>de</strong>pois se repetiu<br />
no ponto <strong>de</strong> ônibus.<br />
Por muitos anos trabalhei em agências.<br />
Vezes como mídia, vezes como social media<br />
e finalmente como planejamento.<br />
Em todos, algo em comum: estudo <strong>de</strong><br />
comportamento, hábitos <strong>de</strong> consumo. A<br />
famosa jornada. E o ser humano é tão complexo,<br />
não é mesmo? Enten<strong>de</strong>r uma pessoa,<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, exigiria conhecer todos os contextos<br />
acima citados. Exigiria ainda vivenciar<br />
as mesmas experiências, ter as mesmas<br />
reações químicas neuronais para então chegar<br />
às mesmas conclusões.<br />
Quando falamos em clusters, grupos específicos<br />
<strong>de</strong> audiência, significaria então<br />
multiplicar essas experiências por cinco,<br />
<strong>de</strong>z, mil, um milhão <strong>de</strong> vezes. Definitivamente<br />
impossível.<br />
Portanto hoje entregamos às máquinas<br />
que nos favorece com suas capacida<strong>de</strong>s<br />
sobre-humanas que, por meio <strong>de</strong> dados<br />
gerados por nós, entregam uma média aceitável<br />
para trabalharmos com uma relativa<br />
certeza.<br />
Hoje já possuímos tecnologia suficiente<br />
para confiar nessas informações diárias, entregues<br />
em real time, <strong>de</strong> como e para on<strong>de</strong><br />
seguir.<br />
Cada vez mais, os dados atropelam as<br />
conversas frutíferas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nasciam as<br />
mais geniais i<strong>de</strong>ias. Hoje não precisamos <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ias geniais.<br />
Precisamos apenas <strong>de</strong> um pequeno acerto,<br />
uma rápida mensagem assertiva para<br />
um grupo seleto <strong>de</strong> pessoas.<br />
O que torna tudo muito mais efêmero.<br />
I<strong>de</strong>ias aquarelas, solúveis em água, <strong>de</strong> artistas<br />
beta-digitais.<br />
Aos apegados, po<strong>de</strong> parecer triste, mas<br />
com uma rápida reflexão concordarão que<br />
não é. A essência é a mesma, apenas o meio<br />
mudou.<br />
Segundo Elis, ‘o novo sempre vem’. E<br />
vem sempre carregado <strong>de</strong> críticas e inseguranças.<br />
Mas seguimos sendo ‘como os nossos<br />
pais’. E é isso o que me inspira. A nossa essência,<br />
a essência humana, continuará sendo<br />
a mesma. Existimos para colaborar com<br />
a nossa existência. Existimos para inspirar<br />
e ser inspirados. Existimos para inalar, absorver,<br />
ouvir, ver e ser vistos.<br />
Para não nos frustrarmos ainda mais com<br />
a chegada assustadora do mundo autônomo,<br />
<strong>de</strong>vemos nos aproximar cada vez mais<br />
<strong>de</strong>ssa essência. Precisamos voltar para as<br />
raízes.<br />
E não tem nada mais humano que a criativida<strong>de</strong>,<br />
que nada mais é que resultado <strong>de</strong><br />
recortes <strong>de</strong> inspirações do cotidiano.<br />
E por isso que as conversas, mesmo aquelas<br />
<strong>de</strong> elevador, continuam me seduzindo.<br />
Por isso a novela morna que ainda entretêm<br />
meia dúzia <strong>de</strong> pessoas continua me parando<br />
na frente da TV sempre que estou <strong>de</strong><br />
visita aos meus pais.<br />
Do papo tímido do pa<strong>de</strong>iro ao reclamar<br />
nervoso da senhora com o cachorro na rua.<br />
Elas me animam. Animam, me <strong>de</strong>spertam<br />
e me atraem <strong>de</strong> forma irrefutável.<br />
Cada pessoa na rua, cada voz da mesa<br />
<strong>de</strong> trás do restaurante são histórias únicas,<br />
cheias <strong>de</strong> contexto que eu jamais terei capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r.<br />
Nem a tecnologia <strong>de</strong> dados é capaz <strong>de</strong><br />
captar.<br />
Somos únicos. Isso é o que me inspira.<br />
Tom Rocha, brand strategy manager da VIX Brasil<br />
jornal propmark - <strong>26</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 29