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edição de 26 de agosto de 2019

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última página<br />

RichVintage/iStock<br />

Quando as re<strong>de</strong>s<br />

sociais <strong>de</strong>mitem<br />

Stalimir Vieira<br />

semana passada foi marcada por uma<br />

A forte polêmica em torno da “<strong>de</strong>scontratação”<br />

<strong>de</strong> um profissional por pressão das<br />

re<strong>de</strong>s sociais. Ele já havia sido <strong>de</strong>mitido <strong>de</strong><br />

outra agência pela mesma razão: a postagem<br />

<strong>de</strong> um comentário, digamos, infeliz na<br />

internet. Na mensagem, revelava seu profundo<br />

incômodo com a votação do PT no<br />

Nor<strong>de</strong>ste, afirmando alguma coisa como<br />

“os nor<strong>de</strong>stinos votam no PT e <strong>de</strong>pois vêm<br />

procurar emprego no Sul e no Su<strong>de</strong>ste”.<br />

Diante <strong>de</strong> uma forte reação<br />

negativa dos chamados internautas,<br />

o autor publicou um<br />

pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas. Em vão.<br />

Estava “<strong>de</strong>sgraçado” pelo mercado,<br />

o que se confirmou na tentativa<br />

frustrada <strong>de</strong> se recolocar.<br />

Só que <strong>de</strong>ssa vez, o que antes era<br />

praticamente uma unanimida<strong>de</strong><br />

– a <strong>de</strong>missão do profissional –,<br />

agora gerou uma acirrada discussão, a que,<br />

movido por uma incontida curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

repórter, fiz questão <strong>de</strong> acompanhar.<br />

Refletindo sobre o que li, chego à conclusão<br />

<strong>de</strong> que há dois tipos <strong>de</strong> “fiscais” do<br />

comportamento dos outros na internet: os<br />

mo<strong>de</strong>rados, que julgam que o “pecador”<br />

<strong>de</strong>ve ser castigado em dado momento; e<br />

os radicais, que julgam que o castigo <strong>de</strong>ve<br />

ser perpétuo. Parece que a posição <strong>de</strong>sses<br />

prevalece no caso exposto. Seja qual for a<br />

motivação que o levou a postar essa espécie<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo, o que agrava a percepção sobre<br />

o conteúdo é a completa falta <strong>de</strong> lógica<br />

no raciocínio. Digamos que, em vez do que<br />

postou, ele tivesse publicado alguma coisa<br />

como “nos anos 1970, a maioria dos nor<strong>de</strong>stinos<br />

votava na Arena, partido <strong>de</strong> sustentação<br />

da ditadura; hoje, vota no PT, partido<br />

da sustentação da corrupção”.<br />

Forte? Polêmico? De certa forma, discriminatório?<br />

Certamente, mas com uma<br />

diferença básica: contém um argumento<br />

sustentável, ainda que possa suscitar muito<br />

<strong>de</strong>bate, o que para mim, em certos casos,<br />

tem mais mérito que <strong>de</strong>feito. Existe uma<br />

diferença entre discriminação e preconceito.<br />

No preconceito, há a agressão infundada<br />

a alguém ou a algum grupo simplesmente<br />

por serem o que são.<br />

Já a discriminação po<strong>de</strong> ser fundamentada,<br />

ainda que consi<strong>de</strong>rada eticamente<br />

discutível. O que ele escreveu acabou virando<br />

apenas uma expressão<br />

“também<br />

não se po<strong>de</strong><br />

con<strong>de</strong>nar<br />

alguém ao<br />

ostracismo<br />

eterno”<br />

<strong>de</strong> preconceito porque, embora<br />

elaborada com a presunção <strong>de</strong><br />

ser uma premissa inteligente, a<br />

afirmação é <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer<br />

argumento válido. Não é,<br />

portanto, nem um pouco inteligente.<br />

E aí entra outra questão a<br />

ser avaliada pelo empregador.<br />

Se eu estou buscando um profissional<br />

para uma missão estratégica na minha empresa<br />

tenho <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar a qualida<strong>de</strong> do<br />

“pensar” <strong>de</strong>sse candidato ao cargo, não no<br />

sentido opinativo, mas sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

elaborar um raciocínio. Ao me <strong>de</strong>parar com<br />

uma exposição pública que revela <strong>de</strong>ficiência<br />

grave na avaliação <strong>de</strong> uma circunstância,<br />

me acen<strong>de</strong> um sinal amarelo. Nem precisaria<br />

da opinião dos outros. A publicação<br />

se bastaria.<br />

Agora, por outro lado, também não se<br />

po<strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar alguém ao ostracismo eterno<br />

por ter feito em algum momento uma<br />

afirmação leviana. Seria uma espécie <strong>de</strong><br />

Inquisição. Espero, portanto, que nosso<br />

colega tenha, assim como teve William<br />

Waack, que passou por coisa parecida,<br />

uma nova oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a<br />

sua carreira.<br />

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />

stalimircom@gmail.com<br />

58 <strong>26</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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