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última página<br />
RichVintage/iStock<br />
Quando as re<strong>de</strong>s<br />
sociais <strong>de</strong>mitem<br />
Stalimir Vieira<br />
semana passada foi marcada por uma<br />
A forte polêmica em torno da “<strong>de</strong>scontratação”<br />
<strong>de</strong> um profissional por pressão das<br />
re<strong>de</strong>s sociais. Ele já havia sido <strong>de</strong>mitido <strong>de</strong><br />
outra agência pela mesma razão: a postagem<br />
<strong>de</strong> um comentário, digamos, infeliz na<br />
internet. Na mensagem, revelava seu profundo<br />
incômodo com a votação do PT no<br />
Nor<strong>de</strong>ste, afirmando alguma coisa como<br />
“os nor<strong>de</strong>stinos votam no PT e <strong>de</strong>pois vêm<br />
procurar emprego no Sul e no Su<strong>de</strong>ste”.<br />
Diante <strong>de</strong> uma forte reação<br />
negativa dos chamados internautas,<br />
o autor publicou um<br />
pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas. Em vão.<br />
Estava “<strong>de</strong>sgraçado” pelo mercado,<br />
o que se confirmou na tentativa<br />
frustrada <strong>de</strong> se recolocar.<br />
Só que <strong>de</strong>ssa vez, o que antes era<br />
praticamente uma unanimida<strong>de</strong><br />
– a <strong>de</strong>missão do profissional –,<br />
agora gerou uma acirrada discussão, a que,<br />
movido por uma incontida curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
repórter, fiz questão <strong>de</strong> acompanhar.<br />
Refletindo sobre o que li, chego à conclusão<br />
<strong>de</strong> que há dois tipos <strong>de</strong> “fiscais” do<br />
comportamento dos outros na internet: os<br />
mo<strong>de</strong>rados, que julgam que o “pecador”<br />
<strong>de</strong>ve ser castigado em dado momento; e<br />
os radicais, que julgam que o castigo <strong>de</strong>ve<br />
ser perpétuo. Parece que a posição <strong>de</strong>sses<br />
prevalece no caso exposto. Seja qual for a<br />
motivação que o levou a postar essa espécie<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo, o que agrava a percepção sobre<br />
o conteúdo é a completa falta <strong>de</strong> lógica<br />
no raciocínio. Digamos que, em vez do que<br />
postou, ele tivesse publicado alguma coisa<br />
como “nos anos 1970, a maioria dos nor<strong>de</strong>stinos<br />
votava na Arena, partido <strong>de</strong> sustentação<br />
da ditadura; hoje, vota no PT, partido<br />
da sustentação da corrupção”.<br />
Forte? Polêmico? De certa forma, discriminatório?<br />
Certamente, mas com uma<br />
diferença básica: contém um argumento<br />
sustentável, ainda que possa suscitar muito<br />
<strong>de</strong>bate, o que para mim, em certos casos,<br />
tem mais mérito que <strong>de</strong>feito. Existe uma<br />
diferença entre discriminação e preconceito.<br />
No preconceito, há a agressão infundada<br />
a alguém ou a algum grupo simplesmente<br />
por serem o que são.<br />
Já a discriminação po<strong>de</strong> ser fundamentada,<br />
ainda que consi<strong>de</strong>rada eticamente<br />
discutível. O que ele escreveu acabou virando<br />
apenas uma expressão<br />
“também<br />
não se po<strong>de</strong><br />
con<strong>de</strong>nar<br />
alguém ao<br />
ostracismo<br />
eterno”<br />
<strong>de</strong> preconceito porque, embora<br />
elaborada com a presunção <strong>de</strong><br />
ser uma premissa inteligente, a<br />
afirmação é <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer<br />
argumento válido. Não é,<br />
portanto, nem um pouco inteligente.<br />
E aí entra outra questão a<br />
ser avaliada pelo empregador.<br />
Se eu estou buscando um profissional<br />
para uma missão estratégica na minha empresa<br />
tenho <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar a qualida<strong>de</strong> do<br />
“pensar” <strong>de</strong>sse candidato ao cargo, não no<br />
sentido opinativo, mas sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
elaborar um raciocínio. Ao me <strong>de</strong>parar com<br />
uma exposição pública que revela <strong>de</strong>ficiência<br />
grave na avaliação <strong>de</strong> uma circunstância,<br />
me acen<strong>de</strong> um sinal amarelo. Nem precisaria<br />
da opinião dos outros. A publicação<br />
se bastaria.<br />
Agora, por outro lado, também não se<br />
po<strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar alguém ao ostracismo eterno<br />
por ter feito em algum momento uma<br />
afirmação leviana. Seria uma espécie <strong>de</strong><br />
Inquisição. Espero, portanto, que nosso<br />
colega tenha, assim como teve William<br />
Waack, que passou por coisa parecida,<br />
uma nova oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a<br />
sua carreira.<br />
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
58 <strong>26</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark