SCMedia News | Revista | Dezembro 2019
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />
Factfulness, Hans Rosling,<br />
Temas e Debates - Círculo de Leitores, edição de <strong>2019</strong><br />
As coisas no mundo estão melhor do que pensamos. É importante percebermos que estamos quase<br />
todos errados sobre factos tão importantes como o crescimento da população mundial ou a evolução da<br />
saúde em regiões remotas. Se não nos educarmos nesse sentido, por um lado ignoramos o sucesso do<br />
trabalho feito nas últimas décadas nestas áreas, levando-nos a ser erradamente pessimistas, e, por outro,<br />
desanimamos perante ameaças reais, como as alterações climáticas, que temos de enfrentar acreditando<br />
que, com dados, disciplina e ética, podemos ainda encontrar soluções para elas.<br />
O livro “Factfulness” (“Factualidade”) de Hans<br />
Rosling foi escrito em parceria com os seus<br />
filho e nora, Ola e Anna, os quais criaram os<br />
maravilhosos gráficos de bolhas (tão bons que<br />
foram comprados pela Google) que ilustram,<br />
de forma clara e rigorosa, a evolução, ao longo<br />
das últimas décadas, da saúde e da riqueza das<br />
populações mundiais. Por exemplo, durante os<br />
últimos vinte anos, a proporção da população<br />
global que vive em extrema pobreza caiu para<br />
metade. Mesmo a maioria dos líderes mundiais<br />
ignora este facto, eles que tomam as decisões<br />
políticas e económicas com alcance planetário.<br />
As nossas reacções instintivas ao mundo que<br />
nos rodeia, como o medo ou a generalização,<br />
são o resultado de milhões de anos de evolução<br />
do cérebro humano e serviram-nos bem quando<br />
a nossa vida era uma luta diária de procura<br />
de comida e defesa contra predadores. Agora,<br />
contudo, levam-nos a conclusões demasiado<br />
rápidas e dramáticas sobre realidades que<br />
já não conseguimos abarcar com os nossos<br />
sentidos.<br />
Hans descreve no seu livro os dez instintos<br />
que levam a mega-concepções erradas. Estes<br />
devem ser substituídos por pensamento crítico,<br />
baseado em dados. Mas os dados devem ser<br />
usados para dizer a verdade e não para incitar<br />
à acção impensada, por muito nobres que<br />
sejam as intenções. Devemos desconfiar das<br />
médias, dos extremos e da nossa perspectiva<br />
relativa, normalmente simplicista. Temos<br />
de nos convencer que as coisas podem ser<br />
simultaneamente más e melhores, para além<br />
de nos lembrarmos que as más notícias viajam<br />
muito mais depressa e com mais alarde.<br />
O mundo já não se divide em pobres e ricos,<br />
“eles” e “nós”, como há cinquenta anos. Como<br />
o próprio Bill Gates enfatiza, dividir o mundo<br />
nas quatro categorias factuais e actuais que<br />
Hans propõe permite medir o progresso da<br />
humanidade e definir estratégias realistas<br />
e úteis. Lembremo-nos como nós próprios<br />
evoluímos, do início do século passado, em<br />
que, na Europa, a maioria das pessoas não<br />
tinham mais do que um buraco escuro no chão,<br />
fora de casa, para fazer as suas necessidades,<br />
enquanto que, hoje em dia, mesmo em regiões<br />
remotas de África, há sanitas em cubículos com<br />
privacidade, água corrente e luz.<br />
Hans Rosling foi médico, professor de Saúde<br />
Internacional e conselheiro da organização Mundial<br />
de Saúde e da UNICEF. Tem mais de 35 milhões de<br />
visualizações das suas conferências e aprendeu a<br />
engolir espadas para demonstrar que o aparentemente<br />
impossível é possível.