NOREVISTA ABRIL 2021
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OPINIÃO<br />
A verdadeira coesão e autonomia é não precisar mais do<br />
dinheiro dos contribuintes portugueses e dos países ricos<br />
da União Europeia. Ao contrário do que parece ser mais<br />
intuitivo, o caminho da criação de riqueza e do bem-estar<br />
social depende muito mais da forma como se alocam os<br />
recursos do que da sua quantidade inicial. Por isso é que<br />
economias livres em territórios inóspitos conseguem<br />
prosperar e territórios ricos em recursos naturais ou<br />
apoiados há décadas por fundos comunitários se mantêm<br />
na pobreza.<br />
A proposta de plano e orçamento para <strong>2021</strong> entregue<br />
pelo governo no parlamento regional prevê gastar 45%<br />
do dinheiro total em investimento público, designado por<br />
plano. São 720 milhões mais outros fundos comunitários<br />
para os diferentes secretários terem o mérito de<br />
distribuir. Ademais, só para os leitores terem uma<br />
noção do que a casa gasta, apenas 54% do orçamento<br />
são receitas próprias da região, quase totalmente<br />
provenientes dos impostos pagos pelos Açorianos. A<br />
restante parte do bolo provém de transferências do<br />
Orçamento de Estado (22%), transferências da União<br />
Europeia (10%) e, como nada disto é suficiente, do<br />
recurso ao endividamento de 250 milhões (15%).<br />
Estes números até podem parecer normais à maioria<br />
dos leitores, porque sempre foi assim por tantos anos<br />
que até se esquece que há outra forma de fazer política<br />
e alocar recursos. Mas para este jovem autor que tem<br />
outras ambições para a sua querida terra representam o<br />
José luís parreira<br />
A fraude do<br />
governo de direita<br />
risco de os nossos recursos continuarem a ser gastos em<br />
projetos sem retorno para a economia, que precisarão<br />
de ser alimentados no futuro. No fundo, a continuação<br />
do socialismo, cuja dívida herdada custar-nos-á 38,5<br />
milhões em juros em <strong>2021</strong> (154 euros por habitante).<br />
Em primeiro lugar, dirão os leitores que o momento<br />
excecional da pandemia em que vivemos justifica<br />
continuar a apoiar a economia, o emprego e os<br />
desempregados, nem que para isso seja necessário de<br />
recorrer ao endividamento. Certo. No entanto, apenas 44<br />
milhões se destinam às medidas criadas em resposta ao<br />
surto da covid-19. Além disso, o investimento em saúde<br />
e educação representam outros 80 milhões de euros, ou<br />
seja, apenas 11% do plano de investimentos. Então, e o<br />
restante investimento? Aqui pouco importa discutir se<br />
o investimento é destinado ao setor público ou privado,<br />
porque todo o dinheiro gasto pelo estado acabará no<br />
setor privado: os funcionários públicos, as empresas<br />
fornecedoras do governo e os credores da região. Quem<br />
mais contribui é também quem mais beneficia. Por isso,<br />
o que este governo continua a fazer é nacionalizar parte<br />
da economia, mantendo as empresas na dependência<br />
do estado. Que os socialistas o fizessem era de esperar,<br />
mas que a direita o faça só mostra falta de valores e<br />
convicções fortes ou, então, deixaram-se corromper<br />
pelo poder de ter o dinheiro na mão. O dinheiro dos<br />
contribuintes, sejam eles açorianos, portugueses ou de<br />
outro qualquer país da Europa, apenas deve ir para os<br />
privados para contratar bens e serviços públicos<br />
que estes forneçam de forma mais eficiente ou para<br />
os indemnizar por perdas derivadas de decisões<br />
governamentais, como o confinamento.<br />
Em segundo lugar, dirão os leitores que havendo<br />
dinheiro da solidariedade nacional e europeia à<br />
nossa disposição, este deve ser usado e o que o que<br />
é preciso é uma melhor aplicação e fiscalização dos<br />
fundos. Todavia, o que ninguém sabe explicar é como<br />
é que se garante isso. Nos próximos anos, há duas<br />
alternativas: podemos continuar a financiar todos<br />
os caprichos de uma maioria governativa, gastando<br />
grandes quantidades, recursos e crédito, ou podemos<br />
confiar na capacidade individual de cada um para<br />
gastar o seu próprio dinheiro. O melhor investimento<br />
que podem fazer para as próximas gerações é ir<br />
pagando a dívida (ajuda não endividar mais) e<br />
reduzir a despesa pública, seja levar à insolvência as<br />
empresas públicas falidas, seja reduzir a dimensão<br />
da administração pública (reformas antecipadas,<br />
p.e.). O dinheiro da “Bazuca” deveria servir para<br />
indemnizar e apoiar temporariamente todos os<br />
prejudicados por essa redução de despesa, a fim de<br />
irem confortavelmente à sua vida. Só assim se pode<br />
baixar impostos sustentadamente e uma direita que<br />
se preze era isto que deveria fazer. Caso contrário,<br />
quando o dinheiro acabar, continuaremos a ter<br />
um governo gordo para sustentar e uma economia<br />
impreparada para andar pelas suas próprias pernas.<br />
Enfim, será uma oportunidade perdida para quebrar<br />
o ciclo vicioso de pobreza e dependência do estado<br />
em que o socialismo nos deixou.<br />
Em terceiro lugar, num tempo que que se vive<br />
uma recessão e o investimento privado é reduzido,<br />
por que razão há o governo de se comportar de<br />
forma diferente, ainda para mais recorrendo ao<br />
endividamento. Tirando as necessidades de acudir<br />
à saúde pública, socorrer os desempregados e<br />
indemnizar a economia, este deveria ser o momento<br />
para se poupar recursos e adiar investimentos. No<br />
entanto, este orçamento não evidencia um único<br />
esforço para poupar qualquer tostão. Só gastar.<br />
Vejamos 2 exemplos rápidos de investimento público,<br />
pensado para <strong>2021</strong>.<br />
A SATA prepara-se para receber mais um aumento<br />
de capital de 165 milhões em <strong>2021</strong> (em 2020 já tinha<br />
pedido um empréstimo de 133M, com garantias<br />
públicas). Estão a brincar! Um avião Twin Otter de<br />
19 lugares novinho em folha custa 7 milhões e um<br />
ATR de 50 lugares custa 10 milhões em segunda<br />
mão. 165 milhões daria para comprar frota e meia<br />
de 6 aviões inter-ilhas, pagos a pronto pagamento.<br />
Isso sim permitia reduzir significativamente o preço<br />
das viagens, nos próximos 10 anos, pois a empresa<br />
já não tinha de imputar ao consumidor o pagamento<br />
da prestação do avião. A SATA, cuja maioria dos<br />
aviões não lhe pertence, deveria entrar num processo<br />
de insolvência como qualquer empresa falida e o<br />
serviço público de transporte inter-ilhas deveria<br />
ser concessionado a outra empresa privada, como a<br />
Binter, pagando o mesmo que pagamos à SATA que é<br />
10.1 milhões de euros. É uma questão de “vender” o<br />
caderno de encargos a nível internacional, nem que<br />
se tenha de pagar um pouco mais.<br />
Em segundo, subsidiamos 10.1 milhões uma<br />
transportadora aérea para “tocar” diariamente em<br />
todas as ilhas e, depois, vamos injetar mais de 10<br />
milhões na Atlânticoline e gastamos outros tantos<br />
milhões a realizar obras de terminais de passageiros<br />
para fazer o mesmo transporte. Isso já não é brincar<br />
com o dinheiro dos outros. É burrice! O transporte<br />
marítimo de passageiros além de ter um custo<br />
operacional por passageiro maior que o avião, ainda<br />
reduz a procura do transporte aéreo, impedindo um<br />
menor preço das passagens aéreas.<br />
Em suma, a direita passa anos a falar mal do<br />
socialismo e a dizer que não funciona, mas quando<br />
está no poder não reduzem a despesa pública,<br />
aumentam-na. Passam anos a chamar xuxalistas e<br />
esquerdalha aos adversários, mas quando chegam<br />
ao governo não têm coragem política para deixar<br />
cair a SATA e negociar o caderno de encargos do<br />
transporte aéreo de passageiros com a iniciativa<br />
privada, a fim de o governo não ter de assumir as<br />
dívidas de ninguém. São anos a criticar o polvo<br />
socialista, mas continuam a manter as empresas<br />
e a economia dependente do estado. Isto tem um<br />
nome: hipocrisia. Deveremos estar satisfeitos apenas<br />
por tirar os socialistas do poder e esperar que estes<br />
sejam melhores gestores da coisa pública? Não. Isso<br />
não é suficiente para os Açores. É preciso mudar de<br />
políticas e a forma de fazer política.<br />
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