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edição de 12 de junho de 2023

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Kelly Dores<br />

“A comunicação mantém sua<br />

vocação primordial <strong>de</strong> criar<br />

conexões e influência”<br />

Quando você começou a trabalhar com comunicação corporativa e<br />

quais foram as mudanças mais significativas no mercado <strong>de</strong> lá pra cá?<br />

Comecei a trabalhar na área aos 25 anos, quando ingressei no <strong>de</strong>partamento<br />

<strong>de</strong> comunicação social da Basf. Na época, a indústria química li<strong>de</strong>rava<br />

o movimento <strong>de</strong> maior abertura das empresas brasileiras para o<br />

relacionamento estruturado com os stakehol<strong>de</strong>rs, e essa foi minha gran<strong>de</strong><br />

escola. Tive o privilégio <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com gran<strong>de</strong>s profissionais, numa<br />

época em que ainda datilografávamos memorandos para enviar via malote<br />

interno e nos comunicávamos com a matriz por telex. De lá para cá, surgiu<br />

o computador pessoal e com ele o e-mail, que revolucionou a forma<br />

<strong>de</strong> nos comunicarmos, <strong>de</strong>pois a internet, as mídias digitais, os celulares.<br />

A tecnologia imprimiu velocida<strong>de</strong> a todas as coisas, multiplicou o po<strong>de</strong>r<br />

do indivíduo <strong>de</strong> expressar opiniões, mudou o cenário da imprensa, intensificou<br />

a vigilância sobre as organizações – o que trouxe avanços para o<br />

mundo corporativo e seu papel na socieda<strong>de</strong>. Agora, com a inteligência<br />

artificial, estamos passando por mais uma revolução. Tudo vai mudar <strong>de</strong><br />

novo e vou embarcar confiante nessa aventura, como fiz até aqui.<br />

Como está o processo <strong>de</strong> fusão da JeffreyGroup com<br />

a Hill+Knowlton? Em que estágio se encontram?<br />

A aquisição da JeffreyGroup foi anunciada em setembro <strong>de</strong> 2022 como<br />

um movimento estratégico que posiciona o Grupo H+K como a principal<br />

agência global <strong>de</strong> comunicação na América Latina. De lá para cá, o processo<br />

<strong>de</strong> integração vem avançando especialmente nas áreas <strong>de</strong> back office,<br />

já que a JeffreyGroup continuará a operar com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria <strong>de</strong>ntro<br />

da Hill+Knowlton. Brian Burlingame, que é o CEO da JeffreyGroup <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

2015, li<strong>de</strong>ra todas as operações da H+K na América Latina, abrangendo<br />

suas duas marcas.<br />

Na prática, o que muda fazer parte do WPP, o maior grupo <strong>de</strong> comunicação<br />

do mundo?<br />

O ingresso no Grupo WPP fortaleceu nossa posição no mercado e abriu<br />

para a JeffreyGroup inúmeras oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ganhar escala nos negócios.<br />

Além disso, nossas pessoas passaram a ter acesso a novas ferramentas<br />

<strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> conhecimento com<br />

outras geografias e outras agências, beneficiando também os clientes.<br />

O que significa o conceito da Jeffrey <strong>de</strong> ser a única agência focada<br />

exclusivamente na América Latina?<br />

A JeffreyGroup cresceu consistentemente, ao longo <strong>de</strong> três décadas, com<br />

seu foco diferenciado e exclusivo na América Latina, aten<strong>de</strong>ndo a gran<strong>de</strong>s<br />

empresas e marcas globais. Com se<strong>de</strong> em Miami e escritórios em São<br />

Paulo, Brasília, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Cida<strong>de</strong> do México e Buenos Aires, a atuação<br />

focada da JeffreyGroup nos tornou uma força dominante na região. Desenvolvemos<br />

nesse período projetos inovadores e premiados <strong>de</strong> comunicação<br />

corporativa e public affairs em uma ampla gama <strong>de</strong> setores da<br />

indústria. Também fomos pioneiros na criação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação<br />

regional <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> comunicação, que facilita bastante a vida<br />

<strong>de</strong> executivos com responsabilida<strong>de</strong> sobre múltiplos mercados na região.<br />

Agora, como parte <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> global, ampliamos nossas oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> negócios e o acesso a novas ferramentas e novos conhecimentos, tanto<br />

para nossos clientes como para nossas pessoas.<br />

Você foi jurada em PR no Cannes Lions no ano passado. Como foi a<br />

experiência e o que ela agregou em termos profissionais?<br />

Um mergulho revigorante na criativida<strong>de</strong>. Acho que isso <strong>de</strong>fine a experiência.<br />

Ao todo, julguei perto <strong>de</strong> 500 casos em diferentes disciplinas e segmentos<br />

<strong>de</strong> mercado e i<strong>de</strong>ntifiquei neles tendências e traços em comum<br />

que me trouxeram uma visão renovada do trabalho <strong>de</strong> comunicação. Acima<br />

<strong>de</strong> tudo, essa oportunida<strong>de</strong> me ajudou a relembrar o imenso po<strong>de</strong>r<br />

transformador daquilo que fazemos. Os PR Lions não premiam a inovação<br />

em si mesma, mas, sim, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar o mundo por meio<br />

<strong>de</strong>la, e é sempre bom ver essa magia acontecer.<br />

Qual a importância das premiações para a área?<br />

Não concebemos nem executamos projetos para ganhar prêmios. Estamos<br />

primordialmente comprometidos com eficácia, ética, qualida<strong>de</strong> na<br />

entrega, resultados para o negócio e satisfação do cliente. Mas é justamente<br />

o foco nesses elementos, combinado ao trabalho feito a quatro<br />

mãos com nossas interfaces, que nos leva às premiações. Prêmios são a<br />

coroação <strong>de</strong> um esforço, o reconhecimento público <strong>de</strong> um trabalho bem<br />

feito e a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> celebrar conquistas com o time e os clientes.<br />

Por que os trabalhos <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> PR estão<br />

cada vez mais misturados? Como é feito esse alinhamento?<br />

A tecnologia digital e a consequente multiplicação dos canais <strong>de</strong> comunicação<br />

à disposição da socieda<strong>de</strong> borraram os papéis e os limites entre<br />

mídia espontânea e mídia paga. O diálogo com os stakehol<strong>de</strong>rs po<strong>de</strong> hoje<br />

trafegar por inúmeras vias além da mídia tradicional e assumir diferentes<br />

formas. As pessoas se tornaram mídia, o conteúdo e a inteligência <strong>de</strong> dados<br />

passaram a <strong>de</strong>finir estratégias, e a natureza do espaço e do formato<br />

<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar o que é PR e o que é propaganda. Nesse cenário, é<br />

natural que as disciplinas trabalhem juntas ou mesmo se misturem. O alinhamento<br />

precisa acontecer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção da estratégia e se firmar<br />

na etapa <strong>de</strong> planejamento, para evitar dissonância na execução. A comunicação,<br />

no entanto, mantém sua vocação primordial <strong>de</strong> criar conexões e<br />

influência com autenticida<strong>de</strong> e credibilida<strong>de</strong>, com a missão <strong>de</strong> aumentar<br />

o valor da reputação como ativo intangível.<br />

Quais são as principais <strong>de</strong>mandas hoje dos clientes?<br />

A gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda dos clientes hoje é por comunicação integrada, que<br />

alinha mensagens e ações ao propósito da organização e às <strong>de</strong>mandas da<br />

socieda<strong>de</strong>, e estabelece um diálogo consistente com múltiplos stakehol<strong>de</strong>rs.<br />

Essa modalida<strong>de</strong> é complexa e exige cada vez mais compreensão<br />

dos negócios e das diferentes disciplinas <strong>de</strong> comunicação. Ainda que o<br />

escopo do trabalho em si nem sempre abarque todos os públicos, é obrigatório<br />

executá-lo com visão do todo e coerência.<br />

Como manter a reputação <strong>de</strong> uma marca e atuar numa gestão <strong>de</strong><br />

crise?<br />

A reputação <strong>de</strong> uma marca é uma soma <strong>de</strong> todas as suas ações e manifestações.<br />

Ela se constrói e varia ao longo do tempo como consequência das<br />

percepções que <strong>de</strong>sperta. “Manter” a reputação, portanto, é um conceito<br />

impreciso, já que as organizações se transformam, evoluem (ou involuem,<br />

às vezes) e se adaptam às mudanças na socieda<strong>de</strong>. Na falta <strong>de</strong> um termo<br />

melhor, penso que “moldar” a reputação reflete melhor essa tarefa que<br />

exige constante vigilância e a escolha permanente <strong>de</strong> fazer o que é certo<br />

para o longo prazo, mesmo quando uma solução <strong>de</strong> curto prazo parece<br />

mais atraente e menos dolorosa. A atuação na gestão <strong>de</strong> crise segue esse<br />

mesmo preceito – <strong>de</strong> fazer o certo para o longo prazo – e será mais ou<br />

menos bem-sucedida conforme for a soma dos acertos e erros da organização<br />

até ali, especialmente no que tange à transparência e à ética. Não<br />

existe uma fórmula mágica para isso.<br />

Quantos clientes a Jeffrey possui hoje e quais são os principais?<br />

Temos hoje 55 clientes fixos e 25 projetos em andamento. Nossos principais<br />

clientes estão na indústria farmacêutica, <strong>de</strong> turismo e entretenimento,<br />

tecnologia, energia e finanças.<br />

Que tendências da área você <strong>de</strong>stacaria atualmente?<br />

O uso da inteligência <strong>de</strong> dados tanto no planejamento como na mensuração<br />

<strong>de</strong> resultados; a busca por competências na área <strong>de</strong> impacto social<br />

e sustentabilida<strong>de</strong>; as audiências como mídia (shared first); o ativismo das<br />

marcas; e a preocupação com grupos e minorias antes esquecidos, para<br />

além <strong>de</strong> gênero, raça e ida<strong>de</strong>, que gosto <strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> “microdiversida<strong>de</strong>”.<br />

Como está o uso <strong>de</strong> inteligência artificial <strong>de</strong>ntro da agência? De que<br />

forma a IA <strong>de</strong>ve revolucionar a comunicação?<br />

A inteligência artificial vem somar-se ao arsenal <strong>de</strong> ferramentas tecnológicas<br />

que utilizamos, com um enorme potencial <strong>de</strong> otimizar o uso do tempo,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que bem combinada ao conhecimento e à criativida<strong>de</strong> humanos.<br />

Na H+K, reconhecemos sua utilida<strong>de</strong> na geração, customização e distribuição<br />

<strong>de</strong> conteúdo, marketing <strong>de</strong> influência, monitoramento e gestão <strong>de</strong><br />

crises, por exemplo. Mas o tema vem merecendo uma abordagem cautelosa<br />

capitaneada pela nossa matriz global em função das questões <strong>de</strong><br />

segurança e <strong>de</strong> ética envolvidas. Há vários experimentos em andamento<br />

ao redor do mundo e também na nossa operação, mas sem ainda envolver<br />

entregas e informações <strong>de</strong> clientes. Nosso time <strong>de</strong> Insights & Analysis está<br />

li<strong>de</strong>rando os esforços <strong>de</strong> educação das equipes enquanto exploramos as<br />

possíveis aplicações da IA e seu impacto nos negócios.<br />

“A reputação <strong>de</strong> uma marca é<br />

uma soma <strong>de</strong> todas as suas ações<br />

e manifestações”<br />

jornal propmark - <strong>12</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> 13

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