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mkt<br />
Alê Oliveira<br />
A moeda tempo,<br />
Spotify<br />
“Tempus fugit, portanto, carpe diem”.<br />
Rubem Alves<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
Na concorrência genérica, o que conta é a moeda<br />
tempo. Todas as <strong>de</strong>mais alternativas <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong><br />
nosso tempo que concorrem com o Spotify. E aí as coisas<br />
se complicam imensamente.<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
fmadia@madiamm.com.br<br />
Todas as flexibilizações são possíveis, exceto a da<br />
moeda tempo que as pessoas dispõem. E que, cada<br />
vez mais, é mais escassa. Não é que o tempo<br />
diminuiu, o dia segue tendo 24 horas.<br />
É que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas alternativas que temos<br />
para alocar nosso tempo escalou ao infinito. Só as incursões<br />
no digital, que não existiam 20 e poucos anos<br />
atrás, hoje já tomam 25% do tempo das pessoas.<br />
A Timeless Society é a razão central da Nona Geração<br />
do Marketing. Anuncia-se no alvorecer do novo milênio.<br />
Em meu “O Gran<strong>de</strong> Livro do Marketing” registro sua<br />
chegada dizendo: “Nós, consumidores, passamos a ter<br />
em nossos bolsos uma nova moeda”.<br />
Saem cara e coroa e entram em seus lugares tempo<br />
e dinheiro. Dinheiro segue sendo o po<strong>de</strong>r aquisitivo.<br />
Tempo, o po<strong>de</strong>r restritivo. De nada adianta sobrar<br />
dinheiro se não temos tempo. Inverte-se o dito: Time is<br />
money... Money is time...<br />
Teve um tempo em era abundante e disponível todo<br />
o tempo do mundo. As horas <strong>de</strong>moravam para passar.<br />
Nem nos lembramos mais quando...<br />
Quando o Spotify <strong>de</strong>u o ar da graça, no dia 7 <strong>de</strong><br />
outubro <strong>de</strong> 2008, era uma baita novida<strong>de</strong> e galopava<br />
sozinho. Uma espécie <strong>de</strong> corrida <strong>de</strong> um cavalo só, vindo<br />
muito distante, e numa mistureba monumental, o<br />
YouTube.<br />
De lá para cá, o YouTube passou por sucessivos aprimoramentos,<br />
a Amazon oferece um serviço muito parecido<br />
e próximo do Spotify para seus assinantes prime,<br />
outros concorrentes surgiram, e, muito especialmente,<br />
além da concorrência específica, a genérica multiplicou-se<br />
ao infinito.<br />
Conclusão, passados os anos <strong>de</strong> uma corrida <strong>de</strong> um<br />
cavalo só, Spotify, na concorrência específica são muitos<br />
nos competidores, e na genérica a concorrência é<br />
infinita.<br />
Serviços, fatos e acontecimentos em nossas vidas,<br />
que disputam o mesmo e reduzidíssimo tempo que dispomos.<br />
Dispomos?<br />
E aí, para tentar melhorar, mas piorando, o Spotify<br />
<strong>de</strong>cidiu oferecer num preço menor para os que se<br />
dispuserem a ouvir publicida<strong>de</strong> e, diante do aumento<br />
<strong>de</strong> custos por perda <strong>de</strong> assinaturas pagas, precisou aumentar<br />
os preços, ou seja, o pior <strong>de</strong> dois mundos.<br />
Mesmo assim, ainda, e em <strong>de</strong>corrência do pioneirismo<br />
e vendo enfraquecer a li<strong>de</strong>rança mundial em<br />
streaming <strong>de</strong> áudio, com mais <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> participação<br />
<strong>de</strong> mercado, os números que eram ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar gosto,<br />
migraram para o amarelo, e agora, <strong>de</strong> uns tempos para<br />
cá, vermelho <strong>de</strong> dar medo.<br />
No primeiro trimestre <strong>de</strong>ste ano, o prejuízo foi <strong>de</strong> €<br />
225 milhões, mesmo tendo a receita crescido em 14,3%.<br />
Não tem solução.<br />
Passado o período <strong>de</strong> graça quando uma inovação<br />
revolucionária cavalga sozinha, e tudo são flores, à medida<br />
que concorrentes <strong>de</strong> todos os gêneros e espécies<br />
vão chegando o cerco se estabelece, e as preocupações<br />
multiplicam-se.<br />
Essa é a nova realida<strong>de</strong>.<br />
E assim, todas essas espetaculares novida<strong>de</strong>s dos<br />
tempos mo<strong>de</strong>rnos têm um céu <strong>de</strong> briga<strong>de</strong>iro por no<br />
máximo três anos, a partir do quarto as preocupações<br />
vão se manifestando, lá pelo cinco e seis anos os resultados<br />
ten<strong>de</strong>m para o prejuízo, e até o 10 reinventar-se,<br />
revolucionar-se ou mergulhar em irreversível processo<br />
<strong>de</strong> partida, <strong>de</strong>spedida, fim...<br />
10 anos é o novo longo prazo...<br />
36 <strong>12</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark