07.03.2024 Views

Perspectivas Sobre o Controle da Infraestrutura - Livro Digital

Com textos de membros de órgãos de controle, profissionais do setor privado, acadêmicos e pesquisadores e membros de organizações da sociedade civil, o livro é organizado em duas partes, uma primeira dedicada às contratações públicas de infraestrutura e, a segunda, à promoção da integridade e controle de questões socioambientais no setor da infraestrutura.

Com textos de membros de órgãos de controle, profissionais do setor privado, acadêmicos e pesquisadores e membros de organizações da sociedade civil, o livro é organizado em duas partes, uma primeira dedicada às contratações públicas de infraestrutura e, a segunda, à promoção da integridade e controle de questões socioambientais no setor da infraestrutura.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte I<br />

Contratações em INFRAESTRUTURA<br />

O fenômeno <strong>da</strong> assimetria de informação ocorre<br />

em pelo menos dois cenários: “quando uma <strong>da</strong>s<br />

partes possui mais informação do que a outra”<br />

(TIMM e GUARISE, 2014 p. 166), ou quando, no<br />

momento <strong>da</strong> celebração dos contratos, os contratantes<br />

“não dispõem de informações sobre<br />

to<strong>da</strong>s as variáveis relevantes à realização do ato”<br />

(SAMPAIO e ARAÚJO, 2014).<br />

Timm e Guarise (2014, p. 167) explicam que do<br />

primeiro cenário advêm dois problemas: seleção<br />

adversa e risco moral. A seleção adversa se materializa<br />

quando uma <strong>da</strong>s partes está mal-informa<strong>da</strong><br />

sobre a quali<strong>da</strong>de ou as características de um produto<br />

ou serviço, razão pela qual exigirá um prêmio/<br />

desconto para participar de uma transação. Isso<br />

faz com que agentes com boa reputação, ao não<br />

obterem um preço bom por seus produtos ou serviços,<br />

saiam do mercado, diminuindo a quali<strong>da</strong>de<br />

dos ofertantes. Ao afastar esses bons agentes, a<br />

quali<strong>da</strong>de média dos serviços e produtos <strong>da</strong>quele<br />

mercado irá diminuir (TIMM e GUARISE, 2014 p.<br />

167). O risco moral (“moral hazard”) ocorre quando<br />

uma <strong>da</strong>s partes vê incentivos para alterar o seu<br />

comportamento de forma prejudicial à outra parte,<br />

a partir de uma informação privilegia<strong>da</strong> adquiri<strong>da</strong><br />

após a assinatura do contrato (TIMM e GUARISE,<br />

2014, p. 167; NÓBREGA, 2011, p. 111).<br />

Segundo Sampaio e Araújo (2014, p. 316), <strong>da</strong><br />

indisponibili<strong>da</strong>de de informações sobre to<strong>da</strong>s as<br />

variáveis relevantes à realização do ato decorre a<br />

“racionali<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong>”, cujo limite é <strong>da</strong>do pelas<br />

informações que as partes não possuem, ficando<br />

essa racionali<strong>da</strong>de subordina<strong>da</strong> ao conjunto de<br />

informações que ca<strong>da</strong> parte conseguiu angariar.<br />

As partes enfrentam limitações para obter informações<br />

completas, pois sua obtenção envolve custos<br />

de transação, descritos como aqueles necessários<br />

para a efetivação de transações comerciais e compreendidos<br />

como falhas de mercado, que afastam<br />

o contrato <strong>da</strong> completude ideal. Além dos custos<br />

de procura e obtenção de informação, há, ain<strong>da</strong>,<br />

custos de negociação e custos para garantir a execução<br />

do contrato (TIMM e GUARISE, 2014, p. 168).<br />

Os maiores custos de transação esperados são<br />

aqueles ex ante, necessários para a re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s<br />

cláusulas contratuais, ou seja, o custo de se estabelecer<br />

to<strong>da</strong>s as contingências e peculiari<strong>da</strong>des que<br />

podem afetar o contrato durante a sua execução<br />

(NÓBREGA, 2011, p. 12). A proporção desses custos<br />

irá variar de acordo com a complexi<strong>da</strong>de do objeto.<br />

Os contratos que envolvem a realização de obras<br />

de engenharia incorporam custos de procura e<br />

obtenção de informação que nem sempre serão<br />

suficientes para dirimir to<strong>da</strong>s as eventuais incertezas<br />

que podem acometer o contrato. Em grandes<br />

obras, que envolvem robustas fun<strong>da</strong>ções e grandes<br />

escavações, o custo de investigação do subsolo<br />

constitui um bom exemplo de custo de transação<br />

ex ante, cuja formulação não se mostra absoluta.<br />

A informações sobre as condições do solo balizam<br />

as especificações <strong>da</strong> obra, bem como seus<br />

métodos e os custos envolvidos. Por ser esta uma<br />

variável relevante, investigações insuficientes e<br />

inadequa<strong>da</strong>s são frequentemente aponta<strong>da</strong>s como<br />

causa para projetos e contratos que não refletem<br />

as condições reais de execução do objeto. Nesse<br />

ponto, investigar exaustivamente poderia parecer<br />

uma solução óbvia, o que, contudo, não prospera<br />

diante do custo e do tempo gastos para proceder<br />

uma ampla prospecção (custo de transação), bem<br />

como diante <strong>da</strong>s limitações preditivas <strong>da</strong> própria<br />

engenharia geotécnica (racionali<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong>).<br />

Em face de complexi<strong>da</strong>des como essa, a depender<br />

<strong>da</strong>s circunstâncias, poderá parecer mais viável deixar<br />

certo grau de incompletude, apostando na possibili<strong>da</strong>de<br />

de repactuação mais à frente. Além do custo<br />

de extensas negociações contratuais, determinando<br />

a busca pela completude excessivamente onerosa,<br />

“a incompletude contratual pode ser devi<strong>da</strong><br />

por fatores estruturais, como assimetria de<br />

informação, deficiências na supervisão de<br />

conduta de uma parte pela outra (inobservabili<strong>da</strong>de)<br />

ou dificul<strong>da</strong>de de supervisão por um<br />

terceiro ao contrato (inverificabili<strong>da</strong>de). Logo,<br />

deverá haver um grau de completude (ou<br />

incompletude) contratual ótimo que maximizará<br />

a função de utili<strong>da</strong>de dos contratantes.”<br />

(NÓBREGA, 2011, p. 102).<br />

12<br />

PERSPECTIVAS SOBRE O CONTROLE DA INFRAESTRUTURA

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!