edição de 11 de março de 2024
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“Dá orgulho <strong>de</strong> ver como em<br />
todos os mercados os criativos<br />
brasileiros são admirados”<br />
vem trabalhar com a gente tem o melhor dos dois mundos. Hoje, temos por volta <strong>de</strong> 60<br />
pessoas na equipe.<br />
Quais são as principais diferenças entre o mercado brasileiro <strong>de</strong><br />
publicida<strong>de</strong> e o mercado europeu, on<strong>de</strong> você morou?<br />
Eu fiquei em Londres, França e Madri. E diria que cada país é um mundo diferente. O<br />
mercado inglês, assim como Nova York e talvez Dubai, é um polo criativo. Então, mesmo<br />
morando na França ou na Espanha, a gente fazia muita coisa com Londres. O mercado<br />
europeu é muito rico, vivo, com gran<strong>de</strong>s produções, porém, muito lento. Já o mercado<br />
brasileiro é muito mais veloz na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Ainda hoje você faz um lançamento<br />
<strong>de</strong> uma campanha com muito mais agilida<strong>de</strong> aqui, mesmo sendo parte <strong>de</strong> uma<br />
multinacional. Claro que tem empresas com comportamentos parecidos no mundo inteiro,<br />
como a própria P&G. Mas aqui tem coisas que eu consigo viabilizar por WhatsApp.<br />
E em termos <strong>de</strong> criação?<br />
O Brasil é muito bem-visto e respeitado. Dá orgulho <strong>de</strong> ver como em todos os mercados<br />
os criativos brasileiros são admirados. Tanto é que tem muito brasileiro lá fora.<br />
Na Espanha, principalmente, tinha reunião que eu fazia em português. Na França,<br />
o mercado é um pouco mais fechado, e é mais difícil <strong>de</strong> trabalhar lá por causa da<br />
questão da língua, só se tiver uma conta internacional. Eu tive a sorte <strong>de</strong> trabalhar na<br />
operação global <strong>de</strong> Colgate, que era baseada em Paris, daí eu levei dois brasileiros e<br />
<strong>de</strong>pois chegou mais um. Já em Londres e em Madrid, tem um monte <strong>de</strong> brasileiros,<br />
todo mundo muito respeitado. Eu acho que passou aquela onda <strong>de</strong> a propaganda<br />
brasileira ser mais vista na época dos prêmios. As campanhas ganhavam vários prêmios,<br />
mas diziam que eram fantasmas. Esse movimento <strong>de</strong> os brasileiros irem trabalhar<br />
lá fora ajudou ao pessoal enxergar que com brasileiro o ‘bicho pega’. E brasileiro<br />
é bom e trabalha, né? Tanto que quando eu voltei para o Brasil, eu relaxei. Pensei,<br />
‘graças a Deus, eu estou trabalhando com um time 100% brasileiro’. Porque o criativo<br />
brasileiro médio já se <strong>de</strong>staca lá fora, principalmente <strong>de</strong> direção <strong>de</strong> arte. Antigamente<br />
falava só disso, mas hoje o brasileiro sabe trabalhar muito em formatos além da<br />
mídia. Eu acho que até pela proximida<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> mídia, o brasileiro<br />
acaba ficando muito veloz nessa coisa <strong>de</strong>sformatada. Lá fora, as agências <strong>de</strong> mídia<br />
têm uma agenda. Aqui, não, é tudo parte, integrado. A gente está acostumado a sentar<br />
e trocar i<strong>de</strong>ia. Isso faz do brasileiro uma cepa diferente, ter uma cabeça estratégica,<br />
uma cabeça disruptiva e criativa em mídia, além <strong>de</strong> uma cabeça orientada para<br />
o craft. Tudo que sai daqui é lindo. Então, po<strong>de</strong>r trabalhar com criativo brasileiro <strong>de</strong><br />
novo, para mim, está sendo uma <strong>de</strong>lícia.<br />
Quais são os seus principais <strong>de</strong>safios na agência?<br />
A gente conseguiu preparar a Grey em seis meses para este ano. É uma agência que<br />
está completamente azeitada. Já tenho um plano <strong>de</strong> crescimento praticamente aprovado,<br />
como em novas áreas que a gente vai investir. Vamos atrás agora <strong>de</strong> clientes<br />
nacionais. A gente já tem um lado multinacional bastante forte. O gran<strong>de</strong> propósito<br />
da Grey, que faz jus ao ‘Famously effective’, é criar campanhas que furem a bolha do<br />
mercado <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, que realmente façam sucesso e movam o ponteiro do cliente.<br />
Também não vamos sair correndo atrás <strong>de</strong> clientes e <strong>de</strong>pois não conseguir entregar. A<br />
Grey é uma agência saudável e lucrativa. Simplesmente, preciso aumentar a oferta <strong>de</strong><br />
serviços.<br />
Como é que você preten<strong>de</strong> fazer isso?<br />
A gente já está estruturando uma parte <strong>de</strong> creator economy, por exemplo. A agência<br />
está muito social. Agora com Downy no ‘BBB’, temos um squad 24 horas trabalhando<br />
com todo tipo <strong>de</strong> interação. Temos Downy e Pantene no programa. É uma agência que<br />
naturalmente já está entrando na nova economia. O crescimento é mais orgânico, eu<br />
não estou forçando nada na agência que não seja natural. Montar uma área <strong>de</strong> martech,<br />
por exemplo, não é a nossa. O WPP já tem isso, enquanto nós temos <strong>de</strong> realmente<br />
crescer através da qualida<strong>de</strong> criativa.<br />
Essa exposição das marcas dos clientes no ‘BBB’ traz visibilida<strong>de</strong><br />
para a agência?<br />
Traz muita visibilida<strong>de</strong>. Eu fiquei surpreso positivamente como o ‘BBB’ ainda é o gran<strong>de</strong><br />
evento <strong>de</strong> mídia do Brasil. Só se fala disso. E traz resultados. É um tiro <strong>de</strong> canhão. Eu<br />
acho que o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>pois é manter. Ou seja, acabou o ‘BBB’ e o que a marca faz para<br />
conseguir evitar uma queda.<br />
Qual é a tagline da Grey?<br />
É o ‘Famously effective’, que é global. A gente não tem nenhuma específica no Brasil.<br />
Começamos a postar no LinkedIn essa história do melhor dos dois mundos, que é a criativida<strong>de</strong><br />
e a agilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> boutique, com o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>. Essa é uma verda<strong>de</strong> da<br />
agência. É uma re<strong>de</strong> pequena, é a maior das menores mesmo, e muito conectada, porque<br />
são poucos escritórios, a gente se conhece, eu faço parte do board global também.<br />
Então eu tenho acesso a tudo, como, por exemplo, vamos entrar em uma concorrência<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado segmento, em um e-mail eu já tenho as pessoas certas que eu vou<br />
passar informações e experiências que outras agências da Grey tiveram no mundo para<br />
po<strong>de</strong>r ajudar.<br />
E como está a parte <strong>de</strong> dados?<br />
Além das agências do grupo, eu tenho a WMS, que é a empresa <strong>de</strong> mídia da WPP, gigantesca.<br />
Eu tenho acesso a tudo, tanto dados como ferramental. É diferente <strong>de</strong> uma<br />
agência boutique in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, que não tem essa estrutura.<br />
E <strong>de</strong> que forma você trabalha a questão da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da<br />
agência, uma vez que as duas últimas CEOs foram mulheres?<br />
Nesse aspecto, a Lu (Luciana Rodrigues), que me antece<strong>de</strong>u, <strong>de</strong>ixou um legado muito<br />
bonito. O board da agência é mais feminino. Na criação, tem mais mulheres (cerca <strong>de</strong><br />
70%) do que homens, com cargos <strong>de</strong> direção criativa também. Temos pessoas pretas,<br />
comunida<strong>de</strong> LGBT. É uma agência bastante diversa e inclusiva. Foi a Lu que construiu<br />
isso e eu estou mantendo.<br />
Qual é o peso da diversida<strong>de</strong> para os negócios?<br />
É um ponto <strong>de</strong> vista que a gente não imagina. Por exemplo, para um dos nossos clientes,<br />
a Universida<strong>de</strong> Zumbi dos Palmares, criada por pessoas pretas para pessoas pretas,<br />
é impressionante como os profissionais pretos da agência trazem pontos <strong>de</strong> vista<br />
diferentes. Eu acho que a diversida<strong>de</strong> traz um letramento. A gente não é totalmente<br />
letrado, temos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, e eu acho que o papel das agências é, além <strong>de</strong> atrair essas<br />
pessoas, também treiná-las. Não basta trazer e jogar aos leões.<br />
E como vai ser a participação da Grey em prêmios neste ano?<br />
A gente vai seguir a orientação da Grey global, que vai <strong>de</strong>finir quais prêmios vamos<br />
participar, como em Cannes, e os principais locais também. Mais do que a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> prêmio, a régua é a qualida<strong>de</strong> do prêmio e a qualida<strong>de</strong> do trabalho.<br />
O mercado está aquecido neste início do ano no que diz respeito a<br />
novos negócios, concorrências?<br />
A agência está sendo chamada (para concorrências), o que é legal. Estão vindo naturalmente<br />
atrás da gente, pedindo o RFI (Request for information). Estamos conversando<br />
com muitas empresas aqui no Brasil, mas também está vindo muita coisa <strong>de</strong> fora para<br />
a gente fazer. Coca-Cola, por exemplo, é um cliente que está crescendo naturalmente,<br />
porque é aquilo que falamos, criativo brasileiro é bom e eles querem trabalhar com<br />
a gente. Trabalhamos junto com a Grey Nova York criando campanhas globais. É uma<br />
vitrine bacana.<br />
Quais são as principais <strong>de</strong>mandas dos clientes atualmente?<br />
Essa é uma boa pergunta. Cada agência vai falar que a sua expertise é o que os clientes<br />
mais necessitam. Eu acho que a compra <strong>de</strong> mídia inteligente e eficaz é fundamental, e<br />
isso tem <strong>de</strong> ser integrado com a agência e a criativida<strong>de</strong>. Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> performance,<br />
que fica bombar<strong>de</strong>ando as pessoas com mensagens que viram paisagem <strong>de</strong>pois,<br />
também é um dinheiro que se investe e po<strong>de</strong>ria ter muito mais valor com uma gran<strong>de</strong><br />
campanha. Antigamente, quando era mais televisão, e não vou fazer aqui uma apologia<br />
à televisão, muito pelo contrário, mas naquela época você ainda ouvia por aí o ‘Passa<br />
lá no Posto Ipiranga’. As pessoas repetiam bordões e hoje não se repete, porque as<br />
mensagens estão pulverizadas por causa da performance. E faz falta, porque isso é o<br />
que constrói o valor da marca.<br />
“Diversida<strong>de</strong> traz um letramento.<br />
E o papel das agências é, além <strong>de</strong><br />
atrair essas pessoas, treiná-las”<br />
jornal propmark - <strong>11</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2024</strong> 9