edição de 1º de abril de 2024

especial IA
Estadão capacita profissionais para uso
ético da IA em práticas do jornalismo
Leonardo Cruz, editor-executivo da área digital do Estadão, compartilha
iniciativas para o melhor uso da tecnologia na redação do veículo
Adrieny Magalhães
Leonardo Cruz: possibilidade de ganhos, oportunidade de benefícios, supervisão humana em todas as atividades e alerta para riscos
A
interseção entre inteligência artificial
(IA) e jornalismo tem se tornado
cada vez mais comum. O jornal
O Estado de S.Paulo, um dos grandes
pilares da imprensa brasileira, participa
da vanguarda dessa integração, explorando
as nuances da IA para aprimorar
as suas operações e a entrega de conteúdo
aos leitores, sempre com a preocupação
de educar os seus profissionais e
olhar de forma minuciosa para o avanço
dessa tecnologia.
Em entrevista ao propmark, Leonardo
Cruz, editor-executivo da área digital
do Estadão, destaca as iniciativas em
curso e a visão estratégica do veículo em
relação à inteligência artificial.
Cruz conta que o Estadão vem observando
de perto os avanços da IA e seu
potencial impacto no jornalismo. Segundo
Cruz, a IA generativa, que aparece com
mais força a partir do ChatGPT, tem sido
objeto de análise minuciosa pela equipe.
Esse interesse resultou na implementação
de iniciativas em diversas áreas da
empresa.
“Para entender se ela deveria ser
usada no jornalismo - e de que forma -
muito rapidamente nos organizamos no
jornal em várias frentes. Inclusive, em
cada área da empresa, ou em muitas áreas
da empresa, tínhamos profissionais
olhando para isso, entendendo o que
estava acontecendo e como a IA estava
se desenvolvendo. Desde o ano passado,
a gente percebeu que havia a possibilidade
de ganhos com a inteligência artificial,
havia uma oportunidade de benefícios,
mas também havia riscos. A gente
vai ficar atento a esses riscos para que
eles não atrapalhem as boas práticas jornalísticas”,
conta Cruz.
Entre os usos já incorporados na redação
do Estadão, destacam-se a utilização
da IA para tradução, sugestões de títulos
de matérias e chamadas em redes sociais.
Além disso, a IA tem sido empregada
para auxiliar repórteres na melhoria
do inglês para entrevistas.
Um dos aspectos cruciais ressaltados
por Cruz é a necessidade de supervisão
humana em todas as atividades envolvendo
IA. “Estamos fazendo tudo com
supervisão humana, a gente entende
que é muito importante que o uso da
ferramenta seja acompanhado para que
a gente não corra risco de publicar informações
erradas.”
Reconhecendo os riscos inerentes ao
uso dessa tecnologia em um contexto
jornalístico, o Estadão foi pioneiro na elaboração
de um código de conduta específico
para o uso de IA pelos profissionais.
Esse documento, disponível no próprio
site do veículo, delineia as diretrizes éticas
e práticas para o emprego responsável
da IA na produção de conteúdo.
Além disso, o veículo instituiu um comitê
interno de IA, composto por profissionais
de diversas áreas, que se reúne
regularmente para discutir as principais
iniciativas e revisar o código de conduta,
adaptando-o às evoluções tecnológicas
e às necessidades do jornalismo contemporâneo.
Falando sobre vida prática, o Estadão
também desenvolveu uma ferramenta
interna para o uso de IA, a ‘Leia’, robô de
IA do Estadão que responde perguntas
dos usuários. “A ‘Leia’ também tem um
“Não dá para
brigar com a
tecnologia”
modo que só é acessado pelos jornalistas
do Estadão, que é o que a gente chama
de modo jornalista. Quando você entra
na ‘Leia’ usando as suas credenciais
de jornalista do Estadão, ela te entrega
recursos de IA para você poder usar no
trabalho”, explica Cruz.
Com a preocupação de também edu-
Taba Benedicto/Estadão/Divulgação
car os seus profissionais, Bruno Romani,
editor de tecnologia e líder dentro da
redação no uso de IA, está estruturando
um curso para os jornalistas do Estadão.
Cruz enfatiza a inevitabilidade da
adoção tecnológica e a importância de
os veículos jornalísticos acompanharem
essa evolução. “Não dá para brigar com a
tecnologia, senão, estaríamos na era das
cavernas. A partir do momento em que a
sociedade vai avançando e descobrindo
novas tecnologias, você precisa rapidamente
olhar para essa inovação e entender
como ela funciona e de que maneira
ela pode ser mais proveitosa. Quem está
trabalhando com jornalismo e não está
olhando para IA, está perdendo um momento
muito importante da história”,
enfatiza.
O Estadão reconhece a responsabilidade
de garantir a integridade e a confiabilidade
de seu jornalismo, mesmo
diante do avanço da IA. Ao integrar a IA
em suas operações, o jornal não apenas
aumenta a sua eficiência, mas também
reafirma o seu compromisso com o jornalismo
ético em uma era digital ditada
por uma constante transformação.
18 1º de abril de 2024 - jornal propmark