baixar - Arte + Arte
baixar - Arte + Arte
baixar - Arte + Arte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ao fazer esta afirmação, Dietmar Elger tinha em mente não só os expressionistas<br />
alemães da Ponte e do Cavaleiro Azul, mas também os de outros grupos, além de<br />
artistas independentes que começavam a desenvolver sua arte nos primórdios do século<br />
passado. Com toda certeza, dados os temas que abordavam e a maneira drástica como os<br />
realizavam, “a rejeição das estruturas políticas e sociais vigentes” era uma das suas<br />
principais motivações, já que se vivia às vésperas da eclosão da Primeira Guerra<br />
Mundial, os sistemas políticos de então estavam se degradando rapidamente e os<br />
contrastes entre ricos e pobres vinham se tornando agudos. Lembrando o resumo de Os<br />
Sertões que fizemos no capítulo anterior, nota-se aí uma semelhança de situações, não<br />
em seus aspectos específicos, mas na crise sócio-política que também o Brasil vivia<br />
naquele final do século XIX, uma das causas originárias da Guerra de Canudos, conflito<br />
sob vários aspectos igualmente captado e exposto pela xilogravura expressionista de<br />
Adir Botelho.<br />
Contudo, nem todos os artistas expressionistas tinham no protesto sócio-político<br />
sua principal motivação. Em alguns casos questões de ordem religiosa e filosófica<br />
estavam por trás da grande inquietação de sua arte; além disso, a experimentação de<br />
novas possibilidades formais inspiradas nas artes dos povos não europeus como os<br />
africanos e asiáticos, ou na arte infantil e na arte dos loucos também fazia parte do<br />
interesse de muitos destes expressionistas, os quais, inclusive, expuseram obras de sua<br />
autoria ao lado destas formas de arte totalmente desconsideradas pelos meios oficiais.<br />
Fazendo uma comparação entre os dois grupos de expressionistas alemães citados<br />
acima, Maria Heloísa M. Dias refere-se exatamente a este ponto na busca de distinguir a<br />
produção dos dois:<br />
131<br />
Contrariamente à explosão vitalista e aos impulsos dispersivos do outro grupo [A<br />
Ponte], eles [os membros do Cavaleiro Azul] vinculam-se a uma pura inspiração interior<br />
rumo à espiritualização pictórico-musical até atingir a abstração máxima, pelo repúdio<br />
da imagem real. O colorido não está mais carregado de tumultos e comoções nervosas.<br />
Menos impregnado de germanismo que A Ponte, o grupo de Munique é bem mais<br />
europeu e congrega artistas de variadas e inovadoras correntes, o que se comprova nas<br />
exposições internacionais que promoveram: Braque, Picasso, Malevich, Hans Arp,<br />
membros da Ponte, num sincretismo tal que teve como maior intuito romper os limites<br />
da expressão artística. Isso se solidifica com a publicação, em 1912, do almanaque Der<br />
Blaue Reiter, por Franz Marc e Kandinsky, periódico que no seu prospecto inaugural<br />
anuncia: “trata do mais recente movimento pictórico da França, Alemanha e Rússia e<br />
mostra os seus sutis fios de ligação com o gótico e os primitivos, com a África e o<br />
grande oriente, com a arte infantil e a popular, tão expressivas e espontâneas, e<br />
especialmente com o movimento musical mais moderno da Europa...” 179