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A parte final do parágrafo, que grifamos em negrito, tem um significado muito<br />

interessante, pois penetra na região do imaginário popular e ancestral, dizendo respeito<br />

ao fato de que muito deste imaginário foi apropriado pelos artistas europeus citados e<br />

por alguns outros justamente por ser um manancial de idéias e imagens riquíssimas<br />

quando comparadas às fórmulas estereotipadas do repertório mitológico clássico. Não<br />

que a herança cultural de um Picasso, por exemplo, não fosse rica em mitos e lendas,<br />

muito pelo contrário; mas este artista teve a lucidez de perceber numa arte como a<br />

africana, por exemplo, que não tinha qualquer ligação direta com sua herança cultural<br />

(pelo menos não em relação à parte clássica desta herança), uma saída formalmente<br />

inovadora, capaz de dar um novo alento a sua pesquisa de linguagem plástica e,<br />

conseqüentemente, a toda pesquisa artística européia de seu tempo 220 . Antes dele,<br />

porém, outros artistas, desde os românticos no início do século XIX, já vinham<br />

buscando estas novas referências culturais para seus trabalhos 221 . Gauguin é um dos<br />

exemplos mais conhecidos, tendo, inclusive, se mudado para as ilhas dos mares do sul,<br />

praticamente imergindo de corpo e alma numa cultura completamente exótica para a<br />

Europa, buscando encontrar um estado de pureza total neste mundo de belas mulheres<br />

de pele morena e olhos amendoados, dando-lhes, através de sua colorida pintura, a<br />

aparência de criaturas que viviam num mítico paraíso tropical. Mas adiante voltaremos<br />

a falar deste tópico importante – o imaginário popular -, por agora citaremos outro<br />

trecho da obra de Frota, onde a autora prossegue falando da interação entre nossos<br />

artistas populares e nossos modernistas. (fig. 272 a 286)<br />

166<br />

[...] Desde os anos 1920 Di Cavalcanti pinta serestas, mulatas, sambistas, moleques,<br />

trabalhadores, favelas, mulheres da vida, casas pobres do interior rural. A sua matéria<br />

traduz toda a sensualidade que permeia a vida brasileira em tantos níveis, em particular<br />

na representação do corpo feminino, que irradia para toda a composição os tons quentes<br />

da terra. Nos anos 1920 temos as xilos de Livio Abramo, com cenas de luta operária.<br />

Nos anos 1930 e 1940, Alberto da Veiga Guignard, Candido Portinari, Roberto Burle<br />

Marx, Di Cavalcanti, Tomás Santa Rosa, José Pancetti fazem retratos de empregadas<br />

domésticas, fuzileiros, trabalhadores urbanos e rurais. Tarsila do Amaral aborda a<br />

paisagem brasileira, a religiosidade popular e o operariado paulistano, tendo antes<br />

incorporado a escala cromática de uma das suas fazes azuis e rosa que chamava de<br />

“caipiras”. O escultor Victor Brecheret realiza obra em que se destaca uma fase na qual<br />

elementos de arte indígena são absorvidos genialmente. O pintor Vicente do Rego<br />

Monteiro transfunde em larga medida do seu trabalho elementos indígenas marajoaras.<br />

Chegado de longa permanência na Europa em 1929, com uma sólida formação<br />

intelectual e artística, e tendo incorporado lá mesmo a experiência das vanguardas,<br />

Guignard desenvolve uma pintura autônoma dos movimentos nacionais, embora alinhe<br />

com os modernistas, e transforma-se num dos mais altos e originais intérpretes do povo

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