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conforme descrito por Gilberto Velho (1994), constituído de “pequenos proprietários,<br />
bóias-frias, pescadores, desempregados, semi-empregados, marginais do mercado de<br />
trabalho e de todos os outros tipos, empregados domésticos, funcionários públicos,<br />
técnicos de nível médio, comerciários, bancários, diversos setores de camadas médias,<br />
moradores de favelas, conjuntos, subúrbio, periferia etc.” Por outro lado, Velho chama a<br />
atenção para a fluidez das fronteiras entre os níveis de cultura, “uma das características<br />
mais definidoras da sociedade brasileira”. Assim, as culturas populares têm uma relação<br />
interativa com as elites, e a sociedade complexa é vista constituída por dois conjuntos<br />
culturais básicos que produzem e vivem essa relação de oposição complementar”,<br />
conclui ele. 210<br />
Entendemos que esta “fluidez de fronteiras” nas palavras de Frota, assim como<br />
“essa relação complementar entre as “culturas populares” e as “elites”, segundo Velho,<br />
aplicadas ao campo das artes explica muito da interação entre o “erudito” e o “popular”<br />
como comentado acima, sendo uma via de mão dupla na qual ambas as partes se<br />
enriquecem: o artista erudito entra em contato com uma expressão mais “bruta” e<br />
carregada de significações subjetivas, muitas vezes míticas, que trazem um novo alento<br />
para sua arte, enquanto o artista popular, de maneira um pouco mais complexa, dadas as<br />
suas dificuldades de acesso ao mundo mais refinado da cultura das elites, “pesca”<br />
determinadas idéias e conceitos que lhes caem à mão via TV, rádio, jornais, revistas,<br />
“por ouvir falar” e outros meios. Estes temas que nem sempre entende claramente, são<br />
aplicados a seu trabalho espontâneo gerando obras repletas de informações, muitas<br />
vezes contraditórias, mas por isso mesmo riquíssimas plástica e semanticamente. É o<br />
que vemos acontecer, por exemplo, na literatura de cordel e nas suas capas<br />
xilogravadas, em que os poetas e gravadores populares citam personagens e fatos<br />
históricos pertencentes à cultura da elite, misturando-os com suas próprias memórias -<br />
histórias antigas de origem difusa - fatos locais e fantasias 211 . Essa interação entre os<br />
dois lados, na verdade, ocorre constantemente, não só nas artes plásticas, mas também<br />
nas outras formas de arte.<br />
Entretanto, quando se trata da exibição dos produtos desta arte popular ou de<br />
culturas “primitivas”, nem sempre esta interação é reconhecida de modo claro,<br />
equilibrado, por parte dos representantes das elites eruditas, havendo ocasiões que o<br />
rótulo de “exótico” é tudo o que merece esta arte produzida pelas sociedades mais<br />
“atrasadas”.<br />
A questão da recepção das culturas – indígenas ou populares – volta a interessar-nos sob<br />
outro aspecto aqui. Tico Escobar (1996) observa que, “se cultura é um processo de<br />
respostas simbólicas a determinadas circunstâncias, suas formas inevitavelmente<br />
mudarão ao se defrontarem com as exigências de novas situações. (...) Há, no entanto,