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185<br />

valores e as normas sociais perderam seu sentido existencial para aqueles que seguem o<br />

princípio da esperança, de um mundo que virá a ser, como no tempo primitivo da<br />

virtude e da bonança. O profeta regula a história ao anunciar o seu fim. 235<br />

Por outro lado, estes autores que tratam do “imaginário” referem-se à America<br />

Latina como um lugar onde tudo pode acontecer. Na sua visão ela é a terra do “realismo<br />

mágico” em que a realidade e as coisas incompreensíveis que se vêem nos sonhos se<br />

misturam no cotidiano dos povos. Não seria por acaso, portanto, que este nosso<br />

continente gerou destacados autores dedicados a narrar estas situações inusitadas que<br />

vivenciamos, escritores como, por exemplo, Gabriel Garcia Marquez, Jorge Amado e<br />

Jorge Luis Borges. É assim, portanto, que o próprio Euclides da Cunha, mesmo<br />

buscando descrever o que presenciou na Guerra de Canudos de um ponto de vista<br />

científico, não deixa de revelar a sua surpresa diante dos fatos inusitados a que assistiu<br />

naquele conflito sertanejo, dando a sua prosa um toque denunciatoriamente irônico e<br />

poético.<br />

Aliás, no Brasil e no nosso Nordeste em especial estão sempre ocorrendo fatos<br />

que só podem ser classificados como inusitados. Laplantine e Trindade, em relação ao<br />

Nordeste (e outras paragens), fazem uma curiosa constatação:<br />

A realidade e a ficção confundidas se manifestam também na escolha de nomes para os<br />

filhos. Dessa forma, no Nordeste brasileiro podemos encontrar pessoas que se chamam<br />

Chave de Bronze, Dinossauro, Éter Sulfúrico, Magnésia Bisurada, Pif Paf, Lança<br />

Perfume, Cólica de Jesus, Vitor Hugo da Encarnação, Martin Luther dos Santos. Um<br />

funcionário da prefeitura de Garanhuns chamou seus dois filhos de John Kennedy e<br />

Robert Kennedy. Um certo Kuroki Bezerra de Menezes chamou seus cinco filhos de<br />

Kilza, Káthia, Keila, Kênia e Kdja. 236 O campeão no gênero é, sem dúvida, Jerônimo<br />

Ribeiro Rosado, habitante de Mossoró. Foi pai de 21 filhos dos quais quinze receberam,<br />

respectivamente, o nome de Terceiro, Sexto, Sétimo, Oitavo, Nono, Décimo, Décimo<br />

Primeiro [...], Vigésimo primeiro. Encontramos (igualmente no Nordeste) um rio de<br />

água fervente que vai dar no oceano. Vimos em Belém guarás que, de tanto comer<br />

camarão, ficam com a cor do camarão. São camarões voadores. Em Comodoro<br />

Rivadavia, no sul da Argentina, o vento havia um dia levado pelos ares um circo inteiro.<br />

No dia seguinte, pescadores traziam nas redes tigres, leões e girafas. 237<br />

Certamente muito mais poderia ser dito a respeito do quão rico é o imaginário<br />

popular brasileiro; os exemplos abundam e seria cansativo tentar enfileirá-los aqui.<br />

Acreditamos que por tudo o que os autores citados disseram e pelos exemplos visuais<br />

expostos, fica muito clara a natural conexão da nossa arte popular e a de muitos dos<br />

nossos artistas da norma culta com o onírico, com o absurdo, com o inusitado, mesmo<br />

que não possuam uma ligação direta com o Surrealismo. Vem daí que é inteiramente<br />

natural e até necessário que Adir Botelho tenha incluído em suas gravuras este “clima”

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