baixar - Arte + Arte
baixar - Arte + Arte
baixar - Arte + Arte
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
159<br />
uma resistência quando se trata de selecionar e exibir essas criações ao público, que<br />
muitas vezes congela as artes populares como pertencentes ao passado, enquanto<br />
qualifica a arte alta das elites como contemporânea e/ou projetada para o futuro”. Além<br />
disso, quando se trata de analisar ou expor a obra de artistas da norma culta – situados<br />
no passado ou no presente da história da civilização ocidental – num arco que pode ir,<br />
por exemplo, de Rembrandt a Klee, de Aleijadinho a Guignard -, o fato é que<br />
especialistas em arte possuem informação não só sobre o contexto social e histórico em<br />
que o trabalho destes artistas foi realizado, como também uma outra, não menos<br />
acurada, de suas biografias. Há, portanto, um clima de maior abertura para que a obras<br />
da norma culta logrem o alvo de seu atingimento pelo seu receptor, por mais que o valor<br />
formal de sua concepção tenha autonomia para isso. Já as culturas do povo são<br />
historicamente desconhecidas. Muitas de suas criações são até denominadas por nós de<br />
“primitivas”, como se fossem de grupos tribais distantes no espaço e no tempo das<br />
sociedades complexas urbanas. Precisamos, portanto, estudar com mais regularidade e<br />
tornar conhecido um corpus de informações sobre as criações do povo. 212<br />
Acreditamos que quando artistas da “norma culta” como Picasso, Klee ou Adir<br />
Botelho, por exemplo, levam para sua obra, geralmente de forma explícita, esta<br />
influência das artes produzidas pelas “culturas do povo” estão contribuindo para torná-<br />
las conhecidas e, ao mesmo tempo interessantes àqueles responsáveis pela produção de<br />
um “corpus de informações sobre as criações do povo”. Ao analisar tais influências e<br />
seus significados para a obra de um artista específico - Picasso, por exemplo -, os<br />
especialistas em arte ocidental terão que necessariamente estudar, ou, ao menos, se<br />
informar sobre a obra da cultura popular ou tribal de onde veio esta influência. Se hoje<br />
nós sabemos um pouco mais sobre a arte produzida sobre as diversas etnias africanas ou<br />
a arte dos nossos indígenas (e quando dizemos “nós” referimo-nos não só ao<br />
antropólogo, etnólogo ou historiador, mas também ao cidadão comum) isto se deve, em<br />
parte, porque nossos artistas “eruditos” por elas se interessaram e delas fizeram suas<br />
releituras, dando-lhes mais visibilidade nos diversos meios de informação.<br />
Ainda sobre a questão da exibição da arte popular, mais especificamente em<br />
museus – tema que consideramos de grande importância no contexto deste trabalho, já<br />
que tanto a arte produzida nos grandes centros econômicos como aquela produzida nas<br />
periferias só ganham sentido amplo quando exibidas nestas instituições (ou em outras<br />
similares) que as consagram –, a mesma autora afirma:<br />
As expressões materiais da cultura popular, focalizadas por meio de objetosdocumentos<br />
que signifiquem a visão de mundo e a forma de viver e relacionar-se de<br />
brasileiros pertencentes às mais diversas áreas geoculturais, passaram a ser nestes<br />
museus consideradas testemunhos do que continua vivo e se transformando lá fora, no<br />
contexto sociocultural em que homens, mulheres, crianças lhes dão significado. O foco<br />
passou do objeto para o sujeito, iluminando a pessoa humana produtora de cultura,<br />
relacionada a todos os aspectos da vida em sociedade. O fato é que se constitui