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gradualmente entre nós um repertório documental acurado, que constata, entre grupos<br />
tribais, núcleos e indivíduos geradores de arte popular, a existência dos seus padrões de<br />
gosto, as formas de qualificação de um artista em seu contexto e/ou fora dele, as<br />
opiniões dos seus pares e de seus próximos sobre seu trabalho. Busca-se, ao mesmo<br />
tempo, tornar cada vez mais visíveis os nexos transculturais entre criações<br />
populares e a produção das camadas altas 213 [grifo nosso].<br />
Mas quanto a estas exibições das “expressões materiais da cultura popular” e a<br />
busca de dar visibilidade aos “nexos transculturais entre criações populares e a produção<br />
das camadas altas”, a autora não deixa de fazer uma ressalva importante - que se tenha<br />
cuidado em relação às comparações:<br />
Fundamental é atentar para não incorrer no etnocentrismo de indicar uma precedência<br />
destas no encontro de soluções inventivas, ou mesmo induzir o receptor a pensar que<br />
possam assemelhar-se “surpreendentemente” às criações da elite, como se fossem<br />
achados fortuitos das mentes simplórias como assinala Sally Price (2000). Price oferece,<br />
entre outros exemplos, a exposição Primitivism in the 20th century, realizada pelo<br />
MoMA em 1984. Colocados lado a lado uma escultura africana e um Picasso, “a<br />
similaridade entre as propostas não pode significar outra coisa além de um valor<br />
comparativo. E se o status de um dos dois objetos depende do fato de ele ser<br />
reconhecido como praticamente tão bom quanto o outro, certamente não será o Picasso,<br />
pois Picasso já está suficientemente estabelecido na mente do público por seu próprio<br />
mérito tornando inimaginável que se lhe atribua um status ‘tão bom quanto’. Assim, é a<br />
máscara africana que é maravilhosa por ser ‘tão boa’ quanto o Picasso. Price chama<br />
ainda a nossa atenção para a tendência dos museus de arte não desejarem nada<br />
contextualizado, para que as obras falem só pela forma, e outra, oposta, nos museus<br />
antropológicos, que privilegiam a informação científica em detrimento da ênfase<br />
estética. 214<br />
Este não deixa de ser um ponto delicado na questão da apropriação pelos artistas<br />
“eruditos” de elementos da arte dos artistas “populares”. Ela não deve ser vista como<br />
uma possível melhora para esta última por ter sido de alguma maneira alavancada para o<br />
mundo da norma culta, pois em seu meio natural tais elementos são “objetos-<br />
documentos que [significam] a visão de mundo e forma de viver e relacionar-se” de<br />
uma cultura específica, seja a de brasileiros ou a de povos de qualquer outro lugar<br />
mundo. Na verdade, cada forma de arte, seja criada aonde for e pela camada social que<br />
for, tem que ser respeitada pelo que ela é dentro do seu próprio contexto, e não apenas<br />
por ter sido utilizada por este ou aquele artista “top” do mundo cultural dos grandes<br />
centros artísticos. No caso da série Canudos, vemos esta aproximação com a cultura<br />
popular num contexto de muito respeito e equilíbrio, pois Adir Botelho conhece bem os<br />
seus vários representantes, especialmente aqueles que militam na área da xilogravura,<br />
nomeando-os e apontando-lhes as qualidades criativas.<br />
P. Como o Sr. vê o cordel?