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com forma como gênero ou estilo artístico. A concepção adotada como seminal é a de<br />
forma entendida como estrutura essencial e interna, como construção do espaço e da<br />
matéria. Dentro desta concepção, forma e conteúdo tendem a coincidir. O termo<br />
“estrutura” seria a ponte que interligaria os diversos significados da forma. Esta<br />
concepção da forma como estrutura essencial e interna já estava presente no pensamento<br />
de Aristóteles, formando parte da estética clássica. Aristóteles, em Metafísica, falava da<br />
forma como substância, como componente necessário. A forma era entendida como<br />
ação e energia, como propósito e o elemento ativo da existência do objeto. 204<br />
Compreendemos que as expressões “forma entendida como estrutura essencial e<br />
interna, como construção do espaço e da matéria”, além de “a forma era entendida como<br />
ação e energia, como propósito e o elemento ativo da existência do objeto” traduzem<br />
bem, voltando ao nosso tema central, de que maneira a forma se apresenta nas<br />
xilogravuras de Adir Botelho, pois se de um lado ela efetivamente estrutura não só o<br />
espaço como o relacionamento entre as figuras dentro dele, por outro, é a base da “ação<br />
e energia” que ativamente nos expressam um conteúdo dramático relativo à Guerra de<br />
Canudos.<br />
Seguindo em sua argumentação, mais adiante Montaner afirma que “as formas<br />
sempre transmitem valores éticos, remetem a marcos culturais, compartilham critérios<br />
sociais e se referem a significados”. 205 Trata-se, mais uma vez, de uma afirmação<br />
inteiramente aplicável, como a anterior, ao nosso objeto de estudo, já que “marcos<br />
sociais”, “critérios sociais” compartilhados e “significados” diversos advêm justamente<br />
de como a forma é trabalhada na gravura de Adir, a qual sintetiza em si, num jogo de<br />
rigorismo formal e expressionismo intenso, todo um contexto emocional, psicológico e<br />
sociocultural não só voltado para um fato específico – o universo conflituoso de<br />
Canudos –, mas extrapolando-o em direção ao contexto amplo de todas as guerras em<br />
todos os tempos e lugares.<br />
Fazendo a ressalva, por fim, de que a obra de Montaner aqui citada esteja<br />
voltada para inúmeros aspectos da criação da imagem no contexto do século XX, mas<br />
com alcance dentro do XXI, em especial no que se refere à imagem arquitetônica e ao<br />
imenso universo da imagem produzida pela “sociedade capitalista”, com isso indo além<br />
do campo que ora nos interessa – o das artes visuais, particularmente o da gravura -,<br />
queremos apontar uma proximidade de pensamentos entre aquele autor e De Fusco:<br />
ambos organizam grandes relações – “Linha da Formatividade” no caso do segundo, e<br />
“cinco grandes itens” no caso de Montaner -, que nos ajudam a entender como a forma é<br />
aplicada pelos criadores no séc. XX, sejam eles artistas plásticos, arquitetos ou