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Corroborando esta nossa análise, o próprio artista em entrevista que nos foi concedida<br />
em 2011, diz o seguinte sobre a importância do desenho na realização de suas gravuras:<br />
P: Como realiza as suas xilogravuras?<br />
147<br />
R: Eu me coloco à frente do cavalete, a matriz de madeira na vertical como se fosse uma<br />
tela, e a mão funciona mecanicamente, faço o desenho direto na madeira, tudo de uma<br />
só vez; não corrijo. Uso pincel de cabo longo, pêlos de cerda, e tinta nanquim. Desenho<br />
mais uma ou duas matrizes, levo uma das madeiras para a bancada e começo a gravar<br />
com as goivas, buris e martelos. O desenho mesmo na sombra do inconsciente<br />
norteará a imagem latente da gravura. Em certos casos os excessos do desenho têm<br />
emprego legítimo, por conferir à expressão mais vigor ou clareza. Os estudos em<br />
geral, croquis, anotações, enquadramentos, esboços de composição são<br />
desenvolvidos a nanquim, grafite, caneta-tinta e carvão. As 120 xilogravuras da série<br />
Canudos foram realizadas em madeira canela ou peroba, com dimensões aproximadas<br />
de 50 X 40 cm, cada matriz. 193<br />
As partes destacadas em negrito confirmam claramente o que dissemos acima<br />
sobre a proeminência do desenho formativo na obra do xilogravador, que está sempre<br />
presente mesmo que “na sombra do inconsciente” e, com isso “norteará a imagem<br />
latente da gravura”. Em outras palavras, desenhar se tornou um procedimento<br />
introjetado no artista, a tal ponto que mesmo seus “excessos” são aproveitados “por<br />
conferir à expressão mais vigor e clareza”. E por “excessos” podemos compreender<br />
perfeitamente a sua forte preocupação formalista e não uma liberalidade excessiva da<br />
mão que redunde em algo disforme ou inadequadamente composto, resultado<br />
completamente ausente da obra de Adir Botelho, seja em Canudos ou em qualquer outro<br />
tipo de trabalho por ele realizado.<br />
Num outro ponto desta entrevista, ainda tratando da técnica do desenho, mas<br />
referindo-se aos desenhos a carvão do conjunto Canudos: agonia e morte de Antonio<br />
Conselheiro, nos diz o professor Adir Botelho:<br />
P: Por que o uso do carvão?<br />
Na série Agonia e morte de Antonio Conselheiro/Desenhos a carvão, há uma dimensão<br />
carregada de dor e tristeza, a expressão do que existe é infinita. Antonio Conselheiro<br />
aparece não como mártir, sim como um misterioso caminhante cujos conselhos atraíam<br />
e seduziam multidões. Os 22 desenhos da série arrastam consigo divisões de sombra e<br />
mistério, o humor envolve tudo numa atmosfera irreal e fantasmagórica. Do carvão<br />
extraiu-se a obra do único modo como se deixou realizar, uma visão, um ato de<br />
transferência, uma concepção do desenho pronto, ajustado em tonalidades de branco<br />
quase puro até o preto mais carregado. No processo do carvão nada é definitivamente<br />
impossível, o artista age segundo um sistema de reflexos: traços, texturas, manchas<br />
podem ser modificados quantas vezes for necessário. Desfazer detalhes, renunciar a<br />
trechos do desenho é tarefa simples, basta apagá-los, o que pode ser feito diretamente<br />
com a própria mão, ou material apropriado. O artista pode em seguida retomar o