Revisão e formatação: Lancelot – Papiros_Virtuais ... - CloudMe
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De costas voltadas para os outros, avançou até às altas janelas, em busca de<br />
inspiração nas figuras dos vitrais. Nada encontrou.<br />
Meta-se na cabeça do Saunière, disse para si mesmo, olhando para fora, para o<br />
College Garden. Que consideraria ele ser o globo que devia estar no túmulo de Newton?<br />
Imagens de estrelas, cometas e planetas perpassaram entre a chuva que caía, mas<br />
Langdon ignorou-as. Saunière não era um homem de ciência. Era um homem da<br />
humanidade, da arte, da História. O sagrado feminino... o cálice... a Rosa... a banida.<br />
Maria Madalena... o declínio da deusa... o Santo Graal.<br />
A lenda sempre retratara o Graal como uma amante cruel, dançando na sombra<br />
perpetuamente no limite da visão, murmurando ao ouvido dos que a perseguiam,<br />
incitando-os a dar mais um passo para então desaparecer na bruma.<br />
Ao olhar para as árvores do jardim que o vento agitava, Langdon sentiu a presença<br />
dela. Os sinais estavam por todo o lado. Como uma desafiadora silhueta a emergir do<br />
nevoeiro, a mais antiga macieira de Inglaterra ostentava as suas primeiras flores de cinco<br />
pétalas, todas brilhantes como Vênus. A deusa estava agora no jardim. Dançava na<br />
chuva, cantando as canções das eras, espreitando de trás dos ramos cheios de rebentos,<br />
como que a lembrar a Langdon que o fruto do conhecimento crescia próximo, mas<br />
mesmo assim fora, do alcance dele.<br />
Do outro lado da sala, Sir Leigh Teabing via, confiante, Langdon olhar pela janela,<br />
como que sob um feitiço. Exatamente como eu esperava, pensou. Há de chegar lá.<br />
Havia já algum tempo que desconfiava que Langdon podia ser a chave para<br />
chegar ao Graal. Não fora por acaso que pusera o seu plano em ação na noite em que o<br />
americano devia encontrar-se com Jacques Saunière. Ao escutar as conversas do<br />
conservador, ficara certo de que o interesse de Saunière em encontrar-se particularmente<br />
com ele só podia significar uma coisa. O misterioso manuscrito do Langdon tocou um<br />
nervo no Priorado. Langdon tropeçou na verdade, e Saunière teme que ele a revele.<br />
Tinha certeza de que o Grão-Mestre estava convocando-o para o silenciar.<br />
A verdade já foi silenciada durante muito tempo.<br />
Teabing sabia que tinha de agir rapidamente. O ataque de Silas atingiria dois<br />
objetivos. Impediria Saunière de convencer Langdon a manter-se calado, e garantiria que,<br />
quando a Chave de Abóbada estivesse em poder de Teabing, Langdon estaria em Paris<br />
e disponível para ser recrutado em caso de necessidade.<br />
Arranjar o encontro fatal entre Saunière e Silas fora quase ridiculamente fácil. Eu<br />
tinha informações confidenciais sobre os piores medos do Saunière. Na tarde anterior,<br />
Silas telefonara ao conservador do Louvre fazendo-se passar por um perturbadíssimo<br />
padre: “Monsieur Saunière, peço-lhe que me desculpe, mas preciso de falar consigo<br />
imediatamente. Nunca deveria violar a santidade do confessionário, mas neste caso,<br />
sinto que tenho de o fazer. Acabo de ouvir em confissão um homem que afirma ter<br />
assassinado membros da sua família”.<br />
A resposta de Saunière fora de excitada prudência: “A minha família morreu em<br />
um acidente. O relatório da Polícia foi conclusivo”.<br />
“Sim, um acidente de trânsito”, dissera Silas, iscando o anzol. “O homem com<br />
quem falei afirma ter forçado o carro deles a sair da estrada e cair em um rio”.<br />
Saunière ficara calado.<br />
“Monsieur Saunière, nunca teria lhe telefonado se este homem não tivesse feito<br />
um comentário que me levou a temer pela sua segurança”. Silas fizera uma pausa. “E<br />
falou também da sua neta, Sophie”.<br />
A menção do nome de Sophie fora o catalisador. Jacques Saunière entrara em<br />
ação. Dissera a Silas que fosse imediatamente ter com ele ao lugar mais seguro de que<br />
conseguia lembrar-se: o seu próprio gabinete no Louvre. Depois, telefonara a Sophie