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Presidente - Pedagogia ao Pé da Letra

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ANÍSIO S. TEIXEIRA<br />

como, pois, surpreendermo-nos de que O homem, hoje,<br />

em meio <strong>ao</strong>s prodígios de sua época, se sinta mais do que<br />

nunca alheio <strong>ao</strong> seu tempo e, O que é muito pior. alheio <strong>ao</strong><br />

seu semelhante?<br />

O remédio para tal situação não será, contudo, — destaque-se<br />

bem e a tempo esta ressalva indispensável — O regresso<br />

a nenhuma <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des totalitárias de outras épocas,<br />

mas a gradual introdução do método científico <strong>ao</strong>s campos de<br />

que ele vem sendo banido e a reintegração <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de científica<br />

no seu contexto humano, ensinando-se a ver<strong>da</strong>de sobre<br />

os fatos, a ver<strong>da</strong>de sobre os meios, a ver<strong>da</strong>de em função dos<br />

fins a que deve servir.<br />

A divisão, com efeito, entre meios e fins é uma conseqüência<br />

do falso dualismo entre ciência e filosofia e ciência<br />

e religião. não há meio que não seja um fim, nem fim que<br />

não se desdobre em meios. Dizer-se que a ciência nos dá os<br />

meios, mas não nos dá os fins, é algo que se custa a conceber,<br />

sendo, devendo ser a ciência um produto do homem e para O<br />

homem. A não ser que a ciência fosse cultiva<strong>da</strong> por seres extra-humanos,<br />

indiferentes <strong>ao</strong>s interesses e fins humanos, ninguém<br />

poderia imaginar que O homem estu<strong>da</strong>sse O câncer.. .<br />

para melhor difundi-lo.<br />

Pois, a divisão entre a ciência-meios e a filosofia ou religião-fins<br />

produz na<strong>da</strong> menos do que isto. Os cientistas passaram<br />

a seres extra ou in-humanos e quando alguns, como<br />

Einstein ou Oppenheimer, se lembram de que s<strong>ao</strong> humanos,<br />

corre pelo mundo uma surpresa... Pois não é que esses<br />

operários <strong>da</strong> ciência estão a querer dirigir a vi<strong>da</strong>?<br />

E sente-se, aí, em singular perversão, O resíduo <strong>da</strong> velha<br />

fórmula grega. Os cientistas, transformados em elaboradores<br />

apenas de meios, para fins que lhes são alheios, tomam O lugar<br />

de artesãos — técnicos nos dias de hoje — e, como tais, ficam<br />

subordinados <strong>ao</strong>s elaboradores dos fins, que são a tradição<br />

e os que a interpretam e praticam, isto é, os legisladores e<br />

políticos, nem filósofos nem cientistas, mas, oportunistas e<br />

empíricos, bem pouco autônomos, aliás, porque na<strong>da</strong> dirigem,<br />

mas se deixam ir à deriva, sacudidos, aqui e ali, pelos em-

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