Sanatorium - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Jacques dá-me a impressão de um desequilibrado... Um visionário seduzido por<br />
meia dúzia de utopias... Se só for desequilibrado... Quer voar alto demais... Enfim,<br />
quem vivo for há de ver — e queira Deus que eu me iluda.<br />
Nisto assomou ao longe a figura do médico, desembaraçado e escorreito no<br />
seu terno de casimira cinzenta; acompanhavam-no dois homens; um era o Dr.<br />
Serapião Lemos, seu colega, distintíssimo especialista de moléstias de garganta,<br />
notável pela sua ilustração e pelo seu espírito deliciosamente mordaz; era o outro<br />
Antônio Maia, um dos diretores da companhia fundadora do hotel, pessoa de<br />
influência na localidade, um desses caracteres enérgicos e tenazes, que conseguem<br />
subir às mais altas posições pelo seu exclusivo e honesto esforço, e que com tanta<br />
propriedade se chamam "filhos de si mesmos". Um pouco mais atrás, caminha o<br />
enfermeiro de confiança do Dr. Silveira Jacques, seu servidor dedicado e fiel desde<br />
o tempo da Academia.<br />
Aproximando-se os dois grupos, amigáveis cumprimentos se trocaram.<br />
— Estou explicando a estes amigos o traçado das construções que tenciono<br />
fazer. Os dois chalets, à direita e à esquerda, serão puxados até o fundo do parque,<br />
onde, na direção do muro, se acrescentará outro lance, fechando o quadrado. A<br />
casa do centro continuará a ser simplesmente hotel, como foi até hoje. Assim<br />
conciliaremos todos os interesses. Eu tomarei a direção técnica da parte relativa ao<br />
<strong>Sanatorium</strong>; abrirei ali, na frente, o meu consultório, e os doentes, quer do<br />
estabelecimento, quer da cidade, me encontrarão pronto sempre a atender-lhes. O<br />
hotel ficará entregue a um gerente escolhido por mim com todo o escrúpulo: é um<br />
irmão meu, ainda muito moço, mas de um critério! De uma inteligência! ...<br />
E continuou o seu passeio pelo parque a fora, com o Dr. Lemos, o Sr. Antônio<br />
Maia e o Marquês do Tijuco, que a passos trôpegos, os seguia cerca de dois metros<br />
atrás, precisamente ao lado do velho enfermeiro.<br />
O galope de um cavalo, que acabava de entrar pelo portão do parque, à<br />
direita, chamou a atenção de todos. E viram Romaguera, teso sobre o selim, com<br />
ufania igual à de Alexandre montado no Bucéfalo. O seu corpo musculoso e robusto<br />
unia-se ao do animal com tal perfeição de montaria que recordava a figura mitológica<br />
dos centauros. Romaguera cumprimenou-os num gesto de sobranceiria afável,<br />
tirando o chapéu desabado:<br />
— Meus senhores...<br />
— Bons dias, Sr. Romaguera; foi girar por aí bem cedo?<br />
— É verdade; saí às cinco e meia. Cheguei até ao Porto, além de Campinhos.<br />
É um belo sítio. Até logo...<br />
O cavalo galopou de novo, indo parar à porta da estrebaria. O Barão de<br />
Raymond tocou o braço de Autran:<br />
— Conhece este sujeito? Tem fumaças de Dom João, pretensões a Lovelace.<br />
E parece que justificadas, em parte ao menos. Há aqui no hotel uma senhora<br />
casada, que... O Romaguera faz-lhe a corte escandalosamente. Estava senhor do<br />
campo, ao que diziam...<br />
— Ora veja que felizardo! Então, Vênus faz das suas por essas paragens...<br />
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