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Sanatorium - Unama

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NOS BASTIDORES<br />

www.nead.unama.br<br />

A DAMA DE PAUS! — A DAMA DE PAUS!" — lia-se em letras enormes nos<br />

prospectos distribuídos pelas ruas, e no amplo quadro preto da porta do teatro.<br />

— Você vai hoje ao espetáculo?<br />

— Sei lá! Que tal é aquilo?<br />

— Muito bom; tem uns pedacinhos, como lhe direi?... Bastante apimentados<br />

— compreende? Vale a pena. E a Leviccolo é admirável, no papel de Dama...<br />

À noite, estava cheio o teatro, como sempre, pois não havia em toda a cidade<br />

outro ponto de reunião e divertimento. Desde o restaurante da entrada — Ao Gato<br />

Preto, onde o popular Matias não tinha mãos a medir, entre os pedidos constantes<br />

de seus numerosos fregueses; Duas cervejas terceira à esquerda! — Sifão com<br />

Xerez! — Conhaque, quatro! — Paga três mil e cem! — por toda a parte, era um<br />

formigar de gente, que Ifigênia da Costa contemplava com íntimo prazer pelo<br />

aumento da receita que isso lhe trazia aos cofres. Terminara o primeiro ato, que fora<br />

acolhido entusiasticamente; a platéia toda havia pedido bis e tris para mais de um<br />

trecho de música, aplaudindo com delírio, sobretudo o dueto do mestre-escola, com<br />

a dama de ouros, adaptação de letra nova ao Dueto dos Paraguas, da revista<br />

espanhola De Paris a Madrid.<br />

Baixara o pano, entre salvas de palmas, chamados à cena, e o ilustre maestro<br />

do São Bernardo, Marciano Ribeiro, começou a reger magistralmente a sua<br />

orquestra. Os espectadores deixavam os seus lugares para gozar a fresca da noite<br />

no saguão e no terraço, ao ar livre, e saíam vagarosamente recebendo dos guardas<br />

a senha costumada. Iam-se enchendo de bebidas as mesinhas de mármore,<br />

acendiam-se os cigarros, animava-se a conversação nos grupos esparsos por ali<br />

fora, e crescia a influência de fregueses ao balcão do Gato Preto.<br />

Súbito, como ao toque da varinha de condão nas grandes mágicas, tudo<br />

cessou; extinguiu-se o rumor das palestras, bebedores pararam com os copos à<br />

altura dos queixos, e toda gente se voltou para o palco, tapado de alto a baixo pelo<br />

pano, onde se liam anúncios das principais casas do comércio local.<br />

De lá, da caixa, vinha um barulho imenso, vozes a subirem de tom, ruído de<br />

encontrões, todos os indícios de uma luta furiosa; o espanto foi geral; o próprio<br />

maestro, sempre tão sensato e pausado nas suas decisões, depôs a batuta sobre a<br />

estante, e os instrumentos calaram-se.<br />

O barulho recrudescia, instante a instante; dir-se-ia que os bastidores vinham<br />

todos abaixo. Pessoas do povo queriam invadir o proscênio e, a muito custo, o fiscal<br />

do teatro, o Chico Fuligem, insolente e desbocado, lhes continha a impaciência, à<br />

força de murros e desaforos.<br />

E todos se entreolhavam, e de todos os lábios saía a mesma interrogação:<br />

— Que é? Que é?<br />

— Estão todos prontos? Não falta ninguém? — perguntou em voz alta, no<br />

meio do palco, o diretor de cena.<br />

— A Sra. Leviccolo ainda se está vestindo — observou o contra-regra.<br />

— Oh! Esta Leviccolo ainda se está vestindo! Que coquete! É sempre a última<br />

a aparecer.<br />

— O seu camarim está fechado ainda — acrescentou o contra-regra.<br />

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