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Sanatorium - Unama

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www.nead.unama.br<br />

esta noite, felizardo, tão comodamente, tão bem agasalhado, tão feliz, com tanta<br />

delícia que somente agora se resolve a pôr para fora esses bigodes de Apolo!<br />

— Histórias, histórias! — diz o Costa, enfatuado, sorrindo. — São mais as<br />

vozes do que as nozes!<br />

Mas, o Castanheira depois de um silêncio:<br />

— O que é certo é que vocês, homens do teatro, são felizes! Arranjam<br />

acepipes novos, variados, fidalgos...<br />

O Costa teve um dar de ombros, entre afirmativo e desdenhoso:<br />

— Ó, filho! Mas que quer você? Se não fossem certas compensações, que<br />

seria de nós nesta medonha vida de teatro!...<br />

Ah! Você não sabe o que é a vida de um ator! Principalmente, quando a gente<br />

se sente nascida para cultivar a nobre arte de Novelli e de Emanuel, com amor e fé,<br />

vendo-se, entretanto, obrigada a descer até os trololós da palhaçada, para não<br />

morrer à fome!<br />

E, dizendo isto, o Costa dava à face um ar resignado de gênio<br />

incompreendido pelas turbas ignaras.<br />

— Olhem! — continuou ele, — agora lá vamos nós para Morro Preto aquela<br />

ignóbil cidade que fede a mofo e a pau candeia, só porque se meteu na cabeça da<br />

empresária que há de ganhar dinheiro com essa viagem!<br />

Imaginem vocês! Um cristão como eu dar com os ossos em Morro Preto! Ai,<br />

ai! Vida minha! Adeus, que é tarde e ainda estou com o estômago vazio.<br />

E, despedindo-se, saiu cantarolando:<br />

Ai! Minha bela Florinda!<br />

Louco, perdido de amores...<br />

Na loja, a palestra continuou. Agora, o Álvaro Cândido, com um; vis comica<br />

admirável, contava uma conversa que surpreendera entre Barão de Raymond e a<br />

Leviccolo. E arremedava o velho conquistador dando à face uma expressão de<br />

denguice babada:<br />

— Imaginem vocês! Ela dizia que não acreditava na paixão dele. E ele<br />

exclamava — com fogo, assim: "Mas, que prova quer? Diga! Olhe eu sou capaz até<br />

de..."<br />

Neste ponto, o Alvaro baixou a voz. E, juntando a rapaziada, em torne de si<br />

num grupo aconchegadíssimo, concluiu a frase, em segredo.<br />

Devia ser coisa engraçadíssima. Porque uma gargalhada alta, vibrante<br />

estrondosa soou. E o Rodolfo de Muniz, pesaroso por não ter ouvido deu um salto<br />

da escrivaninha:<br />

— Que foi? Que foi? Eu não ouvi! Eu não ouvi!<br />

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