14.04.2013 Views

Sanatorium - Unama

Sanatorium - Unama

Sanatorium - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Sou eu!<br />

— Sou eu!<br />

— Sou eu!<br />

— Besta!<br />

— Repita cachorro!<br />

— Eh! Baiano idiota!<br />

— Eh! Galego pulha!<br />

— Fechou-se o tempo! É hora!<br />

— Entra compadre!<br />

www.nead.unama.br<br />

Daí para os murros e as rasteiras pouco faltava: a briga estava pronta,<br />

iminente, e podia acabar mal. Tudo por causa da Mercedes, que de mãos na cintura,<br />

olhava para aquilo, espantada: finalmente resolveu deitar água na fervura:<br />

— Muchachos! Se queden por amor de Dios! Ustedes me gustan todos que...<br />

Si quieren todos pagarme la entrada, nada mais fácil: tiren la suerte...<br />

— É verdade, aí está — concordou o Horácio. — Como esta madame é<br />

inteligente; tiramos a sorte, a saber quem cai com os cobres. E assim não há<br />

motivos de queixa...<br />

O Daniel, que, ao ver feia a briga, tratara de pôr-se ao largo, ria baixinho,<br />

mastigando o costumado dito:<br />

— Que crônicos! Que crônicos!<br />

Os dois cozinheiros chins, que eram a curiosidade do <strong>Sanatorium</strong> havia três<br />

dias, ouvindo o alarido, tinham chegado à porta da cozinha, e espiavam; nas suas<br />

carantonhas exóticas, ossudas, repuxadas, hécticas, uma palidez de covardia<br />

desmaiava o amarelo natural da pele. Certo que, à menor ameaça de perigo,<br />

largariam ali frigideiras, marmitas e frangos depenados, fugindo pelo parque afora,<br />

num terror de crianças alucinadas.<br />

De repente, tiniu com força a campainha elétrica; Mercedes saiu da copa a<br />

correr e foi ver no quadro que a chamava.<br />

— Es la señorita D. Blanca. Que habrá ella? Yo me voy a correr.<br />

Daí a pouco, apareceu à porta da sala de jantar, o maître-d'hôtel,<br />

em-pertigado e correto no seu smoking, na sua gravata branca admiravelmente<br />

traçada. Era um rapaz de bela estampa, alto e teso, cabelos e bigodes louros, cujo<br />

zelo inteligente reformara em poucos dias o serviço de mesa no <strong>Sanatorium</strong>. A<br />

criadagem não gostava dele, pela severidade com que mandava na obrigação de<br />

cada um, e pelo orgulho natural que o mantinha arredado dessa roda de mulatas e<br />

galegos. Manhães de Azevedo havia lhe posto a alcunha de Cosmópolis, não só por<br />

ignorar-se-lhe o nome e ser necessário um apelido, mas porque ele sabia falar com<br />

desembaraço, senão com elegância, meia dúzia de línguas.<br />

Cosmópolis entrou na copa, e tangeu duas vezes a sineta de prata que levava.<br />

É hora de pôr as mesas. Vamos.<br />

Imediatamente, cessou toda a algazarra. O cocheiro Zé do Carmo e o Vasco da<br />

Gama, que nada tinham a fazer ali, retiraram-se para o jardim; Camila e Ritinha foram<br />

para junto de suas amas. E, entre copeiros começou o trabalho silencioso e regular.<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!