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Sanatorium - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Contra os seus hábitos, D. Eufrásia Fontoura não as repreendeu. Passou por<br />

elas, fingindo que as não via, dominando-se. E os seus lábios murmuraram<br />

devotadamente:<br />

— Seja tudo pelo amor de N. S. de Lourdes!<br />

OMELETE-MONSTRO<br />

Ora, o senhor censura o Fabrício... Que foi leviano, que se desmoralizou e<br />

não sei mais o quê... Não concordo, absolutamente. Digo mais: acho que estas<br />

indignações todas são da parte do senhor uma bela hipocrisia. Ponhamos o caso em<br />

nós: quem dos que estamos aqui não faria o mesmo? Ele é solteiro, e eu tenho visto<br />

pais de família, conceituados e graves, caírem em piores extravagâncias. Adeus!<br />

Isto dizia o Dr. Lemos, sacudindo os braços, crispando os dedos com a sua<br />

violência habitual de gesticulação, e passeando de um lado para outro na saleta do<br />

chalé em que morava, no parque do <strong>Sanatorium</strong>. O Romaguera interveio, tirando<br />

uma larga fumaça de seu havana de dois mil réis:<br />

— Mas, doutor, entrar em conflito com um cabotin, descomporem-se ambos,<br />

rolarem pelo chão aos murros e às bofetadas... Isto desmoraliza um homem...<br />

— Ora quem quer falar! Quem quer falar! — guaguejava o doutor, fulo de<br />

raiva: — O Sr. Comendador Romaguera! O senhor que outro dia, na roleta, quase<br />

chegou a uma rixa semelhante, provocando uma criança, ameaçando-a com um<br />

punhal... Por causa de uma mulher!<br />

E com as mãos atrás das costas, curvando-se para a frente, cravava os olhos<br />

frios e perscrutadores no comendador.<br />

Este, furioso e envergonhado, lastimando ter-se metido nesta história, não<br />

achava resposta, mexia-se na cadeira, tossia, puxava o lenço, enrugava a testa, com<br />

todos os sinais de uma irritação extrema.<br />

O velho Marquês do Tijuco, habituado à escrupulosa tenue das cortes à<br />

etiqueta inviolável que nenhum excesso da linguagem ou de paixão perturba,<br />

cuidava já de retirar-se sob qualquer pretexto e, prevendo nova desordem e de tão<br />

desnorteado, não dava com a porta. Indeciso, dobrava entre os dedos mais<br />

rapidamente o barrete de seda preta — única mostra por que revelava as suas mais<br />

fortes emoções.<br />

Ainda o Autran compreendeu, depois daquele fracasso, a necessidade de<br />

retirar-se e não apareceu mais. E o doutor, no dia seguinte, ao barulho do jogo, foi<br />

almoçar muito tranquilamente na sala de jantar...<br />

Romaguera — ele próprio não sabia explicar como — tinha grande respeito<br />

ao Dr. Lemos, fosse por ele ser como médico uma notabilidade e como homem uma<br />

reputação sem mácula, ou pelo seu gênio franco e leal, incompatível com a mentira,<br />

rude e sardônico, mas capaz de todas as dedicações, o que lhe conquistava as<br />

simpatias daqueles mesmo que a sua blague não poupava. De certo, Romaguera<br />

devia-lhe um serviço, valioso, um desses obséquios que não se pagam, pois fora o<br />

Dr. Lemos que o tratara com o mais perfeito desvelo, quando o tratamento Kneipp,<br />

mal ensaiado decerto, lhe causara a terrível bronquite, que quase havia degenerado<br />

em bronco-pneumonia. Por isso, conteve-se, e redarguiu serenamente.<br />

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