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Sanatorium - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Quer que vá chamá-la? — disse o Mendes, medonhamente caracterizado<br />

em comandante de polícia, com as mãos a flutuar em um par de luvas brancas, largas<br />

demais, e o rosto pintado de alvaiade, e de violentas riscas negras de nanquim.<br />

— Para quê? — acudiu o diretor de cena. — Quando ela estiver vestida, virá.<br />

Ainda faltam dez minutos para principiar o segundo ato...<br />

O Mendes insistia: era tão fácil bater na porta, ao menos para que ela se<br />

apressasse um pouco! Teimava o Mendonça que não era preciso. Mas Ifigênia da<br />

Costa interveio:<br />

— Bem! Vá!<br />

E o diretor de cena, contrariado, mordendo os beiços, resmungou:<br />

— Mau! Mau! Temo-la travada?...<br />

O Mendes partiu a correr. Daí a momentos, ouviram-no, que berrava:<br />

— Abra, com mil raios! Abra com todos os diabos! — e, aos socos e às<br />

cabeçadas procurava forçar a porta. — Abra! Senão arrebento tudo!<br />

Mendonça, Ifigênia, Lotulli, Couceiro, Costa, Corista, contra-regra, ponto,<br />

todos se atiraram para lá, num ímpeto:<br />

— Que vem a ser isto? — gritava o Mendonça.<br />

— Sr. Mendes contenha-se! — exclamava Ifigênia, juntando as mãos,<br />

apavorada com o fracasso.<br />

E uns puxavam-no para trás, e outros lhe pediam baixinho, carinhosamente,<br />

que não perdesse o juízo, que se acalmasse para evitar um escândalo.<br />

E o Mendes continuava a berrar:<br />

— Esta descarada! Não quer abrir... Por que não está só! Há um homem lá<br />

dentro! Com mil demônios! Abra! Abra!<br />

Por fim, Ifigênia da Costa obrigou-o ao silêncio com um aceno imperioso, e<br />

chegando-se à fechadura, falou para dentro:<br />

— Leviccolo, Amélia! Abra, seja como for; eu lhe afianço que não há de<br />

acontecer nada. Não é verdade, Sr. Mendes?<br />

— Não sei... Não sei... — regougou ele.<br />

Então, abriu-se medrosamente a porta, e a Leviccolo apareceu, com as<br />

feições demudadas pelo terror, os cabelos despenteados, coberta com um simples<br />

peignoir de seda cor de cinza.<br />

O Mendes queria entrar no camarim, a todo transe, e ela agarrava-lhe nos<br />

pulsos, com gritinhos de susto, para o deter; mas, perdendo a paciência, o cabotin<br />

empurrou-a brutalmente, empunhou uma bengala que encontrara a um canto, e com<br />

ela começou a varejar os recessos do quarto, que ainda estava às escuras.<br />

Rebentou uma exclamação de dor e raiva:<br />

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