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Sanatorium - Unama

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www.nead.unama.br<br />

A Marquesa do Tijuco, contemplando-o com altivez e curiosidade, como quem<br />

nunca vira tipo tão grosseiro e malcriado, batia com o pé direito no pavimento, e<br />

dizia a D. Eufrásia Aquidabã:<br />

— Veja, minha senhora, a que estamos reduzidos neste estabelecimento sem<br />

lei e sem rei... Um valentão destes julga-se no direito de perturbar uma festa em que<br />

há famílias...<br />

O marquês, trêmulo, aterrado, sem pinga de sangue, encolhera-se, como<br />

criança que tem medo de apanhar, entre as cadeiras da orquestra; e dali, benzendose,<br />

espiava a grande cena. Os músicos, mal se armara o conflito, tinham se posto ao<br />

fresco, uns levando os seus instrumentos, outros, com a pressa, abandonando-os<br />

espalhados pelo chão. Romaguera, mal seguro por quatro ou cinco homens,<br />

revelando surpreendente força muscular, dava arrancos para desvencilhar-se e<br />

alcançar o corredor, onde os rapazes faziam sentinela a Vidigal. Cada vez este<br />

berrava mais e mais tolices e inconveniências dizia. Parecia disposto a tudo arrasar. O<br />

assombro geralia-se transformando em susto. Mocinhas nervosas agarravam-se aos<br />

braços de cavalheiros solícitos, que as transportavam para fora do salão. O espanhol<br />

Mirellio exclamava, batendo palmas, como se estivesse num carro de Barcelona:<br />

— Señores! El toro salió desembolado! A ello! A ello! — toreadores valientes<br />

de mí corazón!<br />

A criadagem toda, atraída pelo tumulto, aglomerava-se às portas do salão,<br />

divertindo-se extraordinariamente; José do Carmo, Camila, Marcelino, Mercedes,<br />

Daniel, todos se torciam de riso. Só o maître-d'hôtel, o grave e cerimonioso<br />

Cosmópolis, franzia os lábios com desprezo, estranhando muito em cavalheiro de<br />

fino trato celte manque de tenue... Ouvindo tamanho barulho, os jogadores haviam<br />

deixado a roleta, acudindo a ver o que era; atores e atrizes, famintos de troça,<br />

rejubilavam com aquela deliciosa comédia de vida real; Leviccolo, radiante, animada,<br />

comovida com o gesto, dizia:<br />

— Per bacco! Bravo! Bravo! Che birbante!...<br />

Mendonça no auge do entusiasmo, trauteava entre dentes, acompanhando as<br />

palavras com expressivo acionado:<br />

Sou rapaz de muita distinção,<br />

Desempenado das canelas...<br />

O Barão de Raymond, piscando os olhos e encolhendo os ombros, cofiando<br />

os bigodes e sacudindo moedas na algibeira, murmurava:<br />

— Qual! Está doido varrido... Não há que ver!<br />

— Que cabra fanfarrão! Que onça! Que tapir! — dizia Til Vóssio, afagando a<br />

loura barba.<br />

— Vai tudo abaixo! Livra! — ajuntava João Romão, dando um passo ao lado,<br />

para evitar o Romaguera, que vinha para cima dele.<br />

— Que Hércules! — notava Vincentim de Guimarães, invejando a robustez do<br />

bruto.<br />

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