14.04.2013 Views

Sanatorium - Unama

Sanatorium - Unama

Sanatorium - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O marido deu-lhe um beliscão no braço e dirigindo-se aos moços:<br />

www.nead.unama.br<br />

— Alguns dos senhores tem aí um apito?<br />

— Não temos — respondeu Manhães — e ainda que tivéssemos não o<br />

emprestaríamos, compreende? Não havíamos de concorrer para que o senhor<br />

mandasse a sua esposa para a cadeia...<br />

A mulher olhava para os rapazes com expressão de enternecido<br />

reconhecimento sem dizer nada; mas o marido, calmo e firme, redarguiu:<br />

— Senhor! Não se meta em discussões de família! Não se meta em<br />

discussões de família!<br />

E, dando o braço à mulher, seguiu pela praia adiante, calado e, na aparência,<br />

calmo; mas daí a pouco, passando a ponte do Rosário, berrava de novo:<br />

— Prostituta! Rameira!<br />

E ela perorava ainda, ouvindo-se claramente:<br />

— Bêbado! Patife!<br />

— Vocês já viram idiota igual? — exclamou Manhães, rindo-se. — Pede-me<br />

um apito para mandar prender a mulher, e depois diz-me que não me meta em<br />

discussões de família! Não se tem vontade de atirar ao rio um animal destes?<br />

— Ah! Que sucesso faria isto numa revista de acontecimentos de São<br />

Bernardo, como a que o Modestino arranjou este ano! Ajudante de guarda-livros da<br />

companhia paulista importadora de drogas! Uff! A mulher tem fôlego de gato para<br />

fazer discurso tamanho!<br />

Alvaro Cândido esbofava-se, e, cansado aspirava largamente o ar da noite. E<br />

Alfredo Pereira, distraído, pensando em París, para onde o chamavam saudades<br />

incessantes, trauteava entre dentes a famosa cançoneta:<br />

Entrez, breves enfants!<br />

Je suis le pèr'la victoire!<br />

No dia seguinte, pela manhã, já ausente o Castanheira, estavam os outros<br />

três encostados ao portão do parque, apreciando as manobras de Romaguera, que,<br />

do outro lado do cais, domava um boi xucro, com toda a maestria e proficiência de<br />

experimentado gaúcho, quando u'a mulher, angustiada, chorosa, com os cabelos em<br />

desalinho, se agarrou a eles com ambas as mãos. Estremeceram com a surpresa, e,<br />

reparando na sua mulher, conheceram-na pela mesma que na noite antecedente<br />

altercava com o marido pela praia afora.<br />

— Que é? Que tem a senhora? Qual a causa da sua aflição? Diga... Ela mal<br />

podia articular uma palavra. Depois de um grande esforço, balbuciou:<br />

— Oh! Senhores! Se soubessem a desgraça que me aconteceu!<br />

— Mas que foi? Conte conosco, se em alguma coisa lhe podemos valer...<br />

— Meu marido envenenou-se!...<br />

— Envenenou-se! Que nos diz!<br />

68

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!