Sanatorium - Unama
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www.nead.unama.br<br />
contendores; foi chamado o coronel Atanásio e, mais feliz ou mais protegido (como<br />
bom velho um tanto ridículo que era) ia pegar a avelã, quando se deu uma coisa<br />
absolutamente inesperada, imprevista, inconcebível, que assustou mais os<br />
assistentes do que os assustaria um raio caindo em pleno salão, ou o<br />
desmoronamento das paredes do <strong>Sanatorium</strong>.<br />
Romaguera, que se demorara cerca de uma hora a jogar na roleta entrou no<br />
salão e, ao ver, que não o tinham chamado para o cotillon, e além de tudo, lhe<br />
haviam roubado a sua dama, subiu à serra decididamente. Formou-se-lhe de<br />
repente uma tempestade no cérebro e no peito; foi-se o juízo de todo; o homem<br />
ficou em verdade fora de si, sem saber mais onde estava e o que fazia. Como um<br />
búfalo selvagem, que se pilhasse de súbito em liberdade e que capinhas<br />
imprudentes estivessem farpeando, atirou-se com todo o peso do corpo para dentro<br />
do círculo do cotillon, derrubando na investida um cavalheiro e uma senhora que<br />
tranquilamente se namoravam. Foi um assombro geral. Todos se levantaram,<br />
afastando as cadeiras, na expectativa do que ia acontecer. Romaguera bateu rijo om<br />
a mão numa estante da orquestra<br />
— Pare a música, com seiscentos mil diabos!<br />
A música parou como por encanto. E Romaguera, voltando-se para Vidigal,<br />
que, de braços cruzados, pálido de raiva e de medo, quedava no meio do salão:<br />
— Quem é que está marcando este cotillon?<br />
— Sou eu, é boa!<br />
— Quem lhe deu o direito de marcar danças aqui, seu miserável, seu patife?<br />
Não consinto... Não consinto... — berrava ele, com voz de trovão.<br />
Todos o olhavam mudos e escandalizados de tanta brutalidade.<br />
— Não consente? Quem é o senhor para dar ordens?...<br />
— O quê? O quê? O quê? — vociferou o bicho bravo, que, de cólera, já<br />
estava completamente alucinado. — O quê? O quê?<br />
Eu vou lhe mostrar — e elevava a voz ao mais alto diapasão possível. — Eu<br />
vou lhe mostrar quem sou eu e quem é você, pelintra, bilontrinha idiota, embrião de<br />
tratante...<br />
Com efeito, avançava para o rapaz, gritando sempre, rubro, suado, com os<br />
cabelos em desordem, esgazeados os olhos e a boca espumante. Não era possível<br />
permitir ali uma cena de pugilato. Homens e senhoras se interpuseram aos dois<br />
contendores. Rapazes arrastaram Vidigal para fora do salão, a fim de salvá-lo das<br />
fúrias do hidrófobo. Mas era dificílimo conter Romaguera, que urrava, furioso,<br />
possesso, debatendo-se nos braços das pessoas que o seguravam, forcejando por<br />
agarrar o mocinho, e bradando, com vozeirão que enchia o hotel todo e, através das<br />
pontes, ia ressoar pelas ruas da cidade:<br />
— Quero acabar com ele! Larguem-me! Larguem-me, que é pior! Quero fazêlo<br />
em pedaços! Atrevido! Insolente!<br />
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