Sanatorium - Unama
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Dois novos hóspedes do <strong>Sanatorium</strong> eram requestados pelos rapazes; eram<br />
dois homens de letras, de nome conhecido.<br />
Tinham chegado na véspera. Manhães de Azevedo, amigo de ambos,<br />
apresentara-os logo à roda. Um deles, Vicentim de Guimarães, jornalista e advogado,<br />
era magro, pálido, rosto imberbe, de criança, apesar dos seus 38 anos. Muito míope,<br />
moviam-se-lhe os olhos inquietos por trás dos grossos vidros do pince-nez de<br />
tartaruga. O outro, Olívio Bivar, poeta e cronista feíssimo, vesgo, muito míope<br />
também, olhava para todos de través, analisando fisionomias e toilettes. D. Carmita<br />
rira muito, quando lhe fora apresentada: achava-lhe muita semelhança com um cavalo<br />
marinho e pusera-lhe logo o apelido de hipocampo, dizendo ao Barão de Raymond:<br />
— Veja Barão, como esta vida é cheia de desilusões! Lê a gente os versos de<br />
um poeta, começa a imaginar que eles saíram da cabeça, e do coração de um<br />
Apolo, e reconhece afinal que saíram dos cascos de um monstro destes!<br />
— Não pense em poeta, minha querida! Toda essa gente é uma corja de<br />
caloteiros e de bilontras!... — disse, encolhendo os ombros, o barão.<br />
E continuou a despejar dentro dos ouvidos da moça uma catadupa de<br />
madrigais bestas.<br />
Às sete horas, puseram-se todos a caminho. Ao tomar o trem, uma confusão<br />
indescritível reinou. Nos vagões de recreio, abertos, homens e senhoras tomavam<br />
lugar, misturados, aos empurrões e às gargalhadas, escandalizando o povo ocioso<br />
que correra a assistir o embarque.<br />
Silveira Jacques, suando, atrapalhadíssimo, andava de grupo em grupo,<br />
distribuindo pelos carros os cestos. No primeiro vagão, a gente séria se aglomerava:<br />
o Marquês, que ia àquele divertimento com a compunção de quem vai comungar, a<br />
Marquesa, várias senhoras de idade, a pálida Ester, que não quisera perder o<br />
passeio, vários cavalheiros aprumados.<br />
Mas o vagão imediato estava cheio de uma vozeria infernal. Dona Carmita, a<br />
Leviccolo, a Lucy, as torpedeiras, a Lotulli, a atriz Anita, os atores, o poeta Olívio,<br />
Manhães de Azevedo, Vicentim de Guimarães, Vidigal, a Concina, Álvaro Cândido e<br />
Alfredo Pereira faziam uma algazarra demoníaca. Naquela roda, o Barão e<br />
Romaguera sentiam-se a princípio deslocados, principalmente por causa da<br />
vizinhança dos três homens de letras, que lhes conheciam a fundo a crônica. Mas a<br />
alegria geral não tardou a ganhá-los também.<br />
O ator Mendes propôs que se saudasse a partida com um gole de conhaque.<br />
E brandiu no ar, triunfantemente, uma garrafa de Hennessy, já desarrolhada.<br />
Mas uma dificuldade surgiu: não havia copos!<br />
A Leviccolo, de um salto, pôs-se de pé sobre o banco, bradando:<br />
— Copos? Copos para quê? Para beber conhaque? Isto bebe-se assim, filhos!<br />
E, arrebatando a garrafa das mãos de Mendes, levou-a aos lábios.<br />
— Bravo! Bravo, Leviccolo! — clamavam todos, numa aclamação.<br />
O trem partia. A longa fila dos vagões punha-se já em movimento. E as<br />
palmas, os bravos, os hurras, redobravam. Leviccolo brandindo no ar a garrafa,<br />
garganteava despedindo-se da estação:<br />
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