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Sanatorium - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Depois, uma imobilidade de catalepsia lhe tomou os músculos. Um êxtase<br />

indefinível lhe adoçou a fisionomia, pondo-lhe um clarão de sonho nos grandes olhos<br />

negros, abertos, fixos no teto, e um sorriso de anjo nos grandes lábios roxos e frios.<br />

Foi assim que o Telles Viçosa a veio encontrar. Não lhe disse nada. Deixouse<br />

ficar no quarto, compreendendo que aquilo era o fim, e querendo ao menos com<br />

a sua presença dar coragem à mãe da moça, já que toda a ciência do mundo não<br />

poderia salvar da morte aquela infeliz.<br />

Ao meio-dia, o êxtase durava ainda. Uma infinita meiguice, uma inefável<br />

expressão de bondade iluminava a face da condenada. O hotel acordara já. Saíam<br />

dos quartos fisionomias ainda amarrotadas de fadiga e sono. E senhoras<br />

começaram a afluir ao quarto da doente, interessadas.<br />

A Marquesa do Tijuco foi uma das primeiras.<br />

Uma grande expressão de desgosto lhe contraía a face. Chegou, beijou D.<br />

Malvina, e quedou sobre uma cadeira, olhando Ester. Lágrimas lhe turvavam os<br />

olhos... E disse com pena:<br />

— Coitadinha! Parece Santa Teresa de Jesus chamando o seu Esposo divino!<br />

E ficou, calada, chorando. Depois, como ouvisse o soluçar angustiado de D.<br />

Malvina, teve uma frase de supremo desconsolo:<br />

— Ah! Minha pobre amiga! Tenha coragem! Se soubesse... Hoje é o dia das<br />

desgraças! ...<br />

D. Malvina não respondeu. Provavelmente, nem ouviu. Toda a sua alma<br />

estava ali, alheada de tudo e de todos, pairando dolorosamente sobre aquele corpo<br />

adorado de onde a vida fugia.<br />

Que lhe importavam todas as outras desgraças?<br />

A desaventurada senhora nem soubera dos escândalos da véspera...<br />

Também, não eram só esses escândalos o que preocupavam a Marquesa.<br />

Ah! — já estava habituada a esses destemperos de linguagem e de ação de gente<br />

tão ordinária!... Mais graves acontecimentos lhe angustiavam o espírito...<br />

Na véspera, chegara um telegrama do Rio para Romaguera. Ele, atarantado<br />

com o baile e com o ciúme, não abrira logo. Mas, agora andava a mostrá-lo a todos,<br />

com ar de triunfo.<br />

— Grandes notícias! Notícias extraordinárias!<br />

O telegrama dizia que constava ter Saldanha da Gama proposto ao governo a<br />

rendição da esquadra. Que, não tendo sido aceita essa proposta, travar-se-ia ao<br />

meio dia de 13 o combate e que este seria tremendo.<br />

Os custodistas protestaram:<br />

— "Ah! Veriam! Qual rendição! Eram calúnias! Travasse-se o combate, e<br />

veriam! A revolta ia triunfar!"<br />

Os governistas, por seu turno, bradavam entusiasmados que chegara a hora<br />

do castigo e da desafronta.<br />

Raymond, para expandir as suas esperanças, tirou do fundo da memória uma<br />

citação latina: Dies irae!...<br />

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