Sanatorium - Unama
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www.nead.unama.br<br />
próxima... A falência! a desonra, a miséria, a fuga, a prisão talvez... E o<br />
desventurado médico afogava a sua tristeza em ondas de vinho Bordeaux.<br />
Às onze horas, um grito soou:<br />
— À gruta! À gruta!<br />
Levantaram-se todos, vencendo a custo a vontade que os invadia de ali se<br />
deixarem ficar, de papo para o céu, sem movimento, no delicioso torpor da digestão<br />
feliz.<br />
D. Eufrásia Fontoura, a Aquidabã, chamava as filhas:<br />
— Meninas! Venham para o meu lado! Não quero que se percam de mim lá<br />
dentro! E a lancha Lucy, com um muxoxo:<br />
— Ora, vejam só! Como se pudesse haver lá dentro algum bicho que<br />
comesse a gente!<br />
Silveira Jacques, um tanto trôpego, com a língua um pouco presa, anunciou,<br />
em voz alegre, uma surpresa para quando estivessem todos no interior da Casa de<br />
Pedra.<br />
— Que é? Que é? — clamavam as raparigas<br />
— Verão! — dizia ele. — É uma coisa que aqui vai comigo.<br />
E mostrava um embrulho pesado, que trazia sobraçado.<br />
Entraram.<br />
Um frio cortante, uma sensação de umidade doentia reinava lá dentro,<br />
causando arrepios. Romaguera, Raymond e Alfredo Pereira levavam lâmpadas de<br />
querosene, a cuja luz dúbia paredes molhadas apareciam. Houve, entre as<br />
senhoras, gritinhos de susto, abafados logo. Um silêncio fundo, de admiração e de<br />
respeito, diante do maravilhoso espetáculo, pesou sobre o grupo.<br />
O chão viscoso, coberto de espaço a espaço de tufos de heras, ora descia, ora<br />
se elevava; grossos troncos de árvores seculares irrompiam do solo, agarrando-se às<br />
rochas, despidos de folha, rugosos e escuros, como se também fossem de pedra. No<br />
alto, grandes blocos de granito formavam abóbadas fantásticas. E grandes lagartos<br />
apareciam e desapareciam, fugindo, rápidos, com uma irradiação de escamas cor de<br />
esmeralda. A galeria estreitou-se de súbito, numa garganta escura.<br />
E transposta ela, uma exclamação de surpresa saiu de todas as bocas.<br />
Estavam numa enorme sala. Do teto, como lustres fenomenais, pendiam colossais<br />
estalactites, de cujas extremidades pingavam, num murmúrio brando, gotas de água<br />
azulada. Do chão irrompiam estalagmites imensas, chatas estas, à feição de sofás e<br />
cadeiras, finas e caprichosamente recortadas aquelas, à maneira de candelabros.<br />
Todos quedavam mudos de assombro. A própria frivolidade das mulheres,<br />
empolgadas pelo grandioso do espetáculo, se havia sustado. Ao fundo do salão,<br />
uma rampa subia, em aclive suave. Para onde? O cimo estava alagado de trevas,<br />
misterioso e fechado. D. Carmita e Leviccolo, queriam logo ir verificar o que lá havia.<br />
Mas o Barão Raymond atalhou:<br />
— Não, senhoras! Agora, a senhora Marquesa vai deliberar se convém ou<br />
não convém levantar aqui dentro a capela. Tenham paciência! Sempre será tempo<br />
de satisfazer essa curiosidade.<br />
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