Sanatorium - Unama
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www.nead.unama.br<br />
alguma do hotel. Para além, a cidade dormia. Só as torres esbranquiçadas e esguias<br />
pareciam velar, sentinelas imóveis de um acampamento envolto em sono.<br />
— Tu vens, então, para o baile? Não deixes de vir. A Quermesse é depois de<br />
amanhã, creio...<br />
— À Quermesse não posso vir, porque naturalmente D. Ester há de aparecer<br />
lá; e, pois que me fazem, com ou sem razão culpado da sua desgraça... Deus me<br />
livre de causar-lhe novos abalos!<br />
— E o passeio à Casa da Pedra, em que nós contávamos divertir-nos tanto! O<br />
que vamos perder todos! Sem ti já a nossa sociedade está desmanchada... Mas vem<br />
para o baile, que diabo! A D. Ester, doente assim, não há de querer dançar, nem irá<br />
ao salão. A mãe não lho consentiria.<br />
— Enfim, não prometo, porque estou muito impressionado com esta<br />
complicação, toda. Mas farei o possível para vir.<br />
— Vens sim! Então, eu não te conheço! Não resistes! — afirmou o Álvaro<br />
Cândido. — Mas não sabes de uma coisa! De uma coisa, como direi?... Imortal!<br />
Magnífica! Estupefaciente!<br />
E desatou numa gargalhada intextinguível.<br />
— Que é? Que é?<br />
— Se vocês vissem! Eu tenho um jeito para repórter! Por acaso, ou por<br />
instinto, quando sucede qualquer historiazinha de moer, estou sempre em termos de<br />
ver de ouvir tudo... Hoje de manhã... Vocês sabem que o Vidigal sai da cama tarde;<br />
também... Eu passava pelo quarto dele às seis horas, mais ou menos, e percebi<br />
bulha lá dentro. Parecia uma altercação. Chego-me mais perto, e que escuto?... A<br />
espanhola a brigar com o Vidigal enciumada, frenética, e ele, muito confuso, a<br />
defender-se, falando baixo, suplicando à danadinha da mulher que o não<br />
comprometesse com berreiro... Ora, não nos faltava senão isto! Aqui temos visto<br />
coisas! Mas, justamente, uma altercação, entre gente que vinha pouco atrás deles,<br />
lhes fez voltar o rosto, a todos quatro, a um tempo Um homem e uma mulher<br />
descompunham-se mutuamente.<br />
— Bêbado! Patife!<br />
— Prostituta! Rameira! Cala já essa boca, senão acabo contigo aqui mesmo!<br />
— Não calo! Hei de falar até morrer! Desaforo!<br />
— Oh! Sim? Pois toma!<br />
E o estalo de uma bofetada sonora abafou a palavra nos lábios da mulher,<br />
que, parando, começou a chorar, cobrindo o rosto com as mãos; os soluços<br />
sacudiam-na toda; os seios arfavam, em respiração curta e agitada. Os rapazes iamse<br />
aproximando, para ver se acalmavam os ânimos, enquanto o sujeito repetia:<br />
— Prostituta! Mulher perdida!<br />
E ela levantando a cabeça, protestava, furiosa:<br />
— Ah! Maldito! Mil vezes antes eu fosse uma mulher perdida do que ter-me<br />
casado com este infame ajudante de guarda-livros da companhia paulista,<br />
importadora de drogas!<br />
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