Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
os pombos!<br />
—Fala! Você também vai morrer?<br />
Dentinho <strong>de</strong> Arroz vem buscá-la:<br />
— Está na hora <strong>de</strong> irmos!<br />
Concertam-lhe a fita <strong>de</strong> cabelo, e passam-lhe pó-<strong>de</strong>-arroz.<br />
Orelhinha Peluda agora não está lá longe. Agora não se vai mais no<br />
bondinho <strong>de</strong> burro: dlem, dlem, dlem. . .<br />
A porta já está mesmo aberta, esperando-a. E perto do<br />
piano, duas moças altas e lindas, paradas num <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />
preta, arregaçam seus vestidos brancos, do mesmo mármore do<br />
seu corpo. Não há nada tão branco como o corpo <strong>de</strong>ssas moças.<br />
Só, às vezes, alguma nuvem. Não, nem as nuvens.<br />
Sobre o piano, há um pedaço <strong>de</strong> menina dormindo com o<br />
rosto pousado no braço, e o braço dobrado sobre um livro. Entre<br />
os seus cabelos abre-se uma flor. Que teriam feito do resto do<br />
corpo <strong>de</strong>la? Talvez não fosse bonito perguntar. . .<br />
Dentro <strong>de</strong> um armário <strong>de</strong> vidro surgem coisas assim: uma<br />
pedra azul, transparente, como essas dos anéis, mas gran<strong>de</strong>,<br />
gran<strong>de</strong>: maior que a mão da criança que a mira acocorada. Parece<br />
um navio. Está cheia <strong>de</strong> luz e <strong>de</strong> água. Não se sabe se é o sol, não<br />
se sabe se é a lua. . . Um sapatinho <strong>de</strong> vidro dourado, um só. Com<br />
bico fino e salto alto. Não, nem o seu pé cabe ali. Ou é <strong>de</strong> boneca<br />
ou <strong>de</strong> fada. Um leque todo <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong> seda, com príncipes<br />
dançando embaixo <strong>de</strong> árvores. . . Oh! os vestidos coloridos e os<br />
chapéus <strong>de</strong> bicos! Caixas com pinturas lustrosas <strong>de</strong> moças muito<br />
rosadas, <strong>de</strong>spindo mantos ver<strong>de</strong>s e vermelhos. . . Tantas coisas <strong>de</strong><br />
prata. . . E conchas. E búzios. . .<br />
A mocinha dava uma volta na chave. "Está achando<br />
bonito?" e tirava lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro o búzio gran<strong>de</strong>, e botava-o no ouvido<br />
da menina. "Está ouvindo? É o mar. . . Está-se ouvindo daqui o