Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
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tem perfumes <strong>de</strong> matar!<br />
Assim, como te adoro,<br />
como te choro,<br />
na minha dor,<br />
contigo viver quisera,<br />
ó primavera<br />
do meu amor!"<br />
E como a menina aparecia, perguntava-lhe: — Então, já<br />
comeste? Comeste tudo? E em sinal <strong>de</strong> contentamento, bailava<br />
<strong>de</strong>scalça, com os pés vermelhos no cimento molhado:<br />
"Olha o bailarino,<br />
baila quem quiser!<br />
Quem não esfolha milho<br />
nunca tem mulher!"<br />
Por entre essas músicas e cantigas, passam os gatos, os<br />
pintos, as galinhas, as bonecas quebradas, os tamancos, os<br />
pianos mudos, e a cara admirada <strong>de</strong> OLHINHOS DE GATO,<br />
mastigando um resto <strong>de</strong> pão.<br />
Passam também outras músicas.<br />
Dentinho <strong>de</strong> Arroz, com voz baixinha, uma voz forrada <strong>de</strong><br />
flanela, murmura limpando os móveis:<br />
"Si já vivíamos todo' na 'pulência,<br />
temo' ago' a mais esta vantag'...<br />
d'spera' no pont' da pacienc'<br />
ô paga' 's trezento' da passag'...