Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
mar..." E a menina fechava os olhos e sorria. Tão bom! E via <strong>de</strong><br />
perto as caixas com figuras luminosas. Passava o <strong>de</strong>do<br />
<strong>de</strong>vagarinho pela extraordinária pedra azul. . . Abanavam-na com<br />
o leque <strong>de</strong> príncipes. . .<br />
A mocinha tornava a dar a volta à chave: "Gostou? É<br />
bonito?" A porta <strong>de</strong> vidro fechava-se.<br />
Iam pisando tapetes macios, afastavam cortinas, e numa<br />
sala um passarinho abria sozinho a porta <strong>de</strong> sua casa, e cantava<br />
para anunciar as horas. E em cima <strong>de</strong> um móvel um negrinho <strong>de</strong><br />
bronze — do tamanho <strong>de</strong>la! — punha na boca uma cometa <strong>de</strong><br />
chifre. Iria tocar? Parecia o agua<strong>de</strong>iro: mas estava <strong>de</strong>spido.<br />
Orelhinha Peluda brincava com os <strong>de</strong>dinhos <strong>de</strong>la: "Cadê o<br />
toucinho que estava aqui?"<br />
Depois, lavaram-lhe as mãos com um sabonete muito<br />
cheiroso. "O gato comeu..." E o gato, e o mato, e o fogo tudo ia<br />
<strong>de</strong>scendo com a água da torneira, pela pia branca. E era tão bom<br />
<strong>de</strong>ixar que as mãos fossem lavadas nessa água tão fresca, com<br />
tanta espuma cheirosa, e enxugadas numa toalha tão macia. . .<br />
Sentaram-na numa almofada, puseram-lhe um guardanapo<br />
pelo peito, e trouxeram para a mesa o prato <strong>de</strong> ovos, que nadavam<br />
em manteiga. Toda a sala se encheu daquele cheiro <strong>de</strong> manteiga<br />
fervente. . . E chamaram: "Eva!" Então, ela estremeceu.<br />
Estremeceu, e perguntou para a mocinha: "É a Eva do Adão?"<br />
Todos se riram: risos frescos, risos discretos, riso pegajoso <strong>de</strong><br />
Orelhinha Peluda, com seu pigarro, "Gqra. . .". A mocinha passou-<br />
lhe a mão pelo rosto, alegremente. E a Eva chegou à porta, "Olha<br />
ali a Eva!" Era gorda, mole, mulata, risonha, e limpava as mãos no<br />
avental.<br />
Como ali era um reino encantado, a mocinha disse-lhe:<br />
"Feche os olhos!" E ela fechou. Passaram-lhe um vidrinho frio pelo