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Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português

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outra: "Vá buscar umas flores para a menina." Chamou a menina<br />

para perto; bateu-lhe na face levemente, com as pontas dos <strong>de</strong>dos;<br />

perguntou-lhe com carinho: "Está boazinha, hein?"<br />

A moça chegou com as flores, a outra voltou com a ban<strong>de</strong>ja<br />

vazia, o grupo retomou seus lugares, todas as moças sorriam, e a<br />

menina saiu com o ramo <strong>de</strong> muitas cores, on<strong>de</strong> havia rosas,<br />

monsenhores, cravinas e amores-perfeitos.<br />

E vieram <strong>de</strong>scendo. E diante da larga paisagem que<br />

<strong>de</strong>scortinava, a menina pensava que seria possível erguer-se no<br />

ar, pisar os telhados, caminhar pelos ramos, atingir as altas<br />

montanhas, estendidas ao longe. O céu era puro, a brisa, leve.<br />

Silêncio e amplidão. Entre as flores, a menina trazia aquela<br />

imagem do terreiro: D. Eroti<strong>de</strong>s e suas filhas. E acordava em seus<br />

ouvidos a cantiga <strong>de</strong> Boquinha <strong>de</strong> Doce, quando, pela manhã, lhe<br />

enrolava os cachinhos:<br />

"Estava a bela Infanta<br />

no seu jardim assentada,<br />

penteando trancas <strong>de</strong> ouro<br />

com seu pente <strong>de</strong> marfim..."<br />

Cá <strong>de</strong> baixo, virou-se para ver a casa, que ficara pequenina,<br />

com o telhado quase rente ao chão.<br />

Sotero."<br />

Dentinho <strong>de</strong> Arroz apontou: "Depois daquela, é a casa do<br />

O Sotero tinha uma barbicha branca e não falava com<br />

ninguém. Às vezes, <strong>de</strong>scia com um saco às costas e um fuzil. Ia<br />

caçar. De noitinha, voltava com as costas vergadas, e umas<br />

formas misteriosas <strong>de</strong>ntro do saco. Estava escuro, não se podia<br />

<strong>de</strong>scobrir o que era. Subia nas pontas dos pés e em ziguezague.

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